Audic Mota reclamou do fisiologismo partidário nas eleições deste ano. Foto: ALECE/arquivo.

O retorno das atividades na Assembleia Legislativa, poucos dias após o primeiro turno das eleições municipais, 15 de novembro, fez com que o assunto tomasse conta dos bastidores da Casa. Nos corredores, parlamentares repercutiam entre si as vitórias e derrotas em seus colégios eleitorais. Aos derrotados nas urnas, restaram analisar os motivos do revés sofrido.

Resistência

O deputado Audic Mota (PSB) analisou que, diferentemente do que ocorreu em 2018, não houve em 2020 aquele voto de protesto, um voto mais solto, por assim dizer. “Nessa eleição, certamente o que prevaleceu, fruto da política que foi feita nos últimos dois anos, envolvendo o ‘Centrão’ no contexto nacional, foi um resultado pragmático. Onde tinha força econômica, onde tinha força do partido político, isso prevaleceu. Saiu vitorioso quem tinha mais poderio econômico ou uma força política que estivesse ligada diretamente a algum projeto forte de governo”, analisou.

“Na verdade, houve um fisiologismo que dominou, tanto é que você vê no Estado do Ceará inúmeros municípios em que o PT, por exemplo, estava associado ao DEM, isso como se fosse uma coisa normal. O PCdoB ao PSDB”, exemplificou.

Em Tauá, Audic viu o irmão Dr. Edyr (PP) amargar o terceiro lugar na eleição, com 13% dos votos, atrás do atual prefeito Fred Rego (DEM), com 34%, e da prefeita eleita, a também deputada estadual Patrícia Aguiar (PSD), com 48%.

O parlamentar explicou que a candidatura apresentada era de resistência, por não compactuarem com quem cassou o prefeito aliado eleito em 2016, em acordo com o grupo da deputada Patrícia. “Nós acreditamos que era necessário apresentar uma nova forma. Não permitir jamais a união com a deputada Patrícia, ou mesmo voltar a fazer uma união com quem tinha acabado de nos trair. Então, apresentamos uma candidatura contra um grupo que tem uma tradição e outro que está na Prefeitura, com forças aliadas exclusivamente em nome do poder”, explicou.

Nesse ponto, apesar da derrota nas urnas, Audic diz que a candidatura cumpriu o seu papel. “A missão foi cumprida, o nome foi apresentado. Vai ser trabalhado para os próximos quatro anos e, se Deus quiser, daqui quatro anos nós teremos uma vitória novamente”, concluiu.

Corrupção e decepção

Deputado Carlos Felipe viu seu grupo político ser derrotado em Crateús. Foto: ALECE.

Derrotado nas urnas em Crateús, onde já foi prefeito, o deputado Carlos Felipe (PCdoB) reclamou do que viu durante o pleito municipal e se disse decepcionado.

Segundo ele, a eleição de 2020 teve características próprias. A primeira foi a polarização, tendência que vem da disputa nacional e que costumeiramente não tinha tão grande repercussão em pleitos municipais. Outro ponto, segundo ele, foi a corrupção. “Foi a eleição de mais corrupção que eu vi em minha vida. Nunca houve tanta compra de voto, seja através de contrato, de emprego, de proposta de emprego, de dinheiro. E a gente viu, infelizmente, a incapacidade do Estado, através dos órgãos fiscalizadores, de controlar esse processo de corrupção”, explicou.

Outro ponto apontado por Carlos Felipe foi o que chamou de ‘mapeamento do Estado do Ceará’. “Houve um tutoreamento. As grandes lideranças tutorearam as eleições. Tipo assim, em tal local é para ganhar Sicrano, então em torno dele se juntavam todos os partidos e esvaziavam os demais”, explicou. Para ele, esse tipo de ação prejudicou os partidos com menor força, como o PCdoB.

“Os partidos pequenos são os mais prejudicados. Porque os partidos grandes se juntam em torno de blocos, somam-se e esvaziam os pequenos. Nesse processo só ficam os grandes conglomerados, o que de certa forma é uma derrota para a democracia”, explicou.

O parlamentar mostrou-se pessimista quanto ao futuro. “Eu fico triste, eu vejo com tristeza o processo eleitoral brasileiro. Diante de uma pandemia com muitas mortes, vi muito desrespeito à questão sanitária, muita gente fez carreata, passeata, e uma incapacidade completa dos Tribunais de Justiça e do próprio Ministério Público de conter esse processo com seus decretos sanitários.

Leonardo Araújo preferiu exaltar o tamanho do MDB, mesmo com diminuição do partido no Ceará. Foto: ALECE.

Carlos Felipe, que já afirmou estar decepcionado com algumas questões na Assembleia Legislativa, o que o fez decidir não concorrer mais à reeleição na Casa, afirmou que pensa em desistir da política. “Quem já vê a política com pessimismo, fica pensando seriamente em abandonar, após uma eleição dessa”, concluiu.

O lado bom

Já o deputado Leonardo Araújo (MDB), mesmo diante do encolhimento de tamanho do MDB, tanto no nível nacional quanto estadual, buscou ressaltar vitórias do partido em alguns municípios, além do tamanho que o MDB segue tendo.

“O MDB é um partido que passou por uma desconstrução nacional midiática nos últimos tempos. E essa desconstrução do MDB, que é um partido amplo, democrático, que tem todas as alas e todos os pensamentos dentro dele, fez com que houvesse uma diminuição no Estado do Ceará”, admitiu, contrapondo que há sim o que comemorar. “Mas o MDB saiu fortalecido, continua sendo o maior partido do Brasil, com mais de 730 prefeitos, continua sendo o partido do Brasil com maior número de vereadores, e no Ceará a baixa não foi significativa a ponto de dizer que o MDB sairia do mapa político do Estado. Pelo contrário, fizemos 17 prefeitos, uma grande parte em reeleição, e muitos vice-prefeitos, salvo engano foram 18, além de muitos vereadores”, acrescentou.

A baixa no MDB, porém, faz com que haja uma necessidade de reavaliação do partido sobre a própria atuação, concluiu o deputado. “Isso é um chamado para que o partido volte às bases, para as bases se fortalecerem e ser o MDB que sempre foi: forte, firme e atuante”, ponderou.