Durante pronunciamento de governistas, policiais exibiam seus contra-cheques na galeria do Plenário. Foto: Marcelo Bloc/Blog do Edison Silva.

Dezenas de policiais encheram a galeria do Plenário 13 de Maio, na Assembleia Legislativa, na manhã desta quinta-feira (6), para protestar contra a proposta do Governo do Estado de reajuste salarial para as categorias ligadas à Segurança Pública. A mensagem do Governo ainda não chegou ao Legislativo. Enquanto isso, do lado de fora da Assembleia, um grupo maior de policiais e familiares, exibindo faixas e gritando palavra de ordem, interditavam um trecho da Av. Desembargador Moreira, em frente ao Legislativo.

Mesmo antes da proposta do Governo chegar oficialmente à Assembleia, o assunto já domina a Casa desde o início da semana, quando começou o ano legislativo. Nesta quinta-feira (06), a temática tomou quase que exclusivamente o plenário. Exibindo contra-cheques, policiais aplaudiam deputados de oposição e vaiavam as manifestações dos parlamentares da base de Camilo Santana.

Melhores condições

O primeiro deputado a tratar da questão foi Delegado Cavalcante (PSL). Segundo ele, a tropa da Polícia Civil do estado está sendo sacrificada, chegando a um ponto em que os policiais não aguentam mais a baixa autoestima e as frágeis condições de trabalho. “É importante discutir a realidade das forças de segurança no Estado sem que sejamos classificados de estarmos fazendo politicagem”, lamentou.

Segundo Cavalcante, a diminuição nos índices de violência no Estado ocorreu devido ao trabalho dos policiais, que têm realizado suas funções de forma ‘humilhante e massacrante’. “O governador Camilo Santana precisa analisar as condições de trabalho dos profissionais de segurança. Os policiais precisam ser bem tratados, com salários dignos, assistência médica e legislação”, salientou o deputado, recebendo aplausos dos manifestantes nas galerias.

Defesa do governo recebe vaias

O tratamento com o governista Osmar Baquit (PDT), orador na sequência, foi de hostilidade. Ele teve seu pronunciamento diversas vezes interrompido por vaias e gritos dos policiais nas galerias.

Policiais nas galerias vaiaram o deputado Osmar Baquit durante pronunciamento. Foto: Marcelo Bloc/Blog do Edison Silva.

De acordo com o parlamentar, o líder do Governo, deputado Júlio César Filho está aberto ao diálogo para chegar a uma definição sobre um reajuste que atenda os interesses dos policiais e do Governo. “Defendo um acordo entre a categoria e o Poder Executivo, que não seja ruim para nenhuma das partes. O caminho verdadeiro só virá através de uma conversa honesta. A mensagem ainda não foi encaminhada para esta Casa, mas o Júlio César está pronto para conversar com o deputado Soldado Noelio, que representa a categoria”, pontuou.

Buscando acalmar os ânimos, os deputados Salmito (PDT), Evandro Leitão (PDT), Elmano (PT) e Patrícia Aguiar (PSD) pediram que as partes possam sentar para discutir. A deputada do PSD sugeriu que a mensagem só seja enviada pelo Poder Executivo à Casa após o término das negociações.

Integrante da base de Camilo, Dra. Silvana (PL) propôs uma redistribuição dos valores apresentados pelo governo e foi aplaudida. “Se a redistribuição dos valores não está agradando a todos, é preciso rever a sugestão que foi anunciada. Estamos em uma negociação que ainda nem chegou aqui, então peço a todos que dialoguem para que a mensagem seja boa para todos”, ponderou.

Oposicionista aplaudido

Soldado Noelio foi muito aplaudido durante pronunciamento na tribuna. Foto: Marcelo Bloc/Blog do Edison Silva.

Aplaudido desde quando foi anunciado pelo presidente José Sarto (PDT), o deputado Soldado Noelio (Pros) afirmou que pediu três vezes para se reunir com o governador, além de alegar ter sido barrado pelo secretário de Segurança, André Costa, na reunião que tratava da negociação salarial. “Queremos solicitar a recomposição do que foi perdido de inflação, que nunca foi reposto, e a construção de uma carreira digna”, assinalou.

Em aparte, o deputado André Fernandes (PSL) parabenizou o colega pela condução das negociações e pela paciência que vem tendo. “Soldado Noelio, parabéns pela paciência, ‘macho véio’. Deputado ser barrado? Não dava pra mim, não. Eu seria preso logo”, afirmou André, sob aplausos vindos da galeria.

