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Lula foi o candidato com a maior votação no Estado do Ceará no primeiro turno das eleições gerais deste ano. Com um total de 3.578.355 votos, ele superou em quase dez vezes a quantidade de sufrágios dados a Ciro Gomes, o presidenciável que nas três outras eleições disputadas, sempre foi o primeiro no Ceará, inclusive vencendo o próprio Lula, Fernando Henrique Cardoso e outros. Lula também superou a votação de Camilo Santana, e quase triplicou o número de votos recebidos pelo governador eleito, Elmano de Freitas. Agora, no segundo turno, com os apoios anunciados dos senadores Cid Gomes e Tasso Jereissati, além de outros políticos que nele não votaram no primeiro turno, essa votação, esperam alguns, será muito maior.

De fato, se não crescer ao menos 20%, em vão terão sido os discursos e os trabalhos dos dois senadores e dos petistas eleitos no primeiro turno. E provavelmente não crescerá nessa proporção, liderados de Tasso e Cid, destes mais ainda pela influência do discurso de Ciro contra o ex-presidente, não votam no PT. Ademais, há bem mais eleitores de Bolsonaro no Ceará do que os votantes do dia 2 passado. Sem dúvida, vários dos que sufragaram os nomes de Ciro e Simone Tebet, optarão por Bolsonaro no próximo dia 30, além do Capitão Wagner, o segundo colocado na disputa pelo Governo do Ceará, que, antes, tinha compromisso partidário com a candidata à Presidência da República, Soraya Vieira Thronicke, do União Brasil, o partido a que ele é filiado, e o responsável por praticamente todo financiamento de sua campanha.

Há um certo esforço dos bolsonaristas cearenses para melhorar a performance de Bolsonaro no Estado, inclusive, com certa reserva, tentando motivar alguns pedetistas ligados ao Ciro a optarem pelo adversário de Lula, deixando Ciro intimamente satisfeito, e Cid, o seu irmão, ferido, pois em discurso ao lado de Elmano e de Camilo, prometeu esforçar-se para levar todos os pedetistas a votarem no ex-presidente. As excentricidades das eleições deste ano no Ceará tendem a permanecer até o encerramento da campanha no dia 30 de outubro, quando da votação final. Nunca, nos últimos 50 anos, uma disputa no Ceará foi tão atípica, a começar pela briga dos irmãos Ferreira Gomes, o rompimento de amizades sólidas e longevas, o uso despudorado da máquina pública, aniquilando a governadora, além de outros fatos já registrados nas páginas negras da história a serem lembrados no futuro.

Nem em 1986, quando houve uma ruptura do modelo de se fazer política no Ceará, viu-se tanta coisa desconcertante numa eleição estadual. No início da década de 80, Gonzaga Mota, governador da época, indicado pelos coronéis Virgílio Távora, Adauto Bezerra e Cesar Cals, todos ex-governadores do Estado, resolveu mudar e foi buscar o hoje senador Tasso Jereissati (PMDB) para sucedê-lo, desafiando os coronéis seus patronos.  Tem muito do que se falar daquela eleição, mas nada parecido com o registrado neste ano. Valeu a pena para a vida política e administrativa do Ceará, a insurreição de Gonzaga Mota, embora ele não tenha gozado os loiros da vitória. Naquela época, logo depois da eleição já eram conhecidos os benefícios da mudança. Agora, ainda não há elementos para um prognóstico sobre os efeitos do que acontecerá após o que tudo aconteceu.

Mas, primeiro vamos aguardar o resultado do segundo turno da disputa presidencial no Ceará. Este é o primeiro grande teste sobre o balizamento das forças de sustentação do próximo governador do Estado. Elmano de Freitas, mas do que os últimos governadores do Ceará, vai precisar de muito apoio das forças políticas e da sociedade para governar. Ele receberá um Governo cuja situação financeira, a despeito dos discursos elogiosos sobre o seu equilíbrio, está ameaçada, também pelos excessos de gastos para a manutenção do inchaço da própria máquina no ano eleitoral. Os números do relatório da execução orçamentária referente ao quarto bimestre, conhecidos no dia 30 de setembro passado, confirmam o inchaço.