Areninhas são pequenos campos de futebol; uma das obras mais solicitadas pelos deputados e vereadores para suas áreas de influência.

O governador Camilo Santana (PT) para ser candidato ao Senado Federal ou a qualquer outro cargo, menos o de governador por estar exercendo o segundo mandato consecutivo, terá que renunciar até o dia 1º de abril de 2022, seis meses antes do dia da votação que acontecerá no dia 2 de outubro daquele ano. Portanto, Camilo terá, até lá, menos de 11 meses como chefe do Executivo cearense. É pouco tempo, mas o suficiente para fazer investimentos no campo social com potencial significativo para fragilizar mais ainda a oposição no Estado.

Recentemente, o gerente executivo do Fundo Estadual de Combate à Pobreza (FECOP), José de Lima Freitas Júnior, publicou o balanço trimestral do Fundo, registrando um expressivo volume de recursos provenientes dos ganhos com aplicação financeira, além de um saldo do balanço de 2020 no valor de R$ 256.475.340,11. De janeiro a março deste ano, a arrecadação do FECOP somou R$ 185.087.165,47, aplicando, no período, através de várias secretarias, R$ 61.255.376,46. O restante foi para a conta aplicação, nos estimulando a projetar uma reserva próxima a R$ 1 bilhão até o fim deste ano, véspera de eleição.

O Fundo foi criado no Ceará para “promover transformações estruturais, que possibilitem o combate à pobreza; reduzir sistematicamente a pobreza no Estado do Ceará; assistir às populações vulneráveis, que se situam abaixo da linha da pobreza, potencializando programas e projetos, favorecendo o acesso a bens e serviços sociais, para a melhoria das condições de vida; e garantir a sobrevivência digna, investindo no capital humano, social e físico-financeiro, das pessoas pobres e extremamente pobres”. Quem recebe, quase sempre agradece. E o voto é o que expressa o agradecimento do eleitor beneficiado.

A utilização dos recursos do FECOP está no campo do poder discricionário do governante, portanto, sem as amarras limitadoras das aplicações de verbas orçamentárias. Isso dá um poder grande ao gestor e a seus aliados, também pelo fato de o benefício chegar diretamente ao eleitor, seja em forma de pequenas obras visíveis e úteis, seja como ajuda pecuniária direcionada ao pagamento de parte das contas de luz, da água e do gás, aliás, benefícios estes já existentes, portanto, difíceis de serem questionados como ações aliciadoras de voto, um crime previsto na Legislação Eleitoral, capaz de resultar em perda de registro de candidatos ou até mesmo de mandatos.

Instrumentos e ações de Governo são sempre facilitadores de captação de votos. E não se diga ser a facilitação apenas nas camadas mais vulneráveis e menos instruídas dos eleitores. Todas as classes do eleitorado, em maior ou menor quantidade, são tocadas pelos benefícios governamentais. Ainda no mês passado, neste espaço, nós tratamos da influência eleitoral resultado de construções de areninhas em todos os municípios cearenses.  Só em abril deste ano o Governo do Estado licitou a construção de 185, que são, na verdade, pequenos e menos sofisticados campos de futebol, hoje a obra mais solicitada pelos deputados e vereadores para suas áreas de influência.

Até o encerramento da disputa eleitoral do próximo ano, embora diretamente os candidatos não possam participar de inaugurações (no período da campanha), elas acontecerão e os discursos de louvação serão as melhores propagandas eleitorais para os envolvidos. Como o Estado já contratou muitas outras areninhas além das 185 aqui citadas. Assim, provavelmente até o fim da próxima campanha umas três centenas de festas de inaugurações perseguirão os oposicionistas no Ceará, ainda, reconhecidamente muito amadores, e, como qualificamos recentemente, oposição odienta e despreparada para oferecer alternativas. Se o macro da administração já é suficiente para garantir a força eleitoral dos governistas, com as ajudas do FECOP e as areninhas, eles afastam as possibilidades de serem ameaçados de perder o controle da gestão estadual.

Jornalista Edison Silva comenta as movimentações políticas para o pleito eleitoral do próximo ano no Ceará: