Deputada Fernanda Pessoa afirmou que Governo do Estado esconde que as obras são feitas com verbas federais. Foto: Blog do Edison Silva.

O que parecia ser mais uma sessão plenária esvaziada e tranquila, como tem sido o padrão nos últimos tempos na Assembleia Legislativa, acabou por se tornar um amplo debate entre apoiadores e opositores do governador Camilo Santana. O embate chegou a ficar acalorado e a sessão plenária desta terça-feira (26) foi finalizada já próximo das 15h.

Três deputados opositores, Fernanda Pessoa (PSDB), Delegado Cavalcante (PSL) e André Fernandes (PSL), revezaram-se na tribuna da Casa para criticar a liberação do trânsito no viaduto da CE-060 sobre o Anel Viário e a destruição de parte da estrutura da Capela Nossa Senhora das Graças, localizada em Maracanaú, para a realização das obras de duplicação do Anel Viário.

Fernanda Pessoa afirmou que Camilo Santana divulgou vídeo acompanhando a liberação do tráfego de veículos pelo viaduto da CE-060, porém, em nenhum momento citou que a obra teve recursos do Governo Federal. “O Governo Federal mandou recurso, enviou um cronograma para ser seguido, não atrasou verba, mas nada disso foi reconhecido. A liberação da via inclusive foi feita sem a autorização do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e isso é absurdo”, afirmou.

A deputada cobrou ainda uma prestação de contas por parte do Governo do Estado quanto aos recursos recebidos para as obras da CE-060. “É uma obra muito importante e precisamos prezar pelo povo. Houve muita pressa na entrega e queremos ver o cronograma, as contas e a estrutura que ainda falta fazer”, assinalou.

Deputado Delegado Cavalcante criticou demolição de parte de uma capela em Maracanaú. Foto: ALECE.

Em aparte, os deputados Delegado Cavalcante e André Fernandes salientaram que não são contra a inauguração, mas lamentaram a rápida entrega da estrada sem seguir o cronograma enviado pelo Governo Federal. Os parlamentares afirmaram que a obra está inacabada, o que gera insegurança aos motoristas e pedestres que passam pelo local. “Não somos contra a obra, mas houve falta de feedback, houve esquecimento de falar sobre quem liberou a verba para a obra. O governo errou, a construtora errou. Ele liberou uma obra, quebrando um convênio e colocando a população em risco”, reclamou Cavalcante.

Capela

Em seguida, Cavalcante usou do tempo, no segundo expediente, para cobrar respostas ao Governo do Estado quanto à destruição de parte da estrutura da Capela Nossa Senhora das Graças, localizada em Maracanaú.

De acordo com Cavalcante, a demolição do muro da igreja foi realizada pela empresa responsável pelas obras, e até o momento, nem empresa e nem Governo do Estado deram satisfação sobre o ocorrido. “É um total desprezo com a fé cristã, e deveria ter havido uma maior responsabilização sobre isso”, disse.

Líder faz a defesa

Quem usou da palavra na sequência foi o deputado Júlio César Filho (Cidadania), líder do governo na Casa, e adversário político de Fernanda Pessoa em Maracanaú, e aonde mais uma vez deve concorrer à Prefeitura em 2020.

Julinho afirmou que o governador não inaugurou a obra, apenas liberou a via para a passagem de veículos, facilitando o trânsito da população, que já sofre há oito anos com as obras. Ele lembrou que, ainda no governo Cid Gomes, a obra passou para a responsabilidade estadual.

Liderança do Governo tentou acalmar os ânimos entre os deputados. Foto: Blog do Edison Silva.

O líder do Governo também afirmou que Camilo Santana nunca deixou de dar créditos ao Governo Federal pela liberação de verbas, inclusive citando eventos no Estado onde ministros de Bolsonaro estiveram presentes. O parlamentar aproveitou para criticar a adversária política. “Diferentemente do vosso pai, o deputado federal Roberto Pessoa (PSDB), que quando prefeito de Maracanaú, em que a maioria das obras eram em parceria com o Governo Federal, não dava os créditos ao Governo Federal. Pelo contrário, nas eleições para prefeito, colava no presidente Lula; na eleição para presidente o traía e votava em outro candidato” alfinetou.

Sobre a Capela, o líder do Governo falou que aguarda a burocracia ser terminada, com a cessão do terreno da Prefeitura de Fortaleza para a Arquidiocese, para que a construtora responsável possa erguer a réplica da capela, conforme prometido.

Créditos pelas obras

Na sequência, foi a vez do deputado André Fernandes fazer seu pronunciamento. Ele relatou alguns argumentos da liderança do Governo, sem deixar de criticar os colegas da base governista. “Eu parabenizei o Governo Estadual pela adesão às Escolas Cívico-Militares, coisa que a grande maioria é incapaz de fazer quando se trata do governo federal”, afirmou. Para André, o deputado Júlio se contradisse quando admitiu que a maioria das obras estaduais utiliza verba federal.

O petista Elmano rebateu André, lembrando que Bolsonaro aportou recursos apenas para o término da obra no Anel Viário. “O pecado que vossa excelência acusa com tanto afinco, é o que vossa excelência comete ao não lembrar que boa parte dos recursos da obra veio dos governos do PT”, acusou, acrescentando que os recursos enviados da União para o Ceará têm diminuído neste ano.

Clima esquentou

Acrísio Sena subiu o tom em defesa do governador Camilo Santana. Foto: ALECE.

Até então, os parlamentares seguiam, mesmo discordando, em tom ameno de voz. A coisa mudou no pronunciamento do deputado Acrísio Sena (PT). O petista subiu o tom em defesa do governador, afirmando que, seja nas redes sociais ou na tribuna, André se porta de forma desrespeitosa ao se referir a Camilo. “Em nenhum momento foi inaugurada a obra. Vossa excelência costuma trabalhar com má fé”, afirmou Sena.

Exaltado, André pediu aparte, o que lhe foi negado por Acrísio. Enquanto o parlamentar do PSL gritava com microfones desligados, o petista seguiu criticando o colega. “Vossa excelência teve a coragem de pedir desculpas ao companheiro Nezinho, mas não teve a coragem de apagar a postagem e nem postar o pedido de desculpas nas redes sociais”, afirmou, dizendo que usar Fake News é a ‘marca do mandato’ de André, a quem chegou a chamar de ‘moleque irresponsável’.

“Temos que agir com bom senso e com decoro. Isso que vossa excelência faz atacando o governador, é mais uma vez o que fez com Nezinho, é mais uma vez falta de decoro. Não aceitamos se utilizar o governador Camilo Santana como escada para poder se promover. Amanhã a gente se vê no Conselho de Ética”, concluiu.

Panos quentes sem efeito

O deputado Júlio César Filho voltou a se pronunciar, pregando a calma entre os colegas. “Precisamos ter calma no debate, precisamos tentar debater as diferenças políticas em um nível em que possa, até, ser compreendidas pela população. Não foi uma inauguração, foi apenas uma liberação do trajeto”, reiterou.

André Fernandes afirmou que ‘ser xingado por petista é elogio’. Foto: ALECE.

De volta, agora no tempo de explicações pessoais, André Fernandes voltou a subir o tom de voz. Criticou o deputado Acrísio Sena por chamá-lo de moleque. “Quando falei assim, eu pedi desculpas ao deputado Elmano e pedi para retirar da taquigrafia da Casa”, reclamou, lembrando de uma antiga discussão com Elmano.

No entanto, o parlamentar debochou. “Ser xingado por deputado do PT é elogio”. Ele lembrou que Acrísio dissera que o encontraria no Conselho de Ética da Casa. “Isso é uma ameaça? Para variar, mais um petista abrindo a boca para falar merda”, concluiu.

Ao final da fala de André, Delegado Cavalcante pediu verificação de presença. Como não havia quórum suficiente, a sessão foi encerrada, não sem antes a deputada Augusta Brito (PCdoB), que comandava a sessão, brincar com o delegado. “E eu achei que vossa excelência havia dito que ficaria hoje até às cinco da tarde”.