Até sobre da segurança da urna eletrônica há desconfiança, mesmo depois que questionamentos isolados tenham sido desmascarados. Foto: TRE/CE.

Equivocadamente, ainda nos dias atuais, muitos brasileiros evitam qualquer participação ativa no mundo político-partidário sob o argumento de ser este um ambiente pernicioso. Evidente, pelos exemplos testemunhados, realmente o fazer política hoje é bem diferente daquele, de um passado não muito distante, quando o homem público por se fazer respeitar era respeitado, e os crimes contra a administração pública eram praticamente inexistentes, diferentemente de agora quando os escândalos pululam. E não se atribua ao fato de as facilidades de comunicação explicitarem as diferenças entre o ontem e hoje.

Mas a falta de um maior número de brasileiros, qualificados, com espirito público e comportamento ético, atuando nas casas legislativas e nos diversos outros espaços da administração pública, sem dúvida contribui para a realidade atual, daí ser equivocada a decisão de não participarem desse significado espaço de poder. Se presentes estivessem, óbvio que menos inescrupulosos estariam cometendo os delitos que vitimam diretamente a população agora, e, pior, no futuro, posto aumentar a extensão do fosso que amedronta aqueles temerosos de serem confundidos com os que decepcionam por seus comportamentos menos dignos.

E mais, embora as Instituições continuem sendo maiores que seus integrantes, elas, lamentavelmente, estão sendo desacreditadas por ações, digamos, vexatórias, proporcionadas por alguns dos que as dirigem. Ora, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, autorizou para esta quarta-feira (19) uma busca e apreensão em próprios do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e no seu gabinete na Esplanada dos Ministérios, sem o conhecimento de integrantes do Ministério Público Federal, autores das ações penais no âmbito da Justiça Federal.

E, pior, essa importante Instituição, hoje apontada como subordinada ao presidente da República, por conta da vinculação do seu chefe com o presidente, não teria sido informada para acompanhar a busca e apreensão, como acontece em todas as demais ordens dadas à Polícia Federal, pela possibilidade de ser responsável por algum vazamento que prejudicasse a ação contra o ministro de Bolsonaro, assim como dos outros incluídos na mesma investigação. Então, salva-se a Polícia Federal como o órgão livre de qualquer suspeita de práticas tendenciosas?

Lamentavelmente, não. E por isso, alegam alguns: não figura na relação dos principais auxiliares do trabalho da CPI da Pandemia no Senado, pois o alinhamento da sua direção com o Governo Bolsonaro, o principal investigado na CPI, gera suspeita de o seu ou seus representantes na CPI informarem aos governantes da estratégia de investigação dos senadores. Estes, segundo se informa, estão mais apoiados nos técnicos do Tribunal de Contas da União. Não é bom para o País esse nivelamento por baixo que brasileiros fazem de todos os exercitantes de cargos e funções públicas. Há políticos e servidores muito sérios.

Agora, até sobre da segurança da urna eletrônica há desconfiança, mesmo depois que questionamentos isolados tenham sido desmascarados. Há 25 anos utiliza-se, no processo de votação no Brasil, as  urnas eletrônicas, mas agora, sem qualquer indício de caso ou casos plausíveis, defendem, alguns, que ela registre o voto também impresso sob a alegação de o resultado poder ser auditado. O presidente Bolsonaro é o principal defensor da impressão do voto pela urna eletrônica, alegando, como fazia o ex-presidente norte-americano Donald Trump, em outras circunstâncias (o sistema de votação americano é por cédula, preenchida pelo próprio eleitor, que pode votar pelos correios), prevendo antecipadamente sua derrota.

A Constituição brasileira, no inciso LVII do Art. 5° diz que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”, mas, por negativos exemplos saídos da esfera pública, este dispositivo é letra morta. Pela desconfiança generalizada ora experimentada, muito prejudicial à Nação, até os limpos estão sendo condenados. Hoje, sem qualquer dúvida, o restabelecimento da confiança é o de que mais precisamos.

Jornalista Edison Silva comenta o clima de desconfiança dentro da administração pública brasileira: