Essa é uma das constatações da segunda edição da pesquisa Equidade de Gênero na Política, promovida pelo DataSenado, em parceria com o Observatório da Mulher. Foto: Reprodução/Justiça Eleitoral

As eleições de 2020 apontaram maior empoderamento e iniciativa das mulheres em relação a suas próprias candidaturas, em linha com o incentivo pelos partidos e a observância da lei de cotas. Essa é uma das constatações da segunda edição da pesquisa Equidade de Gênero na Política, promovida pelo DataSenado, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência, lançada nesta última segunda-feira (30) durante o seminário Mais Mulheres na Política.

A pesquisa ouviu 2.850 candidatos às eleições municipais de 2020 (prefeito e vereadores), entre os dias 22 de março e 13 de abril de 2022. Os entrevistados foram selecionados por amostragem aleatória por estrato de idade e gênero, por exemplo. Já para os que concorreram aos cargos federais e estaduais (presidente, governadores, senadores e deputados federais, distritais e estaduais) foi feito um censo.

Enquanto 78% dos entrevistados têm a percepção de que a lei de cotas – que obriga os partidos a lançarem pelo menos 30% de mulheres para concorrer aos cargos nas eleições proporcionais – de fato ajuda na eleição de mulheres, 59% das mulheres entrevistadas afirmam ter se candidatado por iniciativa própria nas eleições de 2020, índice que ficou em 53% no pleito de 2016.

De acordo com os organizadores da pesquisa, nas duas últimas eleições, apenas 33% dos candidatos eram do sexo feminino, percentual muito abaixo da representatividade populacional feminina acima de 18 anos, superior a 52%. Mas já há avanços quando se nota que no levantamento de 2016 apenas 21% eram do gênero feminino.

Violência de gênero

A violência de gênero é uma realidade entre as candidatas. Enquanto 32% das que concorreram às eleições municipais afirmam terem sido discriminadas no ambiente político por serem mulheres, o percentual chega a 40% nas concorrentes das eleições majoritárias. Entre os homens, os percentuais foram de 10% e 7%, respectivamente.

Pelo menos 2% das mulheres e 24% dos homens relataram ter sofrido algum tipo de violência dentro do ambiente político entre os candidatos a cargos municipais. Mas aos cargos de nível estadual e federal, os índices sobem para 33% entre as candidatas e para 28% entre os candidatos.

“De forma geral, homens e mulheres relatam níveis semelhantes de violência física e econômica. Há diferenças significativas, contudo, nos níveis de violência moral e simbólica. Enquanto o percentual de homens (36%) é maior que o de mulheres (27%) que afirmam ter sofrido calúnia, difamação ou injúria (violência moral); o quadro se inverte nas ocorrências de desqualificação por gênero (violência simbólica), em que 22% das mulheres afirmam terem passado por essa situação, ao passo que 8% dos homens relataram o mesmo”, apontam os organizadores.

Uma das práticas comuns de violência é o impedimento ou interrupção de fala. Enquanto 28% das candidatas municipais apontaram terem passado por essa situação, o percentual sobe a 40% entre as que concorreram às eleições majoritárias.

De acordo com os organizadores da pesquisa, esses dados reforçam a importância da Lei n° 14.192, de 2021, que “estabelece normas para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher”.

Durante o seminário Mais Mulheres na Política, Isabela Lima, chefe do Serviço de Pesquisa e Análise do Instituto DataSenado, destacou a grande diferença entre os percentuais de mulheres que relatam experiências de discriminação (32%) e de violência (23%). Para ela, o descompasso de quase 10% entre esses dados indica uma normalização do tratamento dado às mulheres no ambiente político.

“A discriminação não é vista como violência. Fica a questão se já nos acostumamos a ser discriminadas”, afirmou Lima.

Motivação

Entre homens e mulheres há empate técnico, 53% e 52% respectivamente, quando apontam o “poder fazer a diferença” como principal motivação para entrarem na política, seguido pela “participação em movimentos sociais” e pela “influência da família”.

Ao serem questionados sobre como se sentiam preparados para o exercício do cargo, a maioria (51%) se classificou como “muito preparado” para os cargos municipais. Mas essa percepção diminui entre as mulheres (44%) e aumenta entre os homens (65%) quando das eleições majoritárias, o que sugere uma diferença de percepção para os cargos mais altos.

As mulheres também se sentem menos confiantes que os homens em relação às chances de serem eleitas, em especial na primeira vez em que concorrem. Enquanto 62% dos candidatos apostavam na vitória, o percentual foi de 41% entre as candidatas.

Da mesma forma há grande disparidade entre os gêneros quanto a se candidatarem novamente: 70% o fariam entre os homens e 49% entre as mulheres. E os que não pretendem fazê-lo apontam a “falta de apoio dos partidos políticos” como principal motivo, seguido de “o ambiente político não atendeu às expectativas”.

Paras 80% das mulheres e 55% dos homens entrevistados, o sistema político privilegia o sexo masculino. Há mais: 66% dos candidatos das eleições de 2020 acreditam que os partidos políticos não fornecem condições iguais de concorrência para os dois gêneros. O percentual sobe a 76% entre os entrevistados do pleito de 2018.

Fonte: Agência Senado