O Governo do Estado do Ceará, vai pagar, este ano, à Coelce, pouco mais de R$ 1 bilhão e meio de reais. São 608 contas já contratadas, conforme registra o Portal da Transparência

A venda da Coelce (Companhia de Eletricidade do Ceará) completa 26 anos. Dia 2 de abril de 1998 a empresa foi privatizada por R$ 987 milhões, com ágio de 27,2% sobre o preço mínimo, de R$ 775,96 milhões. O consórcio Distriluz, formado por empresas do Chile, da Espanha e de Portugal, e que na época controlava a Cerj (Companhia de Eletricidade do Rio de Janeiro), venceu o leilão na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.

Só neste ano de 2024, o Estado vai pagar pelo consumo da energia distribuída pela Coelce, para 608 prédios do Governo estadual, um total de R$ 1.512.023.899,84 ( um bilhão m quinhentos e doze milhões, vinte e três mil , oitocentos e noventa e nove reais e oitenta e quatro centavos). Era governador na época da venda da Coelce, Tasso Jereissati (PSDB) e o presidente da Companhia, Jurandi Picanço. O empresário Edilton Soarez, então secretário da Fazenda, contratou assessoria privada para ajudar no processo de privatização: a consultoria Internacional Finance Coorporation.

No ano anterior, 1997, a Assembleia Legislativa do Ceará autorizou a privatização da Coelce por 29 votos a favor e 14 contra, numa sessão tumultuada, no mês de setembro. A associação dos profissionais ligados à Companhia se expressou, através de uma carta aberta à sociedade, contrária a privatização. Carência de legislação reguladora, dúvidas quanto à posição do investidor privado e a repercussão no preço da tarifa de energia elétrica, eram as principais preocupações.

A Cerj – Companhia de Eletricidade do Rio de Janeiro – que em fevereiro de 1998 tinha sido multada em R$ 638 mil pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) por queda na qualidade dos serviços – adquiriu diretamente 36,6% da parcela leiloada (82,69% do capital votante da Coelce, correspondentes a 51,05% do capital total).

O presidente da Enersis, José Antonio Guzmán Matta, disse na época que os problemas de qualidade dos serviços enfrentados pela Cerj não iriam se repetir na Coelce.

O resto das ações foi comprado pela espanhola Endesa (37,5%) e chilena Enersis (26%). Enersis e Endesa dividiam com a portuguesa EDP o controle da Cerj. A empresa chilena tem 42% do capital da distribuidora fluminense, a EDP, 21%, e a Endesa, 7%.

Em setembro de 2000 apareceu, na Câmara Federal, a primeira ameaça de cassação da concessão da Coelce motivada por apagões, oscilação de voltagem, queima de aparelhos e morte de 17 pessoas pela má qualidade dos serviços. A Coelce já tinha sido multada pela Aneel em R$ 500 mil reais.

Em junho de 2001, o governo do Ceará utilizou R$ 150 milhões da privatização para financiar o déficit primário no Estado. Também em junho é realizada na Assembleia Legislativa audiência pública para saber onde o dinheiro da venda da Coelce foi utilizado. O governo tinha prometido que o dinheiro seria para criar um Fundo de Pensão para os servidores estaduais, mas o projeto não saiu do papel.

Em janeiro de 2009 a empresa italiana Enel assume o comando da Endesa e o controle da empresa distribuidora de energia do Ceará.

Em novembro de 2016 a Coelce passa a se chamar Enel.

A partir de 2021 começam a piorar, acentuadamente, os serviços da empresa. Tanto que ela teve que devolver R$ 18,3 milhões aos clientes cearenses para compensar falhas no serviço no ano de 2020.