As últimas plenárias da Casa têm ficado cada vez mais esvaziadas. Foto: Miguel Martins.

“Ficar aqui no plenário não dá voto”. A frase é de um vereador da Câmara Municipal de Fortaleza que, às 11 horas, chegara para a única sessão ordinária da semana, na quarta-feira (21). A máxima do parlamentar era nítida no esvaziamento da plenária do dia, com poucos membros do legislativo da Capital cearense presentes às discussões da pauta.

Faltando pouco mais de 20 dias para o pleito deste ano, os vereadores têm intensificado visitas a bairros da cidade, participado de eventos de ruas e atuado de forma mais frequente nas redes sociais. Sobra pouco tempo para debater e votar projetos de interesse da sociedade. No entanto, poucas são as propostas apresentadas nas últimas semanas que, realmente, vão impactar a vida dos fortalezenses.

A matéria mais importante que iniciou tramitação na Casa, no último mês, diz respeito ao orçamento da cidade para o próximo ano, estimado em R$ 9,1 bilhões. Mais preocupados com suas reeleições, os vereadores deixarão para se debruçar sobre a matéria após o pleito do dia 15 de novembro, quando serão eleitos (e reeleitos) os parlamentares que atuarão no Legislativo Municipal pelos próximos quatro anos.

Na tribuna do plenário Fausto Arruda, os temas, quase que em sua totalidade, se voltam para questões eleitorais. Na quarta-feira (21) passada, por exemplo, Márcio Martins (PROS) questionou sobre os R$ 17 milhões da Prefeitura que não teriam sido devolvidos por empresa contratada para a aquisição de respiradores. Em contrapartida, o governista Adail Júnior (PDT) quis saber para onde foram os R$ 43 milhões que o candidato Capitão Wagner (PROS) afirmou terem sido encaminhados para a saúde de Fortaleza.

Vez por outra, algum membro da base sobe à tribuna para defender as ações do prefeito Roberto Cláudio, enquanto que outros enaltecem o candidato governista Sarto (PDT). Mas também há muito espaço para lamentações, com parlamentares reclamando de notícias falsas contra eles e até sobre “invasão” de seus colégios eleitorais.

“Muita gente aqui vem com demagogia, feito uns urubus na comunidade, sem respeitar a dignidade das pessoas. Tenha ética, não seja pobre de espírito. Com muita veemência, com muita determinação, eu me sinto hoje uma pessoa desprendida, desarmada e ao lado de Deus”, disse recentemente o vereador Ziêr Férrer (PDT).

Na mesma toada, o vereador John Monteiro (PDT), em tom de despedida disse que tem orgulho do que fez por sua comunidade. “Se eu deixar de ser vereador amanhã, vou dizer que como é bom fazer parte de um grupo político que tem lado. Se amanhã eu deixar de ser vereador, os meus filhos vão ter orgulho de dizer que ‘meu pai fez a verdadeira mudança'”.

Quociente eleitoral

Para Elpídio Nogueira (PDT), o clima de pânico entre seus pares se dá, muitas das vezes por alguns deles desconhecerem os detalhes por trás da legislação eleitoral. O parlamentar lembrou, por exemplo, da nova regra que determina que para que o candidato seja eleito a cargo legislativo, ele precisa ter obtido individualmente a marca de 10% do quociente eleitoral.

Elpídio acredita que o quociente eleitoral deste ano em Fortaleza deva permanecer em 29 mil votos, sendo que os 10% correspondem a 2,9 mil ou até 3 mil votos. “Isso deve beneficiar, por exemplo, o nosso partido, o PDT, já que teremos muitos candidatos com mais de 3 mil votos, enquanto que outras sigla menores não terão”, disse.

Apesar de uma explicação aqui e ali, o fato é que poucos são os vereadores que têm permanecido a sessão ordinária toda, acompanhando os embates do dia. Alguns deles chegam por volta das 11 horas, mais ou menos o horário em que se iniciam as deliberações. Participam das votações, de reuniões de comissões (quando têm) e voltam para as ruas. Afinal de contas, “ficar no plenário não dá votos”.