Comitiva do presidente Bolsonaro na última visita ao Ceará. Foto: Ascom/PR.

O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos), em uma de suas raras entrevistas, na última quinta-feira (22), disse ao jornal O Globo que na terça-feira (20) dirigentes do PP e do PSL acertaram uma aliança para apoiar a candidatura do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) à reeleição. Só as duas agremiações já garantem 5 minutos no horário da propaganda eleitoral no rádio e televisão. Todos os pretensos candidatos a cargos majoritários, no pleito de 2022, neste momento têm como preocupação primeira a formação de alianças que lhes garantam bom tempo para a propaganda eleitoral e recursos do Fundo Eleitoral.

Bolsonaro, partindo da premissa de estar de fato concretizada a aliança com o PP e o PSL, para a disputa de 2022, parte na frente dos seus principais concorrentes hoje conhecidos: Lula e Ciro Gomes. E isso é comemorado pelo senador Flávio Bolsonaro, ao ressaltar a dúvida ainda existente quanto à futura filiação partidária do presidente, que tanto pode ser o PMB, o Patriota, o DC ou um outro do grupo de pequenas agremiações brasileiras, onde o presidente e os seus possam ter um certo controle.

“Queremos um partido no qual Bolsonaro possa ter minimamente o poder nos diretórios estaduais. Nos grandes, isso é mais difícil. Mas mais importante do que o partido a se filiar é já partirmos de um apoio formal gigante. O apoio do PSL, que tem o maior tempo de propaganda na TV, e o do PP, que tem grande capilaridade, é bem importante. Então mesmo que Bolsonaro se filie ao PMB, que não tem deputado, por exemplo, já começaríamos com uma chapa bem forte. Só com PSL e PP na coligação, já iniciamos com 5 minutos de TV. Fiquei bem feliz com o resultado da reunião de terça”, disse Flávio na entrevista.

O Ceará tem pouco mais de 4% do eleitorado nacional, mas no pleito do próximo ano, como já aconteceu na disputa presidencial passada, terá um protagonismo significativo, talvez até maior que em 2018, em razão da polarização em vista. E aqui, o PP tem uma expressiva importância na aliança com o grupo governista liderado por Ciro e Cid Gomes. Sua permanência na base do Governo estadual é de fundamental importância para a sucessão do governador Camilo Santana, cujo candidato há de ter participação ativa na consolidação da votação de Ciro no Estado, considerando a importância das postulações de Lula e do próprio Bolsonaro para grande parte dos eleitores cearenses.

O PSL do Ceará, como já ficou demonstrado na eleição municipal passada, tem peso inexpressivo no universo eleitoral do Estado, caso não seja incluído na relação dos diretórios que Bolsonaro queira ter influência. Se tiver, o partido pode ser o abrigo de alguns mais influentes oposicionistas, inclusive de pessoas com condições de participarem da disputa majoritária, de governador e senador. No caso do PP, com certeza, o presidente vai querer influir para tirá-lo da base governista, mesmo a direção estadual tendo sua autonomia, até pela estrutura que conseguiu montar no Estado.

Por disposição constitucional, os diretórios estaduais e os municipais não estão obrigatoriamente vinculados ao acordo nacional. Isto dá uma certa tranquilidade aos governistas. O presidente estadual do PP, deputado federal AJ Albuquerque, pela relação do pai, deputado estadual José Albuquerque, com os irmãos Ciro e Cid Gomes, pode, até certo ponto, resistir às investidas de Bolsonaro, posto ser muito próxima a sua relação com o presidente nacional da agremiação, senador Ciro Nogueira. Sem dúvida, contra o AJ nesta empreitada estará o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP/AL), hoje um inimigo de Cid Gomes.

Bem mais que o Lula e Ciro, Bolsonaro investirá muito em todos os estados nordestinos. E o Estado do Ceará, principalmente por conta da candidatura de Ciro, haverá de ser um dos mais perseguidos na busca do voto. O PSL cearense, sem o seu atual presidente, o deputado federal Heitor Freire, é um excelente ponto de apoio à Bolsonaro. Ele já conta com o PTB, após o partido ter saído do controle do ex-prefeito de Juazeiro do Norte, Arnon Bezerra, e da base de apoio ao esquema político liderado atualmente pelo PDT. A reação dos governistas cearenses já acontece, porém, partindo do nacional para o local.

Jornalista Edison Silva comenta a repercussão, no Estado do Ceará, da adesão do PP e do PSL à pré-candidatura de Jair Bolsonaro: