Maioria dos vereadores de Fortaleza acompanhou apresentação do prefeito Roberto Cláudio. Foto: Reprodução/Zoom.

O prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, participou nesta terça-feira (02), de sessão remota não deliberativa com os vereadores da Câmara Municipal, onde apresentou números sobre as ações da Prefeitura no combate à pandemia de coronavírus. O chefe do Executivo afirmou que durante algum tempo os fortalezenses terão que conviver com uma nova realidade, e defendeu a união de todos, independente de ideologia político-partidária, no enfrentamento dos efeitos da Covid-19 na vida das pessoas.

“Ao final desta pandemia, o Brasil terá perdido mais vidas do que em qualquer outra guerra que tenha participado. Temos diversas pessoas que ainda estão com sequelas da doença, internados ou recuperados. Pelo aspecto da saúde, essa pandemia trouxe uma tragédia sem nenhum outro precedente na história do País”, alertou o prefeito.

Durante apresentação dos dados da Prefeitura, o prefeito destacou que nas últimas semanas a curva no número de doentes e mortos decresceu, o que ele atribuiu ao isolamento social mais rígido. Segundo disse, a abertura gradual da economia na Capital leva em consideração a redução no número de pessoas infectadas que chegam até hospitais de Fortaleza.

Segundo Roberto Cláudio, uma pesquisa está em andamento, e deve ser concluída até o fim de semana, para determinar como está o nível do comportamento das pessoas, em especial do grupo de risco. “Para além da tragédia humanitária, esse vírus causa todo um impacto na economia, no modo de viver das pessoas. E isso não será recuperado da noite para o dia”.

Os números apresentados pelo prefeito mostraram que as Regionais I, III e V foram aquelas onde a população menos aderiu ao isolamento social mais rígido. Por serem regiões da periferia, a preocupação é maior uma vez que as pessoas dessas localidades possuem menos condições para enfrentar a doença. A Regional I só teve adesão de 48,7% da população, enquanto que a III, 42,9%. Já a Regional V, esse número foi ainda menor, apenas 40,3%.

Segundo os dados, na segunda quinzena de maio houve um certo “efeito platô”, o que o prefeito assegurou não ser uma tendência de muito tempo. A partir da 19ª semana de casos em Fortaleza houve decrescência nos números de atingidos pelo novo coronavírus, sendo 77 óbitos por dia até então, e reduzindo para 67 casos/dia, em média, a partir da 21ª semana.

Segundo ele, há uma queda no número de pacientes que são atendidos nas UPAs e postos de saúde a partir da 21ª semana, o que é um sinal positivo, que, inclusive, contribuiu para a abertura gradual de alguns setores da economia.

“O final dessa história, tomem nota, vai contar uma experiência completamente diferente de Fortaleza em relação a muitas capitais do Brasil. Uma curva mais antecipada do que muitas outras capitas. Somos o Estado, disparado, que mais testa no Brasil. E seremos agora, como novos testes, com larga vantagem, o Estado que vai testar ainda mais ao longo do mês de junho. A preciosidade do isolamento salvou milhares de vidas”, disse.

No entanto, ele ressaltou que o mais importante nesse processo todo foi a contribuição da população, o que é revelado no número de deslocamentos de pessoas nos ônibus diariamente. Durante o lockdown, a porcentagem de pessoas que utilizaram o transporte público em Fortaleza ficou abaixo da demanda de 20%.

Já o fluxo de carros teve uma redução de 50% na última semana. “Em uma cidade cheia de dinâmica social, em que as pessoas precisam se tratar, buscar serviços de saúde, tivemos redução de mais de 80% do fluxo de transporte público. A população poderia ter atendido mais, sim”.

“O lockdown acabou sexta passada, agora, nesta semana e na próxima é que vamos ver como vai estar a demanda de UPAs, de postos e o número de óbitos. Normalmente, o isolamento demora duas semanas para repercutir o número óbitos. Os pacientes que morrem nesta semana já estavam internados em UTIs antes. Não há nenhuma medida no mundo que tenha mais efeito de reduzir do que a adesão ao isolamento social” – (Roberto Cláudio)

 

Presidente Vargas

O prefeito também apresentou aos vereadores dados sobre o atendimento no Hospital de Campanha instalado no Estádio Municipal Presidente Vargas, o PV. Segundo ele, a cidade está próxima dos 1500 atendimentos, sendo mil somente no equipamento improvisado, que segundo lembrou, foi levantado em 30 dias. “Examinem os números aqui e os custos. Nosso hospital custou em torno de R$ 4 milhões a sua estrutura”, disse.

“Seria mais cômodo para mim dizer que iria gerar polêmica, que o futebol vai acabar. Era muito mais cômodo para eu não correr o risco de ser criticado. Mas seria absolutamente criminoso ficar omisso e não ter feito nada. Uma larguíssima maioria acha que o Hospital do PV foi fundamental para o enfrentamento da Covid. Não tenho dúvida de que foi uma decisão acertada”, afirmou Roberto Cláudio.

O prefeito também criticou a forma que o Governo Federal adotou para disponibilizar o benefício social às famílias de baixa renda durante a pandemia. Segundo ele, é um “abuso” o Município ter que lidar com “erro” da gestão do presidente Jair Bolsonaro, que em sua avaliação, “fez com que o benefício social fosse um risco para o cidadão. “A forma de pagá-lo é criminosa”, criticou. De acordo com Roberto Cláudio, a construção de grades, distribuição de álcool em gel e até organização de filas foram feitas pela Prefeitura de Fortaleza e não por agentes da Caixa Econômica Federal.

“Libera geral”

Segundo o prefeito, a mensagem a ser empregada agora para a população “não pode ser o libera-geral”. Segundo ele, a melhor fiscalização é a consciência do povo. “A gente tem que ser muito responsável. Enquanto a população não estiver imunizada, vamos conviver com essa pandemia”, lamentou.

“A gente está tratando de uma coisa nova, onde ideologias ao invés de ciência, arrogância ao invés de humildade, não vão nos ajudar a lidar com esse desafio. Isso aqui não é um Fla X Flu de quem é favor da cloroquina ou quem é contra. Eu sei que é um ano eleitoral, mas o que a gente puder adiar sobre essa discussão, será melhor para os fortalezenses. Quem imaginaria que eu estivesse terminando o oitavo ano de mandato em um cenário totalmente inusitado? Eu não sei quando viveremos algo parecido de novo, mas espero que seja o último”(Roberto Cláudio)

A reunião, uma iniciativa do presidente da Câmara, Antônio Henrique (PDT), teve início por volta das 11h15 e foi encerrada pouco depois das 13 horas, uma vez que Roberto Cláudio tinha outro compromisso neste horário. Apesar de ter participado do encontro, o vice-prefeito, Moroni Torgan, não se pronunciou nenhuma vez. O secretário de Governo, Samuel Dias, também esteve ao lado do prefeito.