Palácio da Abolição – Sede do Governo do Ceará. Foto: Governo do Estado.

Depois da cisão do grupo dos coronéis (Adauto Bezerra, César Cals e Virgílio Távora), em 1986, quando o ex-governador Gonzaga Mota, que eles elegeram rompeu e indicou para sucedê-lo o hoje senador Tasso Jereissati, à época filiado ao PMDB (ainda não existia o PSDB), a oposição só ganhou uma eleição para o Governo do Estado, liderada à época pelo hoje senador Cid Gomes, em 2006, sendo candidato pelo PSB e mais PT, PCdoB, PMDB, PRB, PP, PHD, PMN e PV. O seu adversário foi o governador Lúcio Alcântara, concorrendo a um segundo mandato, representando o PSDB e mais seis outras agremiações: PTB, PTN, PSC, PFL, PAN e PTC.

Lúcio Alcântara foi o único dos governadores do Ceará, desde a instituição da reeleição, que não conseguiu reeleger-se. De fato, embora ele disputasse pela legenda do PSDB, as principais lideranças desta agremiação o haviam abandonado, no ano anterior ao do pleito, após um discurso contundente do senador Tasso contra a administração do seu correligionário, embora ela registrasse uma boa avaliação. Também merece registro que, sua vitória em 2002, no segundo turno, foi realmente muito difícil. Os três adversários da época, José Airton (PT), Sérgio Machado (PMDB) e Welington Landim (PSB) juntaram-se ao mais votado deles, José Airton, que perdeu a eleição com uma diferença de aproximadamente 3 mil votos. Com Lúcio acabou a hegemonia do senador Tasso, que, além de três mandatos como governador, ainda elegeu no período Ciro Gomes e Lúcio Alcântara.

A partir da chegada de Cid Gomes ao Governo, em 2006, as eleições de governador do Ceará só têm disputa real para o primeiro mandato. Ele como oposição, venceu Lúcio Alcântara no primeiro turno com uma diferença de pouco mais de um milhão de votos. Somou um total de 2.411.457 de votos contra 1.309.277 dados a Lúcio. Concorrendo à reeleição Cid derrotou, no primeiro turno, Marcos Cals com 775.852 votos, representando o PSDB, e Lúcio Alcântara com 654.035 votos, naquele momento filiado ao PR. Já em 2014, Camilo Santana (PT) foi eleito no segundo turno. Ele derrotou o ex-senador Eunício Oliveira com uma diferença de pouco mais de 300 mil votos. Camilo somou 2.417.668 sufrágios contra 2.113.940 de Eunício Oliveira. Hoje, ambos são aliados. O segundo mandato de Camilo foi facílimo. Ele superou o seu concorrente, General Theophilo (PSDB), com quase 3 milhões de votos de diferença. O general conseguiu somar 488.438 e o governador recebeu 3.457.5567 votos.

Esse resumido quadro das últimas sucessões estaduais no Ceará, mostra que as oposições só aparecem com uma razoável condição de competitividade quando o quadro não é de reeleição, como poderá acontecer agora em 2022. A vitória de Cid, em seu primeiro mandato, foi uma exceção. No pleito deste ano, ainda há um fato novo para animar a oposição, além das dificuldades naturais que o grupo governista experimenta, também pelo fato de já estar próximo de duas décadas no comando do Estado, no caso, a polarização da disputa presidencial, que, inexoravelmente reflete neste e em praticamente todos os estados da Federação. É, o quadro nacional de hoje, diferente de todos os vivenciados desde a redemocratização do País. Essa animação, porém, pode esbarrar no fato de a base governista, embora dividida na disputa presidencial, ter a apoiá-la dois dos presidenciáveis, Lula e Ciro.

Mas, independente do que Bolsonaro possa representar eleitoralmente para a oposição no Ceará, assim como o apoio partidário nascente, garantindo um melhor espaço no horário da propaganda eleitoral, o que ela (oposição) não tinha, o certo é que para uma eleição majoritária os candidatos precisam de bem mais. O eleitor pode até ter o desejo de mudar, não necessariamente por entender que os governantes eleitos pelo grupo dominante não estejam gerindo bem o Governo, mas por admitir a possibilidade de experimentar gestores com ideias diferentes. Mas ele de modo algum trocará o certo pelo duvidoso. E a oposição, pelo menos no Estado do Ceará, não entendeu que precisava formar quadros de confiabilidade para o eleitor ser estimulado, sem grandes preocupações com o futuro, a dar um voto de confiança a ela.

O eleitor, se confiar, muda. Ele mudou em 2006, quando tirou do Governo um dos nomes mais respeitáveis da política cearense, Lúcio Alcântara, colocando em seu lugar Cid Gomes, um nome confiável para seguir conduzindo o Estado na nova ordem, nascida com Tasso, em 1986. E não é um discurso forte ou raivoso, o credencial para um candidato tornar-se confiável.

Veja o comentário do jornalista Edison Silva sobre as eleições 2022 no Ceará: