Senador Cid Gomes (PDT), Lula (PT) e o então governador Camilo Santana (PT) em agosto de 2021 quando o ex-presidente esteve no Ceará. Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação.

Até os cinco primeiros dias de agosto, prazo final para realização das convenções partidárias que homologarão todas as candidaturas para o pleito deste ano, nós vamos conviver com as inúmeras especulações sobre coligações majoritárias e novas composições das casas legislativas. Essa onda sobre a coligação do PDT com o PT, no Ceará, com vistas à disputa eleitoral próxima, sobretudo em relação ao candidato a governador a ser indicado pelo PDT, superará todas as outras matérias especulativas, mas a coligação dificilmente será alterada. O ex-presidente Lula é o fiador dela, após o encontro que teve em Fortaleza, no Palácio da Abolição, com o senador Cid Gomes e o ex-governador Camilo Santana, sendo este o representante do PT na chapa majoritária como postulante ao Senado.

O ex-governador Camilo Santana é o principal interessado na aliança, e o deputado federal José Guimarães, controlador do diretório estadual, também a defende. Camilo já falou que haverá coligação, respondendo fora do seu tom normal a manifestações atribuídas aos deputados federais José Airton e Luizianne Lins. Guimarães faz discurso para agradar os opositores da aliança dentro do PT, quando passa a ideia de ainda haver alguma dúvida quanto ao já acertado. Lula tem interesse na coligação olhando para o segundo turno da disputa presidencial, principalmente agora quando não mais tem a expectativa de ganhar a eleição no primeiro turno, visto a reação do seu principal opositor, o presidente Bolsonaro. Numa coligação não há espaço para vetar o nome desse ou daquele partido, salvo se antes do acerto da coligação, o veto ou os vetos, ficarem acordados. Portanto, esse discurso de veto a Fulano ou a Cicrano é somente um engodo. O fim da Coligação do PT com o PDT, no Ceará, prejudica a ambos. E, por certo, o que mais sentirá é o próprio PT.
Nas eleições de 2018, Camilo Santana disputando o segundo mandato de governador, portanto o PT comandando o Estado em coligação com o PDT, foi reeleito, no primeiro turno, com 79,96% dos votos. Já o resultado da eleição proporcional, com o PT em chapa separada do PDT, por conveniência política da coligação geral, enquanto o PDT somou, isoladamente, para deputado federal 1.015.230 votos, elegendo 6  parlamentares, o PT recebeu 522.986 sufrágios, garantindo 3 cadeiras na Câmara Federal. Já em relação à disputa para o Legislativo estadual, a diferença foi ainda maior. O PDT obteve 1.347.567 votos, elegendo uma bancada de 14 parlamentares, enquanto o PT foi vitorioso com 4 estaduais por ter obtido 392.601 votos, ou 8,57% do total de votantes. E o governador era do PT, e não discriminou os “companheiros” de sigla.
Pode-se dizer que o ex-governador Camilo Santana não transferiu votos para os petistas, do mesmo modo que não o fez em relação ao candidato a senador, Eunício Oliveira, a quem tanto exaltou, nos palanques. Mas aqui é uma outra questão a ser tratada em momento próprio. Hoje, no Ceará, o PT não tem quadros para apresentar um candidato competitivo ao Governo do Estado. E todos eles sabem disso. Só fala em candidatura própria quem está precisando de ajuda para sua eleição, ou tentando, antecipadamente, assegurar uma posição no futuro Governo, se este for de continuidade. Lula, Camilo e Guimarães, por razões diversas, têm interesse na coligação, mesmo com o presidenciável Ciro Gomes fazendo as duras críticas ao comportamento do ex-presidente, o que já era feito, com a mesma contundência de agora, quando Lula concordou com a aliança tendo Camilo como candidato ao Senado.
Lula, pragmático como o é, quer de qualquer modo é juntar apoiadores. Se assim não fosse ele não estaria encontrando-se com peemedebistas que defenderam e fizeram o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, considerados, até bem pouco, como traidores pela quase totalidade dos petistas. E não teria ido buscar para ser o seu vice um ex-tucano, Geraldo Alckmin, que dele disse coisas desagradáveis e desrespeitosas. Hoje, só lhe interessa entendimentos. Ademais, o seu único objetivo é eleger-se presidente, se possível com aliados para ter garantia de governabilidade, em sendo de fato vitorioso. De nada vale para ele quem seja o governador do Ceará. Ele precisa é do apoio do grupo deste governador, no segundo turno da eleição, e, posteriormente, se presidente for.
Veja o comentário do jornalista Edison Silva sobre o assunto: