Após divulgação de áudio, Cleyber Araújo foi orientado por seu advogado a permanecer em silêncio. Foto: ALCE

A “CPI do Motim” passou por uma reviravolta nesta terça-feira (07) após divulgação de áudio apresentado pelo relator Elmano de Freitas (PT), em que o depoente do dia, Cleyber Araújo, presidente da Associação dos Profissionais de Segurança (APS), aparece, supostamente, negociando R$ 400 mil para obtenção de liminar. Após ouvir os áudios, o dirigente da entidade foi orientado por seu advogado a permanecer em silêncio, e ele não respondeu aos questionamentos feitos a posteriori. Cleyber, sendo Elmano, agora estará na condição de indiciado.

De acordo com a gravação, pessoas estariam reunidas e discutindo como fariam para conseguir limiar junto à justiça, e em determinado momento alguém propõe uma negociação com uma terceira pessoa, que cobraria dois meses de arrecadação da Associação naquele momento, ou seja, algo em torno de R$ 400 mil. Esse valor, inclusive, motivou novo depoimento de Cleyber Araújo nesta terça-feira, a pedido do deputado Marcos Sobreira (PDT).

Antes da divulgação do áudio, o dirigente apresentou documento sobre os serviços de advocacia no valor de R$ 400 mil, que segundo ele, tratava-se de serviço de consultoria e treinamento para dois advogados da Associação.  Ainda de acordo com ele, o outro documento entregue à CPI estava “equivocado”, mas nada teria sido alterado. “Nada foi alterado. O que alterou foi que esse está com a assinatura original”, justificou.

Para Elmano de Freitas, o que está no áudio é um fato grave que não interfere apenas na APS, mas “em outras coisas maiores”. Ainda de acordo com o relator, após suspensão de descontos para as associações, algumas dessas entidades conseguiram liminares que permitiram a obtenção dos descontos, enquanto que a Associação dos Profissionais de Segurança não conseguiu. “A APS começou a não honrar com seus compromissos. E talvez começou a atrasar salários e começou a se encontrar em situação de desespero”, disse.

De acordo com as falas no áudio alguém diz “isso é contra a nossa essência, mas na guerra a gente faz coisas que não concorda”. “Alguém ofereceu o serviço e alguém, por desespero, pode ter aceitado”, apontou Elmano de Freitas. Na conversa, um dos homens fala na possibilidade de levar ações dos consignados para outras instâncias da Justiça, em Brasília, o que envolveria o montante negociado de R$ 400 mil.

Elmano de Freitas afirmou que iria solicitar à CPI que Cleyber passasse para a condição de indiciado e não mais de testemunha, e também destacou que vai pedir a perícia do áudio, além da quebra sigilo bancário e fiscal da pessoa que foi contratada para a suposta capacitação de advogados  “para irmos vendo o percurso desse recurso. Vou juntar o áudio aos altos para que temos a confirmação que é a voz de vossa senhoria”, disse o relator.

“Não tenho dúvida que o áudio está posto e a voz é do presidente da APS. Primeiro ele disse que tinha uma advogado para atuar no processo, agora o contrato é para capacitação do processo. Está negociando para fazer tráfico de influência para dar certo a liminar. O contrato do advogado que virou contrato de capacitação. O áudio diz que não era nem uma coisa e nem outra” – (Elmano de Freitas)

 

Salmito Filho, presidente do colegiado, fez os devidos encaminhamentos. Segundo ele, o áudio será periciado, e se a voz, de fato, foi de Cleyber Araújo, a investigação prosseguirá. “Se a perícia disser que não é, vai perder o valor”, afirmou. Ainda de acordo com ele, durante todo o trabalho do colegiado, nenhum dado vazou para qualquer veículo de comunicação. “Isso é uma demonstração de zelo e cuidado”.

Quebra de sigilo

Os próximos passos da CPI, segundo o relator: juntar o áudio à Polícia Civil para confirmação da voz do depoente; apresentação de requerimento da quebra de sigilo fiscal do que está apresentado no contrato; solicitação à entidade das contas para as quais foram enviados os contratos.