Domingos Filho, Domingos Neto, Gilberto Kassab e Cid Gomes por ocasião de encontro em 2019 no apartamento do senador Cid Gomes em Fortaleza. Foto: Divulgação.

O natural, na coligação partidária de apoio ao candidato da situação à sucessão estadual deste ano, seria, para contemplar os principais aliados, o PDT indicar o candidato a governador, o PSD, partido com o maior número de prefeitos no Estado depois do PDT, apresentar o candidato a vice-governador, e o PP, também com forte presença no Interior, e a segunda maior bancada parlamentar na Assembleia, ter a garantia de apoio a um dos seus deputados para a Presidência da Assembleia. O PT do governador Camilo Santana já está contemplado na aliança com o próprio Camilo sendo o postulante à vaga de senador. As duas vagas de suplentes de senador são muito pouco atraentes para as demais agremiações aqui citadas.

A indefinição do quadro político nacional, como analisamos em comentário na última semana de 2021, neste espaço, não nos garante que a composição da chapa governista a ser montada siga essa ordem natural. Ademais, o episódio que resultou na escolha de Camilo Santana para disputar o seu primeiro mandato de governador está sendo levado em consideração para que o escolhido, como vice, seja uma pessoa desprovida de qualquer outra ambição política, tipo Izolda Cela, vice de Camilo, de modo a dar tranquilidade política e de gestão ao governador. O projeto de Cid Gomes, para si e o seu grupo político, em 2014, foi tolhido. Ele queria renunciar ao cargo, seis meses antes do dia da votação, para tornar-se elegível e desincompatibilizado ficasse o seu irmão, Ciro Gomes, para, em querendo, ser candidato ao Senado.

Domingos Filho, atual presidente estadual do PSD, era o vice-governador de Cid Gomes. Queria ser candidato a governador em 2014. Disputava a indicação do seu nome com os pedetistas Zezinho Albuquerque e Mauro Filho, ambos deputados estaduais, e com Izolda Cela. A ideia de o PDT ter quatro nomes disputando a indicação de candidato a governador ou a prefeito de Fortaleza, nasceu naquele ano. Logo no início de 2014, Cid propõe a Domingos que ambos renunciem os cargos de governador e de vice, para um governador escolhido pela Assembleia, com o apoio deles, presidir a sucessão. Domingos não aceitou a proposta e Cid ficou no Governo até o fim e Domingos continuou sendo pré-candidato até a véspera do prazo final de realização da convenção partidária para homologação das candidaturas, quando Cid anunciou o nome de Camilo Santana, filiado ao PT, para ser o seu candidato.

Domingos e os demais estavam no encontro, quando Cid chamou Camilo, à noite, para dizer que aceitava a indicação. A dois dos que pretendiam ser candidatos, Cid ofereceu o lugar de vice e de senador, sendo que ao primeiro, Zezinho Albuquerque, Cid deu a preferência de escolher a candidatura a vice ou ao Senado. Insatisfeito, ele preferiu ficar fora da chapa majoritária. A Mauro Filho foi dada a oportunidade de disputar a vaga de senador. Ele pediu tempo para decidir. E a Izolda Cela foi cedido o lugar de vice. Embora a escolha do nome de Camilo já estivesse definida na cabeça de Cid Gomes, o momento final da definição, como agora exposto, foi de certa forma traumática por conta da decisão de Domingos Filho de ficar como vice-governador até o fim do mandato, em dezembro de 2014.

Ciro Gomes quando foi governador renunciou ao mandato, juntamente com o vice-governador Lúcio Alcântara, muito antes do prazo de desincompatibilização, para ele ser ministro da Fazenda no Governo Itamar Franco. O Estado foi administrado por um rápido período pelo desembargador Adalberto Barros Leal, enquanto a Assembleia elegia o deputado estadual Chico Aguiar para concluir o mandato de governador. A decisão de Domingos Filho, de não aceitar o convite de Cid para ambos renunciarem, ao contrário da aparente normalidade passada pelos irmãos Ciro e Cid Gomes, deixou sequelas. A extinção do Tribunal de Contas dos Municípios, em 2017, na época presidido por Domingos Filho, pode ser relacionado aos fatos de 2014, cumulados com a eleição da Mesa Diretora da Assembleia, da qual Domingos foi protagonista em 2016, mesmo impedido de ter ação política pelo cargo de conselheiro do Tribunal extinto.

Agora, nos momentos que antecedem a formação da chapa majoritária governista, e Domingos já de volta ao grupo político liderado pelo senador Cid Gomes, comandando o PSD cearense, portanto com condições políticas de indicar o filho, deputado federal Domingos Neto como candidato a vice-governador, seus adversários dentro da aliança estão relembrando esses fatos para dificultar ou impossibilitar a participação de um nome seu para ser o candidato a vice-governador.

Sobre o assunto veja o comentário do jornalista Edison Silva: