O parlamentar foi gravado, por um suplente de vereador de Fortaleza, oferecendo dinheiro em troca de apoio eleitoral. Foto: Edson Júnior Pio/ALECE.

O deputado estadual Bruno Gonçalves (PL), poderá responder a um processo disciplinar na Assembleia Legislativa cearense, por conta da Representação feita pela direção do PROS, em razão da conversa gravada entre o parlamentar e o suplente de vereador de Fortaleza, Maninho Palhano, em março passado, quando Bruno tentava comprar a filiação de Palhano ao PL, por onde ele seria novamente candidato à Câmara Municipal de Fortaleza, ajudando com os seus votos a reeleger a mãe de Bruno, vereadora Marta Gonçalves. Se Palhano não fosse eleito, seria também recompensado, ao longo do mandato de Marta, assumindo temporalmente o cargo, com uma licença dela, ou recebendo, mensalmente, uma mesada, cujos recursos sairiam da verba de Gabinete da vereadora.

A conversa, realmente escabrosa, de pouco mais de 15 minutos, mostra o submundo não alcançado pelos fiscais das leis, embora, lamentavelmente, seja uma prática delinquente com a qual convive uma grande parte das agremiações partidárias, tendo como principais atores políticos os que sempre estão a defender “eleições limpas”. Bruno Gonçalves não é um deputado de bom relacionamento com os seus colegas, até pelo fato de quase não frequentar o Legislativo, é de pouca ou quase invisível presença nas sessões ordinárias da Casa. Para alguns, chega a ser presunçoso. Mas, apesar da tentativa da prática de abominável crime, não vai perder o seu mandato, um dos mais onerosos para o Estado, exatamente pela inexpressividade da sua atuação.

Os parlamentares só punem colegas quando a pressão externa extrapola os movimentos localizados. Não nos parece que essa pretensa e não concretizada ação criminosa de Bruno Gonçalves, por várias razões, motive manifestações populares expressivas capazes de sensibilizar os deputados estaduais cearenses a, exemplarmente, punirem o acusado. Uma das razões, sem dúvida, é o fato de o crime ter sido denunciado, não com o objetivo de punir o apontado pela sua prática, mas com interesses eleitoreiros dada a proximidade da campanha eleitoral, mesmo Bruno, também enquanto liderança política ser uma figura apagada, pois é mais um dos filhos de políticos que ganham mandatos para satisfação de familiares. Eles, quase sempre, como no caso de Bruno, não têm identidade própria. Por isso não são chamados à discussão de temas sérios, inclusive alianças, pois sabem as autoridades e os dirigentes partidários, que eles nada decidem. Enfim, como mostrou a conversa gravada, Bruno não passa de um boquirroto.

Exemplos negativos como os dados por Bruno Gonçalves, quando tanto se fala da necessidade de renovação dos quadros políticos nacionais, irradia uma imensurável tristeza no universo daqueles que defendem o ingresso de jovens na política. Um jovem, médico, como ele o é, decepcionando em seu mandato legislativo, não deve merecer a confiança dos eleitores para ocupar qualquer outro cargo eletivo. E ele quer ser prefeito, já agora, do município de Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza. O pior: tem a legenda garantida para ser candidato e, embora envolvido num escândalo suficiente para fazer qualquer cidadão, no sentido amplo da palavra, escafeder-se, legalmente nada há que o impeça de manter a postulação já definida.

Felizmente, na própria Assembleia Legislativa do Ceará, e por certo em outros espaços políticos, há jovens com comportamento muito diferente do de Bruno, prometendo, ao contrário dele, fazer a boa política de que o Brasil tanto carece. Esses, diferentes nos princípios e nas ações daquele, precisam reagir. Não é bom estar convivendo num mesmo ambiente com figuras que os arrastem para o fundo do poço. Reagindo, mostram explicitamente à sociedade que ela também precisa expressar sua repulsa a todos, quanto Bruno, enxovalham a política brasileira.

Veja o comentário do jornalista Edison Silva sobre o futuro da representação do PROS contra o deputado estadual Bruno Gonçalves: