Pastor Alcides Fernandes faz oração durante culto realizado na Assembleia Legislativa. Foto: Reprodução/Instagram

No passado a predominância de religiosos na política era dos católicos. Os padres eram maioria em todos os espaços da política. De um certo tempo para cá a Igreja Católica começou a fazer restrições para que padres disputassem mandatos eletivos e a representação foi diminuindo, chegando ao ponto de hoje, nenhum padre de Dioceses cearenses ter mandato na Assembleia Legislativa e nem na Câmara dos Deputados. O último deputado federal cearense padre, foi José Linhares. Os dirigentes da Igreja Católica perceberam o desgaste que os padres políticos  estavam levando para a religião. E aí foi o momento de surgirem os protestantes ou evangélicos. Hoje eles foram até numerosas bancadas na Câmara dos Deputados e nas demais casas legislativas estaduais.

Não é de hoje que as pautas tidas como conservadoras têm dado o tom de embates nas casas legislativas. Agora, no entanto, com a ascensão cada vez mais frequente de evangélicos na Câmara Federal, assembleias legislativas e câmaras municipais temas relacionados a costumes vêm dominando os debates em seus devidos plenários. O Blog do Edison Silva fez um levantamento e verificou que esse movimento de “evangelização” no Parlamento tem seus representantes cearenses, que, apesar de não serem maioria, fazem muito barulho em defesa de suas demandas.

Esse fenômeno vem acontecendo há pelo menos duas décadas. Não que no passado não foram eleitos vereadores, deputados estaduais e deputados federais ligados a igrejas evangélicas. No entanto, esses parlamentares, outrora com discurso tímido na tribuna, passaram a impor, cada vez com mais firmeza, que questões ligadas à religião sejam pautadas no parlamento.

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Na Bancada Cearense na Câmara Federal, dos 22 deputados federais, alguns se denominam como evangélicos, mas não pautam o tema como primordial em suas propostas. Outros, ao contrário, fazem questão de ressaltar as origens religiosas. No grupo dos evangélicos estão os bolsonaristas André Fernandes (PL), Dr. Jaziel (PL), que é pastor; e Dayany do Capitão, do União Brasil.

Parece um número reduzido, mas por algum tempo, a Bancada Cearense teve como representante religioso apenas Padre Zé Linhares, que foi eleito para os pleitos de 2006 e 2010. Em 2002, há mais de duas décadas, o principal representante dos evangélicos eleito pelo Ceará foi Moroni Torgan, que chegou a ser presidente dos missionários da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, ou “Igreja Mórmon”

Em 2018, ano de ascensão do bolsonarismo no Brasil, o Ceará elegeu alguns deputados ligados a igrejas evangélicas. Foram eles: Capitão Wagner pelo PROS, Heitor Freire, pelo PSL, e Dr. Jaziel, pelo então PR. Em 2014, os representantes de religiões cristãs eram Moroni e Ronaldo Martins, até então no PRB.

Na Assembleia Legislativa, esse fenômeno tem sido sentido com mais frequência, visto a atuação de seus representantes. Em 2022, foram eleitos alguns representantes dos evangélicos na Casa, dentre os quais Dra. Silvana (PL), Pastor Alcides (PL), Pastor David Durand (Repu), Apóstolo Luiz Henrique (Repu) e Oscar Rodrigues (UB), que há duas semanas destacou suas origens evangélicas, quando disse que pode respeitar a homossexualidade, mas não concordar com sua existência.

Oriundos da Câmara Municipal de Fortaleza, Sargento Reginauro (UB) e Antônio Henrique (PDT) também levantam a bandeira do conservadorismo na Assembleia, sendo que Henrique é presbítero de igreja evangélica.

Em 2018 representaravam a causa evangélica na Assembleia Legislativa os deputados André Fernandes, Érika Amorim (PSD), Dra Silvana, David Durand e Apóstolo Luiz Henrique. Por outro lado, representando a Igreja Católica, estavam Walter Cavalcante, então no MDB, que levava muitas demandas de fieis através de propostas protocoladas na Casa, e Delegado Cavalcante.

Apoio das igrejas

Em 2014 eram dois os católicos com pautas ligadas à Igreja. Além de Walter Cavalcante, o ex-deputado Carlos Matos, membro da Comunidade Católica Shalom, também dava coro às pautas do segmento. Naquele ano, representantes fiéis da igreja evangélica eram apenas Dra. Silvana e David Durand. Há pouco mais de duas décadas, em 2002, foram eleitos com base no apoio de suas denominações religiosas os então deputados estaduais Ronaldo Martins e Dr. Jaziel.

A presença de evangélicos na Câmara Municipal de Fortaleza tem sido bem mais expressiva. Em 2020, só para se ter uma ideia, foram eleitos com base no apoio das igrejas os vereadores Ronaldo Martins (esse com quase 32 mil votos), Antônio Henrique, que chegou a presidir a Casa Legislativa, Priscila Costa (5ª maior votação), Gardel Rolim (PDT), que é o atual presidente da Mesa Diretora, Elpídio Nogueira (PDT), irmão do prefeito Sarto, Tia Francisca (PL) e Estrela Barros (Rede). De representante fiel da Igreja Católica somente Jorge Pinheiro, atualmente no PSDB.

Cristãos

Em 2016, o número de evangélicos também foi relevante. Naquele ano foram eleitos Antônio Henrique, Elpídio Nogueira, Mairton Félix, Odécio Carneiro, Priscila Costa e Gardel Rolim. Em 2012 eram Capitão Wagner, Antônio Henrique, Gelson Ferraz, Elpídio Nogueira, Carlos Dutra, Mairton Félix e Germana Soares.

Em 2004, há cerca de duas décadas, os evangélicos eleitos para a Câmara Municipal de Fortaleza foram Gelson Ferraz, que levava pautas relacionadas à igreja e Elpídio Nogueira. Walter Cavalcante, por sua vez, era o representante da Igreja Católica na Casa, assim como a então vereadora Fátima Leite, que tinha como lema “a política em defesa da vida e dos valores cristãos”.

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