Renato Roseno apresentou dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que apontam que, no Brasil, 75% das vítimas de assassinato são negros. Foto: ALECE.

Na data em que se comemora o Dia Nacional da Consciência Negra, a Assembleia Legislativa registrou debate sobre o racismo no Plenário 13 de Maio. Os deputados Renato Roseno (PSOL) e Augusta Brito (PCdoB) trataram da temática na tribuna. Único negro dentre os deputados estaduais cearenses, Soldado Noélio (PROS), também se pronunciou.

Renato Roseno abriu o primeiro expediente da sessão plenária desta quarta-feira (20) destacando a data celebrada, lembrando ser referência ao dia da morte de Zumbi dos Palmares.

O parlamentar apresentou dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que apontam que, no Brasil, 75% das vítimas de assassinato são negros e que mais de 70% das mulheres encarceradas são negras.

Roseno informou também que, apesar de dados apontarem que negros já serem maioria nas universidades públicas, aqueles que têm acesso a cursos tradicionais reconhecidos por direcionarem as melhores carreiras profissionais, como Medicina, Direito, Engenharia e Arquitetura, são majoritariamente brancos.

“O racismo já é uma condição arraigada à estrutura do ser social brasileiro. Esse perfilamento racial não é obra do acaso. É uma construção social histórica profunda. Temos que assumir essa construção segregada e lutar por políticas afirmativas e equitativas em todos os setores da sociedade”, defendeu.

> Renato Roseno fala do racismo no Brasil. Ouça:

 

O deputado criticou o episódio ocorrido na terça-feira (19), na Câmara Federal, em que um parlamentar, Coronel Tadeu (PSL/SP), destruiu uma imagem de uma exposição sobre racismo no Brasil. “Esse episódio comprova a dívida gigantesca que o Brasil tem com os negros e negras, um verdadeiro atraso civilizatório, assim como atesta o perigo que passamos a correr ao ter entregue o País à direção desse grupo político que o governa, tanto que os dois parlamentares que protagonizaram esse momento são da base desse governo”, avaliou.

Violência contra mulheres negras

A deputada Augusta Brito, em aparte, afirmou que, de 2003 a 2013, a violência contra a mulher negra aumentou, enquanto a violência contra a mulher branca diminuiu, e a violência contra as mulheres dos quilombolas aumentou em 350%.  “Sabemos que 50% são agredidas e assassinadas por companheiros ou familiares, mas pelos números já percebemos que a questão não se resume à misoginia, mas inclui o racismo naturalizado pela nossa própria política”, disse.

O deputado Acrísio Sena (PT) afirmou que, não apenas como vítimas da violência, mas os negros também são maioria nos índices de pobreza extrema, de jovens que nem trabalham e nem estudam, entre outros.

Importância do debate

Durante o tempo das explicações pessoais, a deputada Augusta Brito ressaltou a importância de se debater o racismo, e de admiti-lo, como primeiro passo para a superação. “É uma questão estrutural, que atravessa todas as instituições sociais e influencia muitos comportamentos, “os mais subjetivos”.

A deputada fez alusão à Dandara, guerreira negra do período colonial conhecida por se rebelar ao lado de Zumbi dos Palmares e por ter se suicidado para não retornar à condição de escrava. “Ela tem uma simbologia muito forte, impossível não lembrá-la em um dia como hoje, data tão significativa”, disse.

Visão otimista

Único deputado estadual negro da atual legislatura na Assembleia Legislativa, o deputado Soldado Noélio, mesmo fazendo dois pronunciamentos no Plenário nesta quarta, não tratou da temática. Questionado pela imprensa, nos corredores da Casa, Noélio demonstrou uma visão otimista sobre a questão do racismo no Brasil. “Graças a Deus, a gente vê que as coisas estão mudando no país, com o passar do tempo, as coisas estão avançando e as pessoas ficando mais educadas e entendendo que não é a cor da pele que vai definir a capacidade de alguém. A gente precisa acreditar nas pessoas e, graças a Deus, tenho percebido que, a cada dia mais, as pessoas negras têm ocupado seu espaço”, destacou o deputado ao Blog do Edison Silva.

> Soldado Noélio vê diminuição do preconceito racial no Brasil. Ouça:

 Segundo Noélio, o histórico brasileiro de evolução mostra um menor alcance da população negra brasileira a diversas áreas ofertadas pelo poder público. “Havia uma grande dificuldade no Brasil, até pelo seu processo histórico de evolução, a gente percebe que a população negra, em sua maioria, mora nas periferias, então, é onde tem mais dificuldade de escola, mais dificuldade de acesso ao esporte, à cultura, ao lazer. Então, obviamente, isso acabava se refletindo em um número menor de negros em papéis de destaque no país”, concluiu.