Ex-presidente Lula, em 2017, recebe visita de Ciro Gomes e do governador do Ceará, Camilo Santana (PT), no hospital Sírio-Libanês, onde estava internada a ex-primeira-dama, Marisa Letícia. Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula.

O ex-presidente Lula, em recente entrevista ao site UOL, afirmou que o PT precisa ter candidato para enfrentar o presidente Jair Bolsonaro, na disputa presidencial de 2022. Ele não citou o nome de Fernando Haddad, como o fez em oportunidade anterior naturalmente ainda admitindo que uma decisão de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), anulando, sob a alegação de parcialidade do ex-juiz Sergio Moro, a condenação que o incluiu no rol de inelegíveis de que trata a Lei da Ficha Limpa.

Restabelecendo a elegibilidade, como tenta na Suprema Corte, Lula será o candidato da sua agremiação à Presidência da República. É o sonho dele voltar a comandar o País. E é também ele, inegavelmente, o nome mais expressivo político e eleitoralmente do seu partido para a disputa. O ex-presidente, contudo, não quer apenas postular novamente a chefia do Executivo nacional. Ele quer o compromisso de todos os atuais oposicionistas ao Governo Central de que apoiarão o nome daquele concorrente que for para o segundo turno disputar com Bolsonaro.

E é exatamente aqui onde está a esperteza de Lula, defensor de várias candidaturas oposicionistas, sob a alegação da dificuldade de encontrar um nome, dentre os pretensos postulantes, capaz de uni-los. E indaga: “Como você vai escolher o candidato de uma frente ampla, qual o critério?”. De fato, Lula visa unicamente comprometer Ciro Gomes (PDT), o mais contundente crítico das posições petistas e do próprio Lula, desde quando este, preso, inviabilizou uma ampla aliança contra o próprio Bolsonaro, determinando a candidatura de Haddad.

Ciro, em 2018, ao ficar no 3º lugar na disputa presidencial, não emprestou apoio ao petista Haddad, que foi para o segundo turno. Sua irresignação com a posição de Lula, também por ter agido, mesmo preso, para inviabilizar uma coligação do PSB com o PDT de Ciro, sacrificando aliados petistas, notadamente em Pernambuco. Ele ausentou-se do País. O PDT, a contragosto, votou em Haddad, para tentar evitar a eleição de Bolsonaro. Ciro, não está, nos últimos meses, fazendo críticas tão ácidas ao PT e a Lula como fazia, mas não demorará a retomá-las, posto estar sentindo que novamente vai ser Lula o seu principal adversário na busca da consolidação de uma nova candidatura a presidente.

E a proposta de Lula é diretamente para Ciro Gomes, por ser ele o único nome das oposições, no mesmo campo do PT, com mais força política para a empreitada. Evidente que Lula ao falar em oposições não inclui o PSDB, partido também terá candidato, aliado ou não a outras siglas que se opõem a Bolsonaro. Mesmo sob o argumento de ser importante derrotar o atual presidente, muito difícil será esta agremiação apoiar um petista para ser candidato a presidente da República, principalmente se for Lula o nome.

O ex-presidente, guardadas as devidas proporções e motivos, é, como Bolsonaro, o adversário comum de todos os demais partidos políticos brasileiros. Já foi diferente. Mas a intransigência do PT na formação de alianças para dar espaços aos antigos aliados, assim como a ligação de Lula, razão de sua condenação judicial, com a Lava Jato, juntamente com outros correligionários petistas, aumentaram as restrições de tradicionais aliados em disputas anteriores, além de ampliar o distanciamento das demais lideranças políticas do País com os petistas.

Confira o comentário do jornalista Edison Silva sobre as articulações políticas para as eleições presidenciais de 2022: