Marcelo Rebelo de Souza é cumprimentado por Bolsonaro no palanque de autoridades em Brasília, nas comemorações do bicentenário da Independência. Reprodução

Os presidentes dos poderes Legislativo e Judiciário, pela primeira vez na história recente do País, deixaram de participar do ato solene de comemoração da Independência do Brasil. As ausências chamam mais a atenção pelo fato de este 7 de setembro marcar os 200 anos da nossa independência de Portugal, o País dos nossos descobridores. Marcelo Rebelo de Souza, o atual presidente português, veio para as festas e deve voltar para sua terra consciente de que o chefe do Estado brasileiro não é apenas rude com representantes de outros povos, como já foi com ele, recentemente, quando cancelou uma audiência no Palácio do Planalto, pelo fato de o governante português ter estado antes com o ex-presidente Lula.

O senador Rodrigo Pacheco, presidente do Congresso Nacional, já havia antecipado, na véspera do feriado, sua decisão de não ir ao principal evento das comemorações da Independência (o desfile na Esplanada dos Ministérios, em Brasília), alegando temer que Bolsonaro, como de fato aconteceu, transformasse a festa em ato de campanha política. E o chefe do Poder Judiciário, ministro Luiz Fux, pelas mesmas razões e, mais, para não correr o risco de ouvir novas acusações do presidente da República ao Judiciário e a alguns dos seus integrantes, notadamente o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Alexandre de Moraes.

Bolsonaro, ontem (7), ofereceu novos elementos negativos para outro capítulo da história do Brasil. Perdeu uma grande oportunidade de ser lembrado como o presidente da República do Brasil que fez uma grande festa comemorativa do bicentenário da Independência. Se para uma boa parte dos brasileiros, principalmente os seus seguidores, as ausências dos chefes dos outros poderes da República ao seu lado, em data tão significativa para o sentimento cívico da população nada represente, para a outra parte dos nacionais, e a comunidade internacional, as ausências, pelas razões apontadas, têm-no como figura apequenada.

Candidato à reeleição, o presidente não está impedido de fazer campanha. Deve fazer, sim, e até mesmo no dia 7 de setembro. Não, porém, aproveitando-se da festa cívica. Além disso, o linguajar chulo utilizado em um dos seus discursos, inapropriado para qualquer dia ou ambiente, só não tira o brilho da festa pelo fato de a sua magnitude ser infinitamente maior que qualquer presidente, mas decepciona a todos quantos emprestam importância à data. Os brasileiros precisamos de presidente que respeite e honre a faixa, com as cores da bandeira, que recebe após ser empossado no cargo.

Falta pouco tempo para todos os cidadãos irem às urnas escolher os seus novos representantes nas Casas legislativas (Assembleias e Congresso Nacional), governadores e presidente da República. É um curto espaço de hoje até o dia 2 de outubro, mas, o suficiente para que todos meditem e escolham os melhores. Os eleitos, embora digamos que são o espelho da sociedade atual, não estão confirmando ser a representação do todo, pois somos uma sociedade que reúne muitos melhores nomes de boa parte dos eleitos ultimamente. E o cuidado na escolha dos representantes precisa ser com todos: deputados, senadores, governadores e presidente da República.

Que a nova geração, com o privilégio de comemorar os 250 anos da Independência do Brasil, tenha melhor sorte que os frustrados com os acontecimentos do bicentenário.