Deputada Silvana e Jaziel Pereira conclamam seguidores para se opor ao projeto. Foto: Reprodução Instagram.

Aprovado nas comissões da Assembleia Legislativa do Ceará na semana passada, o Projeto de Indicação nº 96/20, que propõe a criação de uma Delegacia Especializada de Combate à Intolerância Religiosa , está pronto para ser votado em plenário. A entrada na pauta da sessão desta quinta-feira (06) depende da presidência da Casa, no entanto, já é certo que haverá polêmica quando for votada.

Isto porque a deputada estadual Silvana Pereira (PL) postou, ao lado do marido, o deputado federal Jaziel Pereira (PL), um vídeo nas redes sociais onde afirma que precisa que os seguidores ‘compartilhem esse vídeo o mais rápido possível”, para que possam derrubar o projeto.

“Nós vemos esse projeto com muita preocupação, até porque entendemos que a igreja do Senhor, que tanto tempo (foi) perseguida e afrontada, de repente um projeto que fere a nossa Constituição, dizendo e querendo delegar sobre o que é e o que não é intolerância religiosa. Para mim, esse projeto é um risco, peço que você compartilhe, ajude a conscientizar os pastores e os nossos irmãos, para que a gente possa fazer frente a esse projeto que eu tenho certeza que é danoso à nossa fé”, afirmou a parlamentar.

Jaziel Pereira declara, no vídeo, que o projeto vai de encontro à Constituição, que afirma estar assegurado o direito ao culto. Para ele, pessoas falam em liberdade, mas querem mesmo o totalitarismo e o estado de exceção. “Temos que trabalhar fortemente para destruir esse projeto maligno”, concluiu.

Fake News

Autor da proposição, o deputado estadual Renato Roseno (Psol) chamou de Fake News o que vem sendo falado pelo casal de parlamentares e reafirmou que o projeto sequer cita a realização de cultos. “Por que alguns líderes religiosos estão espalhando que meu Projeto de Indicação que visa proteger a liberdade religiosa é uma afronta aos preceitos da sua Igreja? Porque fizeram fama e dinheiro às custas da perseguição a outras religiões. Uma delegacia de combate à intolerância religiosa só é ameaça a um tipo de gente: quem comete o crime de discriminação por motivo religioso. Quem está distorcendo o meu projeto de indicação de forma intencional não se envergonha de vestir a carapuça”, postou o parlamentar em uma rede social.

Autor da proposta, Roseno afirma que críticas vêm de quem vestiu a carapuça. Foto: Reprodução Instagram.

Para Renato, a defesa de que o Estado deva funcionar de acordo com o livro sagrado está séculos atrasada.

“Quando uma pessoa diz que o combate à intolerância religiosa ofende a sua fé, significa que a fé dela está necessariamente vinculada a discriminar e atacar quem expressa uma crença diferente. A defesa da liberdade de expressão passa a ser a defesa da liberdade de perseguição. O Brasil é um país democrático regido por uma Constituição. Quem defende que o Estado deve funcionar conforme o livro sagrado que acredita, nasceu pelo menos 5 séculos atrasado”, argumentou.

Crescimento da intolerância

O autor da proposta lembrou que houve no Brasil um aumento de 56% no número de denúncias de intolerância religiosa somente no primeiro semestre de 2019 (em comparação ao mesmo período do ano anterior).

“Por isso precisamos fazer no Ceará o que já é feito em outros 9 estados do país: criar a Delegacia Especializada em combate aos crimes de intolerância religiosa. Nosso projeto de indicação atua para garantir a liberdade de culto e a pluralidade religiosa. A defesa da democracia também passa pela defesa do Estado que acolhe todas as manifestações de fé”, concluiu.