Palácio da Abolição – Sede do Governo do Estado do Ceará. Foto: Gov.CE.

Eunício Oliveira (MDB) perdeu a eleição de governador do Ceará para Camilo Santana (PT), no primeiro turno da eleição de 2014, por uma diferença de 59.734 votos. Uma diferença muito pequena em relação ao total dos 4.265.633 votos válidos. Para o pleito deste ano, oito anos depois, projeta-se uma disputa ainda mais acirrada. O sentimento de hoje é que as oposições estão unidas, confiando na postulação à chefia do Executivo cearense do deputado federal Capitão Wagner. Como, indiscutivelmente teremos uma eleição de dois turnos, o segundo, como aconteceu em 2014, pode ser bem diferente do primeiro.

A comparação de prováveis resultados da disputa de governador deste ano com a de 2014, e não com a eleição de 2018, é exatamente pelo fato de esta ter sido a da reeleição, e, como já comentamos, em mais de uma oportunidade, o candidato à reeleição leva uma vantagem muito grande sobre seus adversários e, dificilmente tem a recondução realmente ameaçada, como foi o caso de Cid e do próprio Camilo. Lúcio Alcântara foi uma exceção à regra. A oposição que vai concorrer neste ano, não é tão maior que aquela de 2014, mas tem como primeiro diferencial o candidato, com mais condições de agregar aliados, e, robustecida por um bom tempo para a propaganda eleitoral, sobretudo se com ela estiver o União Brasil, o novo partido que terá o maior tempo para propagar os seus candidatos pelo expressivo tamanho da sua bancada na Câmara dos Deputados, resultado do somatório de parlamentares eleitos pelo PSL e pelo DEM em 2018.

A oposição, só pelo fato em si de divergir dos governistas, os seus candidatos a cargos majoritários já partem com uma certa vantagem. E essa vantagem amplia-se, no caso cearense e em qualquer outro lugar onde o Governo representa um grupo há anos, posto a arrostar o desgaste natural do tempo, mesmo apresentando bons resultados administrativos ao longo dos seus governos. O desgaste, porém, não é superior ao sucesso conseguido com as boas gestões. Ademais, eleitores existem que, mesmo defendendo a necessidade de mudança para experimentar o novo, não arriscam-se a mudar pelo simples fato de mudar. Se os contestadores não lhes passarem a segurança de pelo menos manter o bom que os atuais gestores vêm produzindo, eles permanecem votando com quem está no Poder.

Mas os governistas vão precisar de bem mais esforço que os empreendidos, nas últimas eleições, para convencer aos eleitores de não mudar agora, mostrando, com números e argumentos fortes, de os concorrentes constituírem-se em ameaça ao projeto que ainda precisa avançar. O discurso dos oposicionistas também será forte, muito forte até, exigindo do candidato governista a veemência devida. O discurso forte do então governador Cid Gomes, aliado ao mostruário dos seus dois governos, garantiu a vitória de Camilo Santana. Na campanha deste ano Cid já não terá um discurso tão forte quanto o de outrora, e seus governos já não mais estão vivos na memória do cearense. Ele será um diferencial na campanha do candidato do PDT, mas o discurso deste, com a altivez esperada de um pretenso governador, é o que importará no confronto com o tom da fala do seu opositor.

Qualquer que seja o candidato do PDT, representando o grupo governista, a disputa majoritária estadual deste ano será a mais acalorada das duas últimas décadas, também pelo fato de a oposição contar com mais espaço para propagação do seu discurso. Wagner tem um discurso forte, e alguns dos seus principais aliados o estimulam mais ainda. Até aqui, a reverberação da sua fala não tinha a dimensão que terá neste ano, quando entrará na disputa com uma certa força partidária, além do apoio do presidente Bolsonaro, que, mantida a polarização hoje existente com o ex-presidente Lula, resultará em benefícios para sua postulação.

Também por conta de dimensionar a musculatura da oposição, neste ano, é que o PDT vai manter a sua tradição de definir o nome do candidato na véspera da convenção partidária de homologação das candidaturas. O partido tem, realmente, opções de nomes para o cargo de governador, mas ele também guarda conveniências e, por isso, quanto mais próximo da data limite de escolha do candidato, melhor e mais abrangente será o seu conhecimento da dimensão do adversário que enfrentará em outubro próximo.

Veja o comentário do jornalista Edison Silva sobre o assunto: