Adail Júnior, vice-presidente, perguntou quem era Mariana Lobo para querer intervir na Câmara Municipal. Foto: CMFor.

Os vereadores conservadores da Câmara Municipal de Fortaleza subiram o tom contra a defensora pública, Mariana Lobo, por Nota Técnica na qual ela se coloca contrária a projetos tramitando na Casa contra o compartilhamento de banheiros entre pessoas de gêneros diferentes.

Durante a sessão ordinária desta quinta-feira (11), a defensora pública foi chamada de “cara de madeira” pelo vice-presidente do Legislativo da Capital cearense, Adail Júnior (PDT), e teve o documento rasgado pelos vereadores Carmelo Neto (Republicanos) e Julierme Sena (PROS), autores das propostas contestadas.

A confusão ainda remete às placas instaladas em banheiros dos Cucas de Fortaleza contra a transfobia. Os vereadores Julierme Sena e Carmelo Neto apresentaram projetos proibindo o compartilhamento desses espaços por pessoas de gêneros diferentes.

Diante disso, a Defensoria Pública no Ceará, através do núcleo dos Direitos Humanos, emitiu Nota Técnica, assinada por Mariana Lobo e Tulio Iumatti Ferreira, afirmando que os textos dos parlamentares são inconstitucionais.

O vereador Jorge Pinheiro (PSDB), que tem encabeçado uma luta contra o que ele chama de “ideologia de gênero”, criticou a Nota da defensora e destacou que o controle da constitucionalidade dos projetos caberá aos parlamentares. Ele ainda reclamou de seus pares que criticam a discussão do tema no Plenário Fausto Arruda, mas que vão solicitar apoio de outros órgãos para suas pautas. “Ideologia de gênero aqui em Fortaleza, não”, pontuou.

Márcio Martins (PROS) destacou que caberia aos membros da Mesa Diretora se posicionarem sobre os projetos e não a Defensoria Pública.

O vice-presidente da Casa, Adail Júnior, demonstrou irritação com a Nota Técnica e partiu para o ataque contra a defensora. “Já pensou? Isso aqui é para a gente rasgar na tribuna para ela respeitar as caras. Olha a cara de pau de uma defensora dessa. Essa defensora, cara de madeira, quer ter suas opiniões, diga nas redes sociais”, disparou.

“Ela que fique na Defensoria dela e respeite o parlamento municipal, respeite os vereadores. Quem é Mariana Lobo para intervir no Parlamento? Quanto mais intervir, mais fala venho fazer na tribuna para dizer que ela não está certa. Essa Casa não ficará subordinada a defensor público” – (Adail Júnior)

O vereador Carmelo Neto, autor de um dos projetos, obedeceu e rasgou a nota na tribuna da Casa e disse que produzirá uma nota técnica embasando a constitucionalidade da sua proposta, que deve ser encaminhada, segundo disse, para a Defensoria. “É muita infantilidade dessa senhora, um desrespeito a todos os 43 vereadores. Não tenho respeito nenhum a essa nota. É uma nota ideológica que defende banheiros trans”, disse.

Veja trecho do discurso de Carmelo:

Coube à vereadora Adriana Nossa Cara, do PSOL, fazer a defesa da nota e da defensora Mariana Lobo. Ela destacou a trajetória da servidora e o trabalho que tem feito junto ao núcleo de atendimento para pessoas vítimas de violência. A parlamentar lembrou, ainda, que mais de um defensor assinaram o documento, mas que apenas Mariana foi atacada por ser mulher. Adriana também chamou seus pares de “machistas”.

O vereador Julierme Sena também se manifestou. Veja: