Lugar de professor é na sala de aula ou em espaços de planejamento das aulas, de médicos é prestando o nobilíssimo serviço de atendimento nos hospitais e em outros espaços de socorro a pacientes, e, óbvio, de policiais, notadamente os praças (soldados e cabos), é no policiamento ostensivo para garantia de segurança à nossa população, no momento, apavorada com a insegurança, reconhecida pelas próprias autoridades, segundo elas pelo domínio de facções criminosas em vários pontos do Estado.

No último dia 14, um ato da governadora Izolda Cela, referendado por representantes das secretarias de Planejamento e de Segurança Pública, suspendeu a cessão do cabo da Polícia Militar do Ceará, Francisco Evandson Teixeira Lima, que havia sido cedido pelo então governador Camilo Santana para o gabinete do vice-prefeito do Município de Caucaia, Franciso Deuzinho de Oliveira Filho. Sem conhecer as razões do ato da governadora, qualquer cidadão tenderia a elogiá-lo, mas, quando a verdade da motivação do ato vem à tona, decepção. Antes de ser uma medida moralizadora, para fazer com que os policiais voltem ao trabalho em favor da sociedade, o ato governamental foi de fato uma medida de retaliação política.

Deuzinho Filho e o prefeito de Caucaia, Vitor Valim, eram duas das importantes adesões conseguidas por Camilo Santana para o projeto eleitoral do PT. Caucaia, por conta da adesão, foi um dos municípios cearenses que mais receberam recursos do Governo do Estado, nos últimos meses. Mas, o segundo turno da sucessão presidencial dividiu prefeito e vice. Valim ficou com Lula, e Deuzinho com Bolsonaro. E por conta desta adesão nasceu o ato da governadora suspendendo a cessão daquele cabo da Polícia. Uma situação, pela circunstância, que deixa de ser nobre para ser pequena, pois não passa de uma retaliação que ao fim só agride o currículo da governadora.

E quantos policiais, nos 184 municípios do Estado estão na situação em que estava o cabo Evandson? E professores? E médicos? É o governante de plantão utilizando-se da máquina pública para satisfação dos seus interesses pessoais, causando grandes prejuízos à população dependente de segurança de escolas e de saúde. As prefeituras, todas elas e mais ainda as dos grandes municípios têm condições de ter estrutura própria. Caucaia, uma das cidades mais violentas do Estado, precisa de mais policiais nas ruas. Tirar um policial das ruas de Caucaia, ou de qualquer outra localidade do Ceará, para colocar em gabinete de político, deveria ser considerado Crime de Responsabilidade do governante que permite o desvio de função do militar, e de quem o acolhe para a satisfação do interesse político.

O Ministério Público (MP) estadual deveria ser mais vigilante quanto aos desvios de funções desses profissionais tão caros à sociedade (professores, médicos e policiais).  É possível que o próprio Ministério Público e os outros Poderes do Estado (Legislativo e Judiciário) tenham mais policiais às suas disposições do que o necessário para a guarda dos seus respectivos  patrimônios. Que tal uma avaliação sobre o tamanho da Casa Militar do Governo do Estado e sua extensão com as companhias da Assembleia Legislativa e do Tribunal de Justiça, mesmo sabendo que as cessões de militares para políticos são de fora da Casa Militar. Evidente, por razões sabidamente óbvias, que a Assembleia não tem interesse em discutir essa questão.

A sociedade precisa ser mais vigilante para evitar situações anômalas desse tipo. E também para desmascarar discursos de governantes demagógicos que só sabem fazer política utilizando-se dos recursos da administração pública.