Presidente da Câmara, Rodrigo Maia, acusou o presidente da República, Jair Bolsonaro, de mentir sobre a caducidade da Medida Provisória referente ao pagamento da 13º parcela para o Bolsa Família. Foto: Câmara dos Deputados.

Há registros, não oficiais, de que um deputado estadual, estreante na política, respeitado em seu Município, esbravejou no plenário da Assembleia Legislativa do Ceará ao ouvir um inflamado discurso de um colega contra um dos pares, quando, por mais de uma vez ouviu, do orador, a expressão “Vossa excelência é um ladrão” e o acusado não reagia, como ele esperava. “Não vou ficar aqui ouvindo isso. Onde moro não se chama ladrão de Vossa Excelência”. Ele tinha razão. Os regimentos das Casas Legislativas são feitos para garantir um tratamento respeitoso, condizente com a excelência do ambiente, admitindo-se serem honrados e educados todos os que chegam ao Parlamento, ou aos elevados postos da administração pública, sobretudo os chefes de Executivos.

Portanto, ouvir uma autoridade constituída, da cúpula diretiva de um Poder, acusar o chefe do outro Poder de “mentir”, ser mentiroso, deve causar arrepio a todo e qualquer cidadão defensor do respeitoso tratamento que deve existir entre as pessoas e, em especial, as autoridades. A afirmação feita pelo deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, de que o presidente Jair Bolsonaro mentiu ao responsabilizá-lo pela caducidade da Medida Provisória, em cujo bojo estava a garantia do pagamento de uma 13ª parcela para os beneficiários do Bolsa Família, mesmo sem ser verdade, como realmente ficou provado pelos testemunhos do ministro da Economia, Paulo Guedes, e do líder do Governo na Câmara, deputado Ricardo Barros, foi muito além do tom respeitoso exigido das figuras nacionais, até em seus grandes entreveros.

O silêncio do presidente Bolsonaro, após ser chamado de mentiroso, também decepcionou. Ele, no mínimo, deveria ter vindo a público para pedir desculpa pela acusação infundada, tanto à vítima quanto à Nação, cujo povo precisa confiar e respeitar suas autoridades constituídas. O ambiente democrático tem espaço para o convívio civilizado entre os que se opõem. É salutar a divergência entre os homens públicos, ao contrário da briga, da troca de aleivosias, igualmente deprimentes tanto quanto à descompostura entre mandatários com o dever de dar bons exemplos de educação e de urbanidade, para, respeitando-se mutuamente, merecerem o mesmo dos seus patrícios.

A eleição dos novos dirigentes da Câmara dos Deputados, mais até que do Senado, programada para 1º de fevereiro do próximo ano, pode acirrar mais ainda os ânimos de parte dos integrantes do Legislativo com o chefe do Executivo da República. A tentativa do presidente de querer um presidente da Câmara para chamar de seu vai motivar vários outros embates não republicanos, causando mais prejuízos à população, não apenas pela parcial paralisia da atuação legislativa, mas também pela possibilidade de o Executivo comprometer parte do seu Orçamento para a prática repulsiva da compra e venda de votos, como já se denuncia, embora sem qualquer comprovação.

Flávio Portela Marcílio, o piauiense que representando o Ceará, em três oportunidades (1973/1975, 1979/1981 e 1983/1985) presidiu a Câmara dos Deputados, se vivo fosse, poderia mostrar aos congressistas de hoje como pode ser forte o Poder Legislativo. Ele não foi nomeado pelos generais que tomaram o Governo a partir de 1964 com a deposição do presidente João Goulart. Ao contrário, sobretudo nos dois últimos mandatos de presidente. Ele tinha liderança e, apesar das contingências daquele momento, fortaleceu o Poder. Depois de Flávio Marcílio, só dois deputados federais cearenses ocuparam posição de destaque na Mesa da Câmara dos Deputados, ou mais precisamente, como secretário geral da Casa: Haroldo Sanford e Ubiratan Aguiar.

O jornalista Edison Silva comenta a falta de respeito no linguajar usado entre o deputado Rodrigo Maia e o presidente Bolsonaro por causa da disputa pelo comando da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados: