O presidente da República Jair Bolsonaro e a Primeira-dama do Brasil , Michelle Bolsonaro, participam do Desfile cívico-militar de 7 de Setembro de 2022 e comemoração do Bicentenário da Independência do Brasil. Foto: Reprodução

Em comparação com os discursos feitos na mesma data do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro (PL) baixou o tom das críticas ao Supremo Tribunal Federal em suas falas no Rio de Janeiro neste 7 de setembro. Seus seguidores, contudo, deixaram claro que consideram a Corte e seus ministros os maiores inimigos de Bolsonaro, ao lado do ex-presidente Lula.

O discurso do presidente em Copacabana, Zona Sul do Rio, foi construído para mostrar a apoiadores que ele merece mais um mandato. Ou seja, com afirmações de que “acabou a corrupção”, de que não irá legalizar o aborto ou as drogas, de que sua gestão “botou um fim nas invasões do MST” e de que o mundo “inveja” a economia do Brasil.

Bolsonaro insinuou que o Supremo age contra seu governo. “Esperem uma reeleição para vocês verem se todos não vão jogar dentro das quatro linhas da Constituição. Fizemos a campanha com João 8,32: ‘Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará’. Depois passamos por outra passagem bíblica, que diz ‘Por falta de conhecimento, seu povo pereceu’’ Hoje vocês sabem também como funciona a Câmara dos Deputados, sabem como funciona o Senado Federal. E sabem também como funciona o Supremo Tribunal Federal.”

A menção à Corte gerou a mais estrondosa vaia proferida por apoiadores na manifestação. Os gritos foram mais entusiasmados do que nos momentos em que o presidente disse que esquerdistas não têm argumentos e quando declarou ter maus modos, mas ser honesto: “Não sou muito bem-educado, falo palavrões, mas não sou ladrão”.

Bolsonaristas contra o STF

Mesmo que Bolsonaro tenha pisado no freio quanto aos ataques ao Supremo, seus seguidores deixaram claro que a Corte e seus ministros são seus inimigos capitais.

Em uma Copacabana repleta de militares, motoqueiros e pessoas de meia e terceira idade, era possível ver gente com cartazes afirmando “Supremo é o povo” e “Impeachment de Alexandre de Moraes já”.

Um painel suspenso por um guindaste prestava solidariedade aos oito empresários que foram alvo de buscas a mando de Alexandre, pela suposta participação no financiamento de atos antidemocráticos. “O uso do poder deve produzir respeito, e não medo. Onde está nossa liberdade?”, questionava o banner.

Supostamente emulando a Morte, do filme O sétimo selo, de Ingmar Bergman, um bolsonarista estava dentro de uma cela – que tinha um uniforme de presidiário, com listras pretas e brancas penduradas nas grades -, trajando algo que poderia ser uma túnica ou uma toga e usando uma máscara de Alexandre de Moraes. No centro, havia uma mesa de xadrez.

A Morte, na película, aparece para levar um cavaleiro que retornou das Cruzadas, na Idade Média, e encontrou sua terra devastada pela peste. O cavaleiro a desafia a uma partida de xadrez com o objetivo de ganhar tempo e a questionar sobre o sentido da vida e de sua finitude.

Mas havia ataques a ministros mais diretos – e baixos. Seguidores do presidente levaram um caixão com as fotos, do lado de fora, de Alexandre, Luís Roberto Barroso e Luiz Edson Fachin.

Baixou o tom

No 7 de setembro de 2021, Jair Bolsonaro foi bem mais direto e agressivo nos ataques ao Supremo Tribunal Federal. Em falas em Brasília e São Paulo, o presidente ameaçou o STF, especialmente o ministro Alexandre de Moraes, e prometeu não aceitar medidas, ações ou sentenças que venham do que chamou de “fora das quatro linhas da Constituição”.

Alexandre é um alvo preferencial do bolsonarismo. Afinal, é o relator dos inquéritos que investigam atos antidemocráticos e campanhas de desinformação na internet e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral nas eleições de 2022.

Pouco antes do Dia da Independência do ano passado, em 20 de agosto, Bolsonaro havia pedido ao Senado o impeachment de Alexandre de Moraes, medida que foi repudiada pelo Supremo Tribunal Federal e pela OAB, e rejeitada pelo presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM/MG), para quem não existem fundamentos para impeachment contra ministros do STF.

Em São Paulo, Jair Bolsonaro anunciou que não cumpriria decisões proferidas por Alexandre de Moraes. “Ou esse ministro se enquadra ou ele pede para sair. Não se pode admitir que uma pessoa apenas, um homem apenas, turve a nossa liberdade. Dizer a esse ministro que ele tem tempo, ainda, para se redimir. Tem tempo, ainda, de arquivar seus inquéritos”, disparou.

O presidente, que se definiu como um democrata que age “dentro das quatro linhas da Constituição”, também voltou a atacar o sistema eleitoral, uma batalha perdida em agosto, quando o Congresso derrubou a proposta de emenda à Constituição que previa a adoção do voto impresso junto da urna eletrônica.

“Não é uma pessoa do Tribunal Superior Eleitoral que vai nos dizer que esse processo é seguro e confiável”, afirmou, em referência ao então presidente da Corte, ministro Luís Roberto Barroso.

“Não podemos admitir um ministro do TSE também usando a sua caneta para desmonetizar paginas que criticam este sistema de votação”, apontou, em referência ao ministro Luís Felipe Salomão, corregedor-geral da Justiça Eleitoral. Em agosto, Salomão havia determinado a suspensão do repasse de valores de monetização de redes sociais a canais e perfis dedicados à propagação de desinformação sobre o sistema eleitoral brasileiro. Isso por constatar que os investigados vêm obtendo vantagens financeiras por meio de reiterados ataques infundados.

E por fim Bolsonaro avisou: “Não posso participar de uma farsa como essa patrocinada ainda pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral”.

Fonte: site Conjur