Os embates entre os parlamentares por motivos religiosos ocorrem na tribuna e redes sociais. Foto: Reprodução.

Devido a apresentação de projetos de cunho religioso, vereadores de Fortaleza e deputados estaduais estão entrando, constantemente, em conflitos tanto na Câmara Municipal quanto na Assembleia Legislativa do Ceará. O embate tem se dado, principalmente, entre os parlamentes ligados a igrejas, os conservadores, e aqueles que defendem a laicidade do Estado, os chamados progressistas.

Na semana passada, dois projetos de autoria de parlamentares do Partido dos Trabalhadores (PT) e Partido Comunista do Brasil (PCdoB) geraram confrontos nas duas casas legislativas. Membros da bancada religiosa, inclusive, foram às redes sociais clamar para que seus seguidores se mobilizem contra as matérias.

O primeiro projeto, de autoria do vereador Evaldo Lima (PCdoB), está tramitando desde o ano passado no Legislativo, e dispõe sobre a liberdade de cátedra para professores da rede municipal de ensino de Fortaleza. Durante votação na comissão de Constituição e Justiça, o relator das emendas ao projeto original, Didi Mangueira (PDT), apresentou parecer contrário a todas.

Jorge Pinheiro (DC), autor das emendas polêmicas, afirmou que a negação às suas sugestões abre espaço para o ensino da chamada “ideologia de gênero” nas escolas municipais de Fortaleza. Evaldo Lima, por sua vez, também foi às redes sociais reclamar das críticas feitas e esclarecer que seu projeto não trata sequer deste tema.

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“Tenho sofrido ataques de gente sem escrúpulos por conta de mentiras inventadas envolvendo o projeto de Lei de minha autoria que dispõe sobre a liberdade de cátedra. Devido a uma não aprovação de emendas que desvirtuariam por completo a minha proposta, a vereadora Priscila Costa e seus correligionários inventaram e compartilharam a fake news de que a matéria legislativa aborda ‘ideologia de gênero”, disse Evaldo Lima em suas redes sociais.

Em resposta ao colega, Priscila Costa (PRTB), que é evangélica, apresentou um vídeo em que denuncia suposto ensino da chamada ideologia de gênero em escola de Fortaleza “Depois de nossa forte denúncia incomodar os que detêm o poder, nos chamam de Fake News por proteger nossos filhos! Mexeram com mães e não vamos nos intimidar”, disse ela.

Evaldo, por sua vez, afirmou que em seu projeto “não há uma linha sequer sobre esta tal temática. O projeto de Lei visa objetivamente garantir o ensino livre de violências e perseguições aos professores na sala de aula”.

Odécio Carneiro (SD), que também é evangélico, afirmou que a “permissão para ensino de ideologia de gênero nas escolas de Fortaleza é aprovada na CCJ”“Agora, nossa batalha será no plenário. Faça sua parte: compartilhe este vídeo, compareça na votação e divulgue a hashtag #DitaduraDeGêneroNão”, afirmou o parlamentar durante uma transmissão nas redes sociais.

Com o fim da tramitação da proposta na Comissão de Constituição e Justiça, o projeto já está pronto para ser votado em plenário. No entanto, ele só tramitará com a autorização do presidente da Casa, Antônio Henrique (PDT), que também é evangélico.

Bíblia

Na Assembleia Legislativa, Dra. Silvana (PL) criticou na tribuna da Casa e levou até as redes sociais os nomes dos quatro autores do projeto de Lei (Elmano de Freitas, Acrísio Sena, Fernando Santana e Moisés Brás) que pune discriminação por motivação religiosa. A parlamentar, que frequenta a Igreja Assembleia de Deus, tem travado uma cruzada contra os parlamentares de esquerda na Casa, em especial os petistas, que são autores dessa proposta em questão.

“Diante de tantas iniciativas que atacam a nossa fé cristã, de forma explícita ou disfarçada, eu não me calarei. O meu mandato tem o selo do Senhor Jesus e não serei uma voz que clama no deserto, pois a maioria do nosso povo rechaçou pelo voto aqueles que insistem em práticas que visam desconstruir os valores formadores da nossa sociedade que têm a Bíblia como regra de fé e prática”, afirmou a deputada.

“Satanás”

Apóstolo Luiz Henrique (PP) também foi à tribuna e às redes sociais rebater o projeto dos petistas. Segundo ele, o projeto “é uma farsa” e quer penalizar padres, pastores e qualquer outra pessoa que não permita determinado ato em ambiente cristão, por exemplo. “Fica meu apelo aos padres, pastores, síndicos de prédios, os empresários, comerciantes e cidadãos do bem. Vamos lutar! Satanás, nós te repreendemos em nome do senhor Jesus”, esbravejou.

Elmano de Freitas, por sua vez, publicou uma enquete em sua página. Lá, ele fez o seguinte questionamento: “Uma pessoa que quebra a estátua de Nossa Senhora, você concorda ou exige respeito?”

O petista disse que uma pessoa não pode ser discriminada apenas por ter escolhido determinada religião. “Queremos preservar o direito de fé do nosso povo, a sua crença, e evitar que tenhamos intolerância. O importante é que nós tenhamos respeito a todas religiões”, defendeu Elmano.