A estação chuvosa parece, definitivamente, chegou aqui no Ceará. A chuva que em nosso Estado sempre traz consigo a esperança da recarga de barragens e reservatórios espalhados pelo extenso território do nosso Ceará mas, principalmente, é sinônimo de segurança de que teremos água suficiente para beber e mais fartura na nossa produção agropecuária. A despeito da grande e boa expectativa que essas chuvas recentes estão trazendo, as previsões da FUNCEME ainda sinalizam para uma estação chuvosa abaixo da média histórica.

O Governo do Estado fez, ao longo da última semana, o lançamento de um plano para o enfrentamento a uma eventual seca aqui no estado do Ceará. Acerta na forma, ao decidir se antecipar com um plano, mas erra no conteúdo. O “plano” parece um discurso, carregado de palavras simbólicas, mas sem qualquer substância. Pelo o que li e me informei, as ações são muito limitadas, insuficientes e vagas.

O número de famílias beneficiadas é outra informação ainda mais vaga e não traz qualquer inovação. Parece uma colagem de ações. Aliás, muito menos que o suficiente, que já estão em andamento. Mas o elemento não falado de tudo isso é que as obras hídricas que poderiam modificar a esse tempo a realidade de uma eventual seca em nosso Estado, em especial com as águas do São Francisco já correndo por solo cearense, andam “a passos de tartaruga”. A obra do Cinturão das Águas do Ceará (CAC), por exemplo, foi iniciada em 2013, com previsão de entrega da primeira etapa, em 2015. Atualmente, o CAC ainda conta com trechos desta primeira etapa ainda em andamento e/ou parados.

O Cinturão das Águas do Ceará (CAC) foi pensado por uma turma de técnicos muito competentes, integrantes de uma geração de cearenses de referência nacional na área de Engenharia de Recursos Hídricos. A ideia original era se antecipar às obras de transposição do Rio São Francisco para garantir que essa água que chega no nosso Cariri cearense pudesse garantir a integração e a perenização de nossas bacias hidrográficas nas mais diferentes regiões do Estado. Uma iniciativa ousada e inteligente para amenizar os impactos das secas eventuais que teimam em maltratar a vida no nosso sertão.

Para muitos, se bem executado, o projeto poderia ser uma resposta definitiva para a questão da escassez de água no Ceará. Entretanto, como muitas outras obras de médio e grande porte que geraram muita expectativa aqui no Estado do Ceará, o CAC é mais uma que não terminou, nem mesmo na sua primeira etapa. Já se vão 11 anos desde a sua ordem de serviço. Muitas interrupções, uma excessiva lentidão na execução, mudanças de planos e muitos atrasos e reajustes no pagamento da obra têm sido a regra geral.

Muito além do que já se fala, justamente mal dos atrasos em obras públicas, é muito difícil encontrar uma razoável justificativa para explicar porque uma obra com tanto impacto e de tanta centralidade para o desenvolvimento do Estado e segurança hídrica da nossa população, tivesse ainda andando com tamanha lentidão, após tantos anos de espera e convívio desafiador com os períodos de estiagem. Ao final do ano de 2023, o governador do Estado apresentou mais um novo prazo de conclusão das obras. Agora ficou para 2025.

Mas bom que se diga, não é de todo o projeto original do CAC, mas sim de apenas uma etapa dele. Mesmo sendo só um pedaço do projeto originalmente lançado, à luz da quantidade de obras estaduais paradas, outras tantas em atraso de pagamento e muitas mais andando com assustador desleixo, não há muita confiança que esse novo prazo seja cumprido. Entretanto, os nossos sertanejos nos dão as lições mais profundas de fé e otimismo, mesmo frente a tantas adversidades.

Será inspirado pela esperança dos nossos sertanejos, mas com o senso de responsabilidade e experiência de gestão pública que a população cearense me propiciou, que irei, certamente junto de muitos outros, fiscalizar e monitorar com rigor e critério, o cumprimento de mais essa promessa de um novo prazo para o CAC. E que se diga, apenas de uma etapa dele. Vamos esperar pra ver!