Wagner Rosário da CGU explicou que gastos com hospedagem incluem equipes de segurança. Mas o valor seria suficiente para 4.900 diárias. Foto: Gustavo Sales/Câmara dos Deputados.

O ministro-chefe da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário, disse aos deputados da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara nesta terça-feira (20) que os gastos com hospedagem responderam por cerca de 70% do custo de R$ 1,2 milhão com a viagem do final do ano passado do presidente Jair Bolsonaro a São Paulo e Santa Catarina.

Mais R$ 1,2 milhão foi gasto, segundo ele, com as aeronaves necessárias para os deslocamentos. Com base nos valores médios das diárias informados pelo ministro, o deputado Elias Vaz (PSB/GO), um dos quatro autores do requerimento de audiência, disse que o valor seria suficiente para 4.900 diárias.

Wagner Rosário explicou que os gastos eram com a hospedagem total e não só as diárias de hotéis, inclusive com as equipes de segurança. No início da audiência, ele afirmou que Bolsonaro está no mais alto nível de risco porque já sofreu uma tentativa de assassinato.

Questionado pelos deputados sobre o sigilo dos gastos feitos com cartão corporativo, o ministro disse que isso se justifica pela questão da segurança: “Se eu discrimino a quantidade de diárias e dou o valor exato para vocês e digo quanto é a diária, vocês sabem quantas pessoas estão lá. Se eu dou, exatamente, aqui dentro das compras rotineiras do presidente, o local onde ele compra, quem quer cometer qualquer atentado contra o presidente passa a ter informações privilegiadas.”

O presidente Jair Bolsonaro passou 18 dias entre São Francisco do Sul, em Santa Catarina; e Guarujá, São Paulo.

Wagner Rosário disse que a viagem não pode ser chamada de férias porque um presidente não tira férias. Segundo ele, foram assinadas sete Medidas Provisórias e sancionadas seis leis no período.

O deputado Kim Kataguiri (DEM/SP), também autor do requerimento, criticou o sigilo dos gastos. “No mundo real, no mundo de fato, o presidente da República não anda de jet ski com uma medida provisória a tiracolo ou vai pescar com o Ratinho com outra medida provisória sendo assinada no curso da pesca. Efetivamente, isso se chama férias, Viagem ao Guarujá durante o Ano Novo não era para despachar. Me desculpe, senhor ministro, mas são férias.”

O deputado Sanderson (PSL/RS), vice-líder do governo, disse que é preciso priorizar a busca de soluções para a saúde e para a economia neste momento. “Enquanto a oposição passada denunciava petrolão; mensalão; escândalos com fundos de pensão Postalis, Petrus, Previ, Funcef; nós aqui temos que estar nos dedicando a fazer o esclarecimento de férias que não foram nem férias porque o presidente continuou trabalhando.”

Wagner Rosário disse que não existem irregularidades nos gastos em geral porque nem foi analisada a prestação de contas ainda. Ele negou também que haja necessidade de aprimoramento na fiscalização desses gastos.  “O processo está muito bem determinado e é feito assim há muitos anos. Já foi verificado, inclusive, pelo Tribunal de Contas da União, que também fiscaliza esses recursos.”

Covid-19

Logo no início da reunião, o ministro Wagner Rosário disse que o gasto com hospedagem tinha ficado um pouco acima do usual porque a segurança teve que ficar em quartos separados por causa do risco de contágio por Covid-19.

O presidente da comissão, deputado Aureