Durante o primeiro expediente, o plenário tinha poucos parlamentares, mas policiais já lotavam as galerias da Assembleia. Foto: Marcelo Bloc/Blog do Edison Silva.

Centenas de policiais militares lotaram as galerias e corredores da Assembleia Legislativa, nesta quinta-feira (05), cobrando reajuste salarial por parte do Governo do Estado para a categoria, inclusive ameaçando paralisação das atividades, caso isso não ocorra.

Cartazes expostos afirmavam que a PMCE tem o segundo pior salário do Nordeste. Durante os pronunciamentos dos deputados no plenário, os presentes fizeram diversas manifestações, por vezes entoando a frase: “Se não reajustar, a polícia vai parar!”.

Vaias

Quando o deputado Elmano Freitas (PT) fez seu pronunciamento, os manifestantes aumentaram o tom das críticas. O petista afirmou concordar que o reajuste salarial destes profissionais precisa ser tratado, assim como a necessidade de se debater a reforma de quartéis. “No momento adequado estes debates virão à tona, especialmente na discussão do Orçamento do Estado para 2020. Nesta ocasião, vamos discutir efetivamente qual o reajuste se dará para a categoria”, salientou. Elmano chegou a ser vaiado em alguns momentos e afirmou que muitos ali são aliados do presidente Bolsonaro, seu adversário político.

Aplausos

Na sequência, foi a vez do deputado Soldado Noelio (PROS) fazer seu pronunciamento. Tendo sempre em pauta o reajuste para os servidores, em especial os policiais, além de ser um dos organizadores da manifestação desta quinta, Noelio foi bastante aplaudido pelos presentes nas galerias do Plenário 13 de maio.

Aplaudido durante pronunciamento, Soldado Noelio prometeu novas manifestações da categoria. Foto: Marcelo Bloc/Blog do Edison Silva.

Como esperado, o deputado reivindicou reajuste salarial para os policiais militares e bombeiros do estado do Ceará. Ele desafiou o governador Camilo Santana a tomar ciência do salário de um policial militar do Estado e comparar ao pago pelo governo do Maranhão. “Sabe quanto o governador que é aliado do Camilo Santana paga aos policiais do Maranhão? R$ 1.500 a mais que ele. São cinco anos encolhendo o salário desses profissionais que não estão pedindo nenhuma regalia, apenas o que lhe é de direito”, apontou.

O deputado relembrou a paralisação da categoria no ano de 2011, onde foi assinado um acordo no qual o Governo do Estado se comprometia em reajustar o salário da categoria, porém, segundo ele, só foi paga a primeira parcela. “O Estado deu um calote em seus policiais. Além disso, desde 2015 as associações apresentaram tabelas de salários que não são cumpridas”, reclamou.

Soldado Noelio informou que a vinda da categoria à Assembleia nesta data foi apenas a primeira de muitas, e que a quantidade de policiais e bombeiros que virá na próxima vez, tende a aumentar, caso o Governo do Estado não atenda.

 

 

 

 

> Noelio cobrou efetividade ao Governo do Estado quanto à melhoria dos salários. Ouça:

Ato político

Já presente nos corredores da Casa, o deputado federal Capitão Wagner (PROS), pré-candidato à Prefeitura de Fortaleza, aproveitou o pronunciamento do colega Noelio para entrar no Plenário. Saudado oficialmente, como de praxe, pela Mesa Diretora, Wagner foi muito aplaudido pelos policiais nas galerias, aos gritos de “prefeito”. Estavam presentes no plenário da AL, ainda, o vereador de Fortaleza, Sargento Reginauro, além do ex-parlamentar, Cabo Sabino.

Apartes da oposição

Alguns deputados de oposição aproveitaram o discurso de Noelio para aparteá-lo, recebendo também calorosos aplausos dos manifestantes. O deputado Vitor Valim (Pros) pediu que o governador se espelhasse em outros governadores de esquerda que valorizam os profissionais de segurança pública. “Gasta milhões com o acquário e esquece de quem se arrisca todo dia. Se não querem paralisação, atendam a essa categoria”, alertou.

A deputada Fernanda Pessoa (PSDB) declarou seu apoio à categoria. “Se não fossem nossos policiais e bombeiros, quem nos daria segurança? Colocam a vida em risco todos os dias e precisam ser valorizados, tanto na questão salário quanto na saúde”, afirmou. Já o deputado André Fernandes (PSL) parabenizou o colega Soldado Noelio pela defesa da categoria. “Não vamos baixar a cabeça. Tem que ter reajuste para a tropa sim”, defendeu.

Tabela como referência

Em conversa com o Blog do Edison Silva, Soldado Noelio afirmou que o governo estadual diz ser defensor do diálogo, mas “conversa sem ação é falsidade”. Ele afirmou que a categoria já acumulou perda de cerca de 30% do salário, pela falta de reajustes. “Um soldado no Ceará ganha R$ 3.200, enquanto no Maranhão ganha R$ 5.000. As associações envolvidas construíram uma tabela de reajuste com referência em outros estados. Nela, pede que o salário de um soldado passe para R$ 4.700, menos do que ganha um soldado maranhense, por exemplo”, exemplificou.

Reajuste em 2020

Em resposta às manifestações, o líder do Governo na Casa, deputado Júlio César Filho (Cidadania) afirmou que o governador criou uma comissão para estudar o impacto financeiro de um eventual reajuste. Segundo ele, essa comissão já fez os estudos e, em breve, o governador irá anunciar qual reajuste ele poderá dar para os agentes de segurança pública.

“Pedimos o bom senso. Não adianta tensionar, até porque, através do governo Camilo, a Polícia Militar vem tendo várias conquistas e vai ter mais conquistas ainda. Nós estamos fazendo os estudos ainda para ver quanto é que a gente pode dar, lembrando que o Estado do Ceará é um dos únicos que não atrasaram um dia sequer o salário do servidor público. Não adianta a gente sair dando aumento e, daqui alguns meses, atrasar o salário. A gente tem que fazer a coisa com responsabilidade, com cuidado, para que passe longe a possibilidade de algum descontrole nas contas públicas”, argumentou, admitindo que o reajuste virá apenas em 2020.

Diálogo

Capitão Wagner foi recebido pelos manifestantes aos gritos de ‘prefeito’. Foto: Marcelo Bloc/Blog do Edison Silva.

 

O deputado federal Capitão Wagner afirmou ao Blog que, com diálogo, é possível que se chegue a um denominador comum. “É necessário que sentem, as associações, os representantes políticos com o governo, e cada um dê seu ponto de vista. Nessa contra-argumentação, eu acho que dá para chegar em um denominador comum. A categoria tem respeito ao Governo do Estado, tem respeito à Assembleia e, logicamente, a intenção aqui é chamar atenção para a insatisfação da categoria, que pode ser resolvida com esse diálogo”, defendeu.

 

 

 

 

 

> Wagner diálogo entre associações e o governo para a melhoria salarial dos policiais. Ouça:

 

 

Após os pronunciamentos no plenário, policiais reuniram-se nos corredores da Assembleia, comandados por Capitão Wagner e Soldado Noelio. Foto: Marcelo Bloc/Blog do Edison Silva.