Debate de candidatos à Presidência da República, na TV Bandeirantes em 28 de agosto de 2022. Reprodução

Em mais de uma oportunidade, publicamente, no último domingo (28), quando do debate dos presidenciáveis comandado pela TV Bandeirantes aliada a outros veículos de comunicação, Lula disse, dirigindo-se a Ciro Gomes, que ia procura-lo para ter o seu apoio, na reta final da disputa pela Presidência da República, acrescentando que Ciro Gomes é uma das três personalidades brasileiras que o insulta, mas pelas quais tem grande admiração. Ao final do programa os dois cumprimentaram-se, friamente, segundo registro das imagens.

Ciro apenas riu quando da afirmação do ex-presidente, mas chegou a dizer que Lula era um “encantador de serpente”. Mesmo assim, Lula não desistiu do propósito, e depois de ser acusado por Ciro, em outros momentos do debate, ao final do programa reafirmou sua disposição de procura-lo. Hoje, mesmo não existindo o impossível na política, a porta de passagem de Ciro para pedir votos para Lula no Ceará, ou em qualquer outra parte do País, está travada. Não é fácil destravá-la. Os discursos do cearense contra o ex-presidente têm sido muito contundentes. Para Ciro, Lula é o responsável maior pelos últimos grandes escândalos de corrupção e pela crise econômica atual, agravada a partir do Governo de Dilma Rousseff, a sua sucessora.

Lula, claro, deve ficar deveras constrangido com as acusações de Ciro, mas ele é, indiscutivelmente, deveras pragmático. Ele quer ser eleito presidente e não importa se o aliado de hoje foi o ferino adversário de ontem, como o seu candidato a vice-presidente Geraldo Alckmin, como os vídeos publicados nas redes sociais, ainda agora, confirmam. Ciro, claro, seria um importante aliado no segundo turno. Só que para Ciro pedir votos para Lula, mesmo apresentando infinitas razões para derrotar o presidente Jair Bolsonaro, no seu objetivo de conquistar um segundo mandato, é ser moralmente sepultado vivo. Ciro, a continuar o quadro político como está, será o terceiro colocado no final desta disputa presidencial. Poderá sair derrotado, mas de cabeça erguida. Aliar-se a Lula, depois de tudo o que disse dele, ou contra ele, seria vergar-se e entrar para a parte negativa da história.

Os aliados e eleitores de Ciro tendem a ficar todos com Lula, caso ele não vá para o segundo turno. É outra situação. E Ciro não deve ser obstáculo para tal. Afinal, pelo seu próprio discurso, Bolsonaro não merece dele qualquer sinalização em defesa de sua reeleição. Ciro, provavelmente, deverá ficar no Ceará no segundo turno da disputa pelo Governo do Estado. Sua decisão de desistir de voltar a disputar Presidência da República, com certeza, não o afastará das entranhas da política cearense, e nem da possibilidade de ser tentado a disputar um mandato de senador da República, substituindo o irmão Cid, já decidido a não mais concorrer a mandato eletivo. E ficando Ciro no segundo turno no Ceará, difícil não envolver-se na parte final da disputa presidencial.

O segundo turno das eleições deste ano no Ceará vai exigir uma habilidade dos principais envolvidos na disputa. Não há perspectiva de composição sadia entre as três correntes envolvidas na sucessão estadual. E a eleição presidencial ainda agregará mais dificuldades para os necessários entendimentos entre um dos dois blocos que chegar ao final da campanha com a força alijada. A campanha de Bolsonaro, depois do dois de outubro, será bem mais agressiva, podendo gerar consequências imprevisíveis, inclusive nas composições locais entre os concorrentes da sucessão estadual, notadamente se tiver conseguido eleger, no primeiro turno, um bom número de deputados estaduais e federais dispostos a promover uma campanha do tudo ou nada em favor da reeleição do presidente.

Veja o comentário do jornalista Edison Silva sobre o tema: