Compreensível a irresignação da Assembleia Legislativa cearense, representada pela sua quase totalidade de deputados aliados do governador Camilo Santana, com a manifestação, de certo modo imprópria, do presidente do Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará, Edmar Fernandes, ao denunciar, em forma de pedido de investigação do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), a existência da prática criminosa, por agente do Governo cearense, de exigir de médicos o registro da morte pelo coronavírus, mesmo sendo de outra causa o falecimento dos pacientes em hospitais públicos.

Estranhamente, porém, não está na relação das comissões técnicas da Assembleia que cobram a presença do presidente do Sindicato dos Médicos naquela Casa, o órgão onde a questão tem direta ligação, a Comissão da Seguridade Social e Saúde.

Os representantes do Ministério Público cearense ligados à área da Saúde, pela resposta que deram ao documento do presidente do Sindicato dos Médicos, pedindo investigação sobre denúncias que ele estaria recebendo de colegas para cometerem o crime de falsidade na emissão do atestado de óbito, com a especificação única da causa morte de pacientes, o coronavírus, demonstram estar diante de uma afirmação inverídica, pois pediram as informações mínimas necessárias à instauração de um procedimento investigativo.

Na verdade, o denunciante, travestido de informante, fez uma denunciação caluniosa, com finalidade diversa do interesse da categoria, causando transtorno para muitas famílias, posto ensejar a dúvida quanto a real “causa mortis” do seu ente querido, sem se falar no prejuízo material, na parte relacionada a seguros.

A Assembleia pode fazer muito ao desmoralizar tal denunciante, mas o Conselho Regional de Medicina pode fazer bem mais. O caluniador, já assim denominado por não ter oferecido qualquer indício de prova do que apresentou, cometeu um grave desvio, expondo colegas. Para não figurar no rol daquele grupo do corporativismo pernicioso, reportado recentemente neste espaço, o Conselho precisa abrir um procedimento para apurar a postura ética do denunciante. Ele pode até alegar que não praticou crime algum contra paciente seu, no exercício da medicina, mas jogou na lama os profissionais que, com abnegação, denodo e o reconhecimento da população, procuram salvar, e têm salvado inúmeras vidas, exponde-se ao próprio vírus desconhecido e letal. Esses profissionais foram apresentados como pessoas indignas de serem consideradas cidadãs, pois ninguém está obrigado a cumprir ordens inapropriadas ou imorais.

Nem será penalizado o profissional ao descumprir tais ordens, sobretudo quando cumpre a obrigação de denunciá-las. Silenciando, passa a ser um igual, isto é, uma figura inescrupulosa tal qual o seu interlocutor. Também estão atingidos com a denunciação caluniosa, os agentes públicos supostamente apontados, mesmo sem serem nomeados. Afinal, o secretário de Saúde do Estado, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho (Dr. Cabeto), um dos ícones da medicina cearense, pelo comportamento ético demonstrado ao longo do seu exercício profissional, nunca foi objeto de qualquer questionamento sobre assuntos não republicanos. Ele não tem a índole de ter tão deselegante e imoral relação com um colega. E ele, mesmo sem ser citado nominalmente, é o primeiro alcançado. A nota do Conselho Regional de Medicina, publicada no início desta semana, é uma solidariedade muito pequena, para quem sofre tamanha agressão.

E mais, acrescente-se, o real objetivo do sindicalista é atingir politicamente o governador Camilo Santana. Infelizmente, nos últimos tempos, a quase totalidade dos sindicatos no Brasil, por interesses políticos pessoais ou de grupos ideológicos, deixaram de ser os lídimos representantes dos trabalhadores. O dos médicos cearenses é um deles. Como cidadão, o presidente do Sindicato dos Médicos cearenses tem todo o direito de ser contra ou favor do governante que ele entender, agora, utilizar-se do cargo, até contrariando a muitos dos integrantes da categoria, para satisfação de interesses pessoais, o desqualifica como líder sindicalista, além de expor todos os seus demais colegas, inclusive os que porventura também façam oposição ao governante de plantão.

O Conselho Regional de Medicina no Ceará precisa ser um corporativista do bem. Isso implica em punir qualquer um dos que tenham o CRM e não o dignifique.

O jornalista Edison Silva comenta sobre o assunto: