O deputado Evandro Leitão (PDT) classificou a fala do deputado federal como “desastrosa” e “inconcebível”. Foto: ALECE.

Em uma sessão esvaziada, com pequena presença de deputados no plenário da Assembleia Legislativa, parlamentares aproveitaram esta sexta-feira (01) para repudiar declarações do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) à jornalista Leda Nagle. Eduardo teria afirmado que, caso a esquerda brasileira radicalizasse ao mesmo nível do Chile e da Argentina, o Governo Federal precisaria dar uma resposta e ela viria na forma de um novo AI-5.

O deputado Evandro Leitão (PDT) classificou a fala do deputado federal como “desastrosa” e “inconcebível”, uma vez que, além de deputado, Eduardo Bolsonaro é líder do PSL e filho do presidente da República. “Se espera responsabilidade, sabedoria, prudência e maturidade de um parlamentar, ainda mais sendo filho de um presidente e líder do seu partido. Ele não tem o menor preparo ou qualificação para o cargo e ainda tinha pretensão de ser embaixador do nosso País nos Estados Unidos. Me parece que acorda todos os dias pensando qual a besteira que irá falar naquele dia”, avaliou.

> Evandro Leitão acredita que falas de filho de Bolsonaro prejudicam o país. Ouça:

 

Evandro recordou o que representou o Ato Institucional n° 5 e os impactos causados na sociedade à época. “O AI-5 foi um artifício da ditadura, na época do então presidente Costa e Silva, que deu poderes totalitários, fechou o Congresso, caçou mandatos, nomeou interventores e implantou até mesmo toque de recolher”, lembrou.

Leia também:
> Eduardo Bolsonaro pede desculpas tentando esclarecer suas declarações sobre o AI-5
> Reação às declarações de Eduardo Bolsonaro sobre novo AI-5. Camilo e Ciro publicam notas

Para o parlamentar, a declaração teria sido proposital, no intuito de tirar o foco dos últimos acontecimentos da investigação do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, onde foi apontada uma possível vinculação do presidente Jair Bolsonaro. “É óbvio que isso foi dito para tirar o foco da repercussão do caso Marielle Franco, pois a investigação se deparou com uma possível vinculação. Espero que o presidente Bolsonaro tenha serenidade, maturidade e sabedoria para governar para todos, ao invés de se usar da truculência e radicalismo. Ele deveria estar preocupado com as manchas de óleo no nosso litoral nordestino”, aconselhou.

Manifesto de repúdio

Também utilizando-se de seu tempo na sessão, o deputado Renato Roseno (PSOL) cobrou o engajamento dos colegas parlamentares na elaboração de um manifesto de repúdio às declarações. “O PSL criticou este abjeto discurso contra a democracia, que foi conquistada a duras penas neste País. Muita gente morreu e foi torturada nos porões covardes da ditadura, e elogios ao repugnante AI-5 traz memórias da pior página da história do Brasil”, salientou.

Segundo Roseno, a fala do deputado federal ultrapassou todo e qualquer limite do aceitável. “Precisamos levantar a voz, altiva e valente em favor da democracia, caso contrário podemos correr o sério e real risco de um regime fascista neste País”, afirmou. Ele sugeriu que os poderes Judiciário e Legislativo se posicionem em relação a este tema. “Ou ocupamos o lugar na história que nos apresenta ou seremos covardes. E eu não quero entrar no rol dos covardes e silenciosos”, assinalou.

Defesa

Em aparte a Evandro, a deputada Dra. Silvana (PL) ponderou que a fala do deputado federal Eduardo Bolsonaro não pediu nenhuma intervenção militar. “Entendo que Eduardo não pediu intervenção, apenas um comparativo caso aconteça baderna como está no Chile e na Argentina. E acho que quando a ordem é abalada, precisamos mesmo de intervenção”, opinou.

Ataques

A defesa ao filho do presidente, porém, parou por aí. Todos os demais apartes foram no sentido de condenar as declarações. Para o deputado Marcos Sobreira (PDT), nunca houve um discurso tão duro, anti-republicano e antidemocrático. “Isso é rasgar a constituição. Ele é deputado federal, e como todos nós, jurou defender a Constituição. Obviamente sabemos que a intenção é desviar o foco do caso Marielle Franco. É lamentável que estejamos discutindo as besteiras que um deputado fala, em vez de nos concentrarmos na situação do nosso litoral, vítima de um derramamento de óleo criminoso”, salientou.

Queiroz Filho (PDT) considerou que, independente de divergências políticas e partidárias, certos limites democráticos precisam ser respeitados. “Nós jovens não sofremos diretamente com a ditadura militar, mas quem tem um pouco de discernimento pode imaginar este momento histórico terrível”, comentou.

A deputada Augusta Brito (PCdoB) se somou ao ato de repúdio às declarações do deputado federal. “É o mínimo que esta Casa pode fazer pela democracia”, opinou.

Para o deputado Elmano Freitas (PT), a democracia aceita toda e qualquer posição daqueles que pensam diferente e do direito de expressarem suas ideias, mas não aceita aqueles que são contrários à democracia. “O Eduardo Bolsonaro expressa a opinião de setores da sociedade, pois a democracia é tão boa que admite até aqueles que vão às praças públicas defender a tortura e o estupro. Mas a atitude exemplar a ser seguida seria a cassação do seu mandato”, defendeu Elmano.

O deputado Carlos Felipe (PCdoB) também endossou o entendimento de que o mandato de Eduardo Bolsonaro deveria ser cassado. “A conduta de um parlamentar não pode ser essa, e a Câmara Federal tem que assumir um posicionamento. E o ideal seria o caminho da cassação”, pontuou.

Cobrança de punição

Até o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), que estava na Assembleia Legislativa participando do II Congresso Cearense de Direito Eleitoral, criticou as declarações de Eduardo, cobrando punição ao parlamentar. “Na medida que um parlamentar utiliza do seu mandato para defender a destruição da democracia, a começar no âmbito interno do Parlamento, deve receber algum tipo de sanção, porque a imunidade não protege quebra de decoro”, disse.