Presidente da República, Jair Bolsonaro, e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso. Foto: Divulgação.

A ideia de que a adoção do voto impresso aliado ao voto na urna eletrônica é uma forma extra de garantir a lisura das eleições brasileiras é falsa.

A afirmação foi feita pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, em discurso na cerimônia de inauguração da sede do Tribunal Regional Eleitoral do Acre, nesta quinta-feira (29).

“O voto impresso não é mecanismo de auditoria, pela singela razão de que o voto impresso é menos seguro do que o voto eletrônico. Você não cria mecanismo de auditoria menos seguro do que o objeto que está sendo auditado”, afirmou Barroso, no evento, que foi transmitido pela internet.

“E por que ele é menos seguro?”, continuou o presidente do TSE. Em suma, explicou que demandaria o armazenamento e transporte de 150 milhões de votos, em país com histórico de roubo de cargas e controle de localidades por facções criminosas e milícias.

E também porque isso demandaria a recontagem manual, onde falhas humanas podem gerar discrepâncias de resultado. Sem contar os cursos exorbitantes de implementação do voto impresso, os potenciais problemas técnicos, a dificuldade de licitação e o risco de quebra do sigilo de voto – o que permitiria, inclusive, que o comprador de votos configura se foi atendido.

“É um consenso de que essa é uma mudança para pior”, afirmou Barroso, que exaltou a urna eletrônica e o atual sistema como um que consagra a democracia, inclusive com alternância de grupos políticos no poder no Brasil.

“O discurso de que ‘se eu perder, houve fraude’ é discurso de quem não aceita a democracia, porque a alternância no poder é um pressuposto dos regimes democráticos. Assim é porque assim deve ser em toda parte”, apontou.

A fala faz referência à campanha desenfreada do presidente Jair Bolsonaro, que vem questionando a legitimidade da urna eletrônica. Barroso, que foi um dos atacados pelo presidente, por outro lado tem encabeçado a defesa da urna eletrônica, com contato direto com senadores e agentes políticos.

“Ninguém tem paixão por urna eletrônica. Nós temo paixão por eleições livres e limpas. E esse é o nosso compromisso”, disse Barroso, que ressaltou a inexistência de fraudes desde que a urna eletrônica passou a ser usada no país.

“Em 2014, o candidato derrotado pediu a auditoria do sistema. Foi feita a auditoria, e o próprio partido do candidato – que ficou vencido por pouco, diga-se de passagem – reconhece que não houve fraude. Isso não aconteceu na experiência brasileira. Nunca se documentou. O dia que se documentar, o papel da Justiça eleitoral é imediatamente ir apurar”, apontou.

Fraude

O presidente da República prometeu que nesta quinta-feira (29), durante sua “live” semanal às 19h, provaria que houve fraude nas eleições de 2014, quando Dilma Rousseff foi eleita. A Secom (Secretaria de Comunicação do Planalto) chamou 25 jornalistas para acompanhar presencialmente a declaração, mas não poderia fazer perguntas.

No entanto, que se viu, foi uma série de ilações sem respaldo, que foram desmentidas em tempo real pelo perfil do Tribunal Superior Eleitoral – TSE no Twitter.

O próprio presidente admitiu que não dispõe de prova alguma para corroborar suas desconfianças. “Não tem como se comprovar que as eleições não foram ou foram fraudadas. São indícios. Crime se desvenda como vários indícios”, disse ele.

Os “indícios” apresentados pelo presidente circulam há anos na internet e já foram desmentidos exaustivamente.

Com informações site ConJur.