Também aparteando, o deputado Renato Roseno (Psol) criticou o fato de Noelio ter sido barrado de uma reunião. “É uma atitude que vai contra todos nós, parlamentares”, disse. Ele solicitou que a Assembleia seja mediadora das negociações. “A fala do governo (de estar aberto ao diálogo) tem que vir junta com ação real. Lutar não é crime. Não há carreira sem justa remuneração”, concluiu, sendo aplaudido.

Galeria esvaziada

Logo após a fala de Noelio, foi a vez do deputado Júlio César Filho (Cidadania), líder do Governo na Casa, falar sobre a questão. Assim que Noelio deixou a tribuna, porém, cerca de 90% dos manifestantes deixaram a galeria, o que foi criticado pelo deputado Salmito. “A categoria está pedindo diálogo e no momento que o senhor sobe na tribuna, se retira da galeria. Ouvir os lados divergentes buscando o diálogo. Se ambos buscam isso, o que está faltando?”, questionou.

Durante pronunciamento do líder do governo, policiais deixaram as galerias do Plenário. Foto: Marcelo Bloc/Blog do Edison Silva.

Julinho mais uma vez lembrou que a proposta sequer chegou à Casa, mas que a liderança está à disposição para dialogar em busca de meio termo. “Estamos aqui para fazer esse intermédio, queremos ouvi-los para levar a proposta de vocês até o governador. Sei que vamos conseguir, com a colaboração de vocês, chegar a um acordo”, defendeu.

Júlio César Filho acrescentou ainda que desde 2015, primeiro ano do governo Camilo Santana, vários projetos chegaram à Assembleia voltados para a categoria. “Votamos a reestruturação, autorização para concursos, lei das promoções, recursos para mais contratações. Isso representa o intuito desse governo de valorizar o profissional da segurança. Homens e mulheres valorosos a quem confiamos a defesa do cidadão e o enfrentamento ao crime”, salientou.

Em aparte, Elmano disse que, pela postura apresentada em plenário, tanto Júlio César, quanto Soldado Noelio, estão dispostos à buscar uma solução por meio de diálogo. “O que não concordo é com a afirmação do deputado (federal) Capitão Wagner de que o governador quer criar um clima para os policiais entrarem em greve. Um governo que separa R$ 440 milhões para a valorização da Polícia não quer isso”, ponderou.

Bate-boca

Já na ordem do dia, foi a vez de o deputado Delegado Cavalcante voltar à tribuna. Ele afirmou que o governo terá “prejuízo político” por conta da proposta de reajuste salarial para a categoria da Segurança Pública no Ceará.

O parlamentar afirmou ter 7 assinaturas de deputados para a criação de uma comissão especial para tratar do assunto. Policial há quase 40 anos, Cavalcante disse que conhece bem a categoria. “Vão parar”, afirmou, referindo-se à ameaça de paralisação.

Na sequência, o deputado Tin Gomes (PDT) subiu o tom criticando Cavalcante. Segundo ele, o colega estaria sendo irresponsável ao sugerir paralisação. “O senhor está inflamando uma categoria que não precisa ser inflamada. A PM não pode fazer greve”, bradou, reclamando que não foi concedido aparte a ele na fala anterior do colega.

Após o discurso de Tin, Cavalcante disse em entrevista que não deu o aparte por não ser permitido ceder tempo no “Pela Ordem”, de apenas 3 minutos. “Não inflamei a categoria, apenas alertei que, se não houver diálogo e uma outra proposta do Governo do Estado, os policiais entram em greve. A tropa está decidida. Estou alertando, estou passando o sentimento da tropa”, afirmou ao Blog do Edison Silva.

Questionado se apoiaria a categoria em caso de paralisação, Cavalcante disse que ‘depende’. “Minha prioridade é buscar o diálogo”, afirmou.

Nova rodada de negociações

Após o término das discussões em plenário, deputados de oposição e situação reuniram-se em diversas salas da Assembleia com lideranças dos policiais e a liderança do governo. Uma nova rodada de negociações vai ser realizada na próxima segunda-feira (10), às 14h, na sede Ministério Público estadual.

O líder do governo confirmou a presença, assim como representantes da Casa Civil do Estado e também representantes de policiais e bombeiros militares, além dos deputados que quiserem participar da discussão.

Vários policiais acompanharam a sessão plenária pelas TVs instaladas nos corredores da Assembleia. Foto: Marcelo Bloc/Blog do Edison Silva.