Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado.

Disse o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, sobre o incidente na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, resultando em nota do Ministério da Defesa, na última quarta-feira (7): “É hora de ponderação. Nós só vamos superar definitivamente (o ou os problemas) se houver menos valentões e mais gente de bom senso”. A advertência de Pacheco, por certo, não serve apenas para os discursos inflamados no ambiente da CPI, e os que contra eles se insurgem, mas também para as bravatas do presidente Jair Bolsonaro, sobre a investigação respectiva e as próximas eleições presidenciais.

As CPIs existem pela inércia ou a renúncia do próprio Parlamento, geralmente de maioria governista, em cumprir uma das obrigações: a de também fiscalizar o Executivo. Como instrumento da oposição, ou das minorias nas Casas legislativas, as CPIs, mesmo não satisfazendo com as suas conclusões às expectativas e interesses de muitos, todas elas revelam-se importantes. A atual, ora em curso no Senado, com o objetivo de apurar ações e omissões do Governo Central quanto ao enfrentamento da pandemia, ainda amedrontando a população brasileira, deparou-se com indícios de corrupção na compra de vacinas. E essa descoberta, mesmo ainda incipiente, já foi capaz de impelir o Governo Bolsonaro a adotar medidas que jamais seriam tomadas não houvesse a CPI conhecido tais indícios de malfeitos.

Há, certamente, excessos de integrantes das comissões de inquérito, tanto para acarretar prejuízos aos responsáveis pela gestão investigada quanto para conquistarem apoios políticos que lhes beneficiem em seus redutos eleitorais. De outro lado tem o discurso contraditório, nem sempre convincente, veemente, também com o objetivo de confundir. Deveria, sim, haver sobriedade de parte a parte. Embora a CPI seja instrumento político, o seu resultado é esperado com grande expectativa, animado pelo seu transcurso, cheio de arroubos, mas, também, de valiosas informações. A advertência do presidente do Senado, pelo todo da CPI e as reações adversas, é deveras prudente.

Os discursos, impropérios e acusações dos “valentões” em nada contribuem para a busca da verdade. O desgaste do Governo em consequência da investigação só estancará quando esclarecidas todas as suspeitas, notadamente a de corrupção com pretensas compras de vacina. E neste momento, o do lançamento da acusação, não vale apenas o “grito” de que no Governo não há corrupção. É preciso provar. E logo. Para o presidente Bolsonaro, politicamente é deveras prejudicial desdenhar da CPI, recusar-se a dar respostas aos questionamentos e continuar com os arroubos e bravatas na tentativa de fugir do problema. A última pesquisa do Instituto Datafolha, conhecida nesta sexta-feira (09), muito desfavorável ao presidente, já pode ser um reflexo da CPI e do comportamento dele em relação às denúncias.

O presidente Bolsonaro, já está provado pelos documentos expostos pela CPI, é responsável pelo atraso na compra de vacinas para imunizar os brasileiros ameaçados e vítimas do vírus que ainda os apavora. Só esta situação já é suficientemente grave. Ao governante cabe antecipar as providências para salvar o seu povo. Retardá-las é crime, potencializado com a multidão de mortos. E quando se vislumbra perspectiva de corrupção no momento da calamidade e em razão dela, mais agravada fica a situação do chefe, mesmo que ele não esteja diretamente ligado ao fato delituoso. O responsável final pelas mazelas de um Governo é o seu comandante.

A CPI da Pandemia ainda produzirá mais desgastes ao Governo Federal. Já rendeu frutos, não tanto quanto poderia, mas em razão dela o brasileiro passou a conhecer situações delicadas e potencialmente criminosas que, sem ela não seriam conhecidas, nem tampouco algumas providências, como afastamento de pessoas responsáveis pela saúde pública nacional, seriam adotadas, confirmando, pelo menos a existência de indícios de irregularidades, sempre negada pelo presidente e aliados.

Veja o comentário do jornalista Edison Silva sobre o tema: