Ciro Gomes é pré-candidato a presidente da República pelo PDT. Foto: Reprodução/Vídeo.

Ciro Gomes, na quinta-feira (4), ao anunciar a suspensão das suas atividades como pré-candidato do PDT à Presidência da República, criou um fato político e dele, pelo menos de imediato, somou benefícios à sua condição de presidenciável, também pelo fato de ter suscitado a discussão sobre a necessidade de os detentores de mandatos respeitarem os posicionamentos de suas respectivas agremiações. Hoje, à exceção do PT, em todos os partidos prevalece o interesse pessoal dos parlamentares, resultando em desmoralização para os comandos partidários, como acontece agora com o PDT.

O discurso dos dirigentes do PDT, ao longo dos dias de discussão sobre a PEC dos Precatórios, sempre foi de contestação à ideia de se alterar o teto de gastos públicos e de não pagar integralmente os precatórios programados para o próximo ano. Aliás, momentos antes da votação da matéria na Câmara dos Deputados, o senador Cid Gomes, fazendo alusão à presença de vários deputados no plenário do Senado, disse estar torcendo, naquele momento, para que os deputados não dessem quórum para a votação da PEC, que ele classificou como desastrosa.

Mas deputados do PDT de Cid e Ciro Gomes, alguns deles cearenses, como o Leônidas Cristino, o engenheiro que foi e está na política patrocinado pelos irmãos Ciro e Cid (ele foi secretário de Ciro no Governo do Estado, ministro da República em substituição a Ciro, prefeito de Sobral e é deputado federal), não apenas ajudaram a dar o quórum para a votação como disseram o sim à PEC. E essa foi a razão da indignação de Ciro Gomes, que só esperou o romper da manhã da quinta-feira (4) para fazer a declaração de suspensão dos seus atos como pré-candidato à Presidência da República, até que a bancada revisse o seu posicionamento, para, no segundo turno de votação da PEC, mudar o voto sim pelo voto não. A declaração, de todo, não foi uma “bomba”, mas fez um estrondo capaz de lhe garantir manchetes políticas em quase todos os órgãos de comunicação nacionais.

Como os políticos em geral, todos os pedetistas surpreenderam-se com a decisão de Ciro. Realmente ela foi forte, mas não estremada, como são algumas de suas declarações, sobretudo as dirigidas a adversários políticos. E tanto não foi estremada que ele recebeu a solidariedade de políticos de outras siglas, além de suscitar discussões internas em agremiações que, como o PDT, em razão da posição de seus deputados, também saíram chamuscadas.

Ciro, com sua reação, pode até não conseguir reverter todos os votos dos deputados do PDT na primeira votação da PEC, mas, no segundo turno, na próxima terça-feira (9), vários pedetistas reconsiderarão suas posições. Por certo, esse incidente ensejará que a partir de agora surja um melhor entendimento entre direção partidária e bancada, coisa muito rara na política nacional, pois quase sempre não há diálogo entre eles, por isso o discurso da agremiação é um, e a prática dos filiados, notadamente dos parlamentares, é outra, quase sempre bem diferentes como confirma o caso presente da PEC dos Precatórios. Assim, em concretizando-se a ideia, Ciro manterá a candidatura e sua liderança ficará mais respeitada e consolidada, dentro e fora do PDT.

Por fim, como de todo episódio deve-se tirar uma lição, nesse, mais sensível ao PDT, todas as agremiações aprendam que o fortalecimento de suas estruturas só acontecerá quando, frequentemente, imbuídos de um só propósito, dirigentes e filiados, em especial os detentores de mandatos, estejam sempre a discutir a posição do partido nas questões mais sensíveis aos problemas nacionais. O PDT, bem antes, quando da discussão de questões relacionadas à Previdência Social, também no Governo Bolsonaro, já experimentou alguns dissabores e, por conta deles perdeu um de seus quadros, na época elogiado por todos, inclusive por Ciro Gomes, no caso a deputada federal Tabata Amaral, hoje filiada ao PSB, com o aval de uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Sobre o assunto veja o comentário do jornalista Edison Silva: