Djalma Pinto . Foto ALECE

Há uma máxima segundo a qual dinheiro e poder são bens materiais e imateriais, que provocam imensa sedução nos homens, na sua passagem pela terra. O mundo está a comprovar a veracidade dessa assertiva. Dois senhores septuagenários se digladiam pelo comando do País detentor da maior economia do planeta. Um empresário, que se tornou político, conquistando a chefia do Executivo e um político de carreira, que conquistou o comando de seu País, derrotando um Presidente milionário.

Para relembrar a todos que ninguém resiste à força implacável do tempo, a natureza deixou claro que ambos envelheceram e aquela Nação não atentou para a necessidade de renovação do quadro de líderes para a condução do seu destino. O debate entre os dois candidatos, realizado em 27 de junho de 2024, trouxe à tona a dramaticidade vivenciada pelos eleitores americanos, particularmente, aos simpatizantes do Presidente Biden.

Os periódicos, mesmo alinhados ao Partido Democrata, não relutaram em sugerir que Biden desistisse e o Partido apresentasse outro candidato. Mais veemente, o New York Post disparou no seu editorial: “Acabamos de testemunhar o fim da Presidência de Joe Biden. Não parecia velho, mas sim antigo e vazio, e que é uma negligência política mantê-lo na disputa. Chegou-se a questionar como seus assessores mais próximos e os integrantes de seu Partido não foram capazes de convencê-lo a não disputar a reeleição”.

Eis a questão: como convencer um ocupante do poder político de que o melhor para seu país, seu Estado ou seu Município é não mais concorrer ao respectivo cargo, que conquistou pelo voto? Esse é um desafio, que a educação para a cidadania, prevista no art. 205 da Constituição do Brasil, precisa colocar em prática. Por meio dela, se deve incutir, na mente de toda criança e dos jovens, a lição de que o poder político é um instrumento para servir à sociedade, jamais aos caprichos, à vaidade ou aos interesses particulares de quem nele é investido. Por certo, não padecerão da patologia do excessivo apego ao cargo.

A prática pedagógica, preocupada apenas com a transmissão de saber, desprezando a propagação dos valores necessários para a direção exitosa da Administração pública, resultou em um singular constrangimento para a Nação americana. Em pleno século XXI, se vê compelida a assistir a dois idosos se atacando, na disputa pelo comando da América para, no final, ter como única opção descartar o de maior decrepitude. Triste momento para um País, porto seguro e abrigo histórico para as vítimas dos opressores da liberdade. As lições de Abran Linchon, Franklin D. Roosevelt, Thomas Jefferson e outros personagens ilustres que o engrandeceram, parecem ter sido suprimidas da memória da geração da internet.

No Brasil, José Sarney, estimulador da governança de compadrio, colocado no poder após 20 anos do golpe militar, sem voto direto do povo, cunhou a frase egocêntrica, que está a provocar o desconforto suportado pelos cidadãos da América: “a política só tem uma porta de entrada”. Devido à assimilação desse legado, incompatível com a prosperidade de qualquer povo, alternam-se oligarquias e eterniza-se uma governança fisiológica, que agrava a desigualdade e a pobreza no Brasil.

Ao adotar a lição destrutiva do ex-Presidente brasileiro, Biden coloca o eleitor americano em uma encruzilhada. Obriga-o a uma dolorosa opção de escolher quem está a exibir menor nível de senilidade para conduzir o destino de sua Nação.

Para o mundo, fica clara a necessidade da sedimentação da ideia de que o exercício do poder deve ser efêmero, prestando desserviço ao Estado quem, após ser nele investido, não consegue encontrar a porta de saída, a despeito dos danos irreparáveis que isso representa ao gerenciamento de seu povo.

*Advogado, autor de diversos livros, entre quais Pesquisas Eleitorais e a Impressão do Voto; Ética na Política e Distorções do Poder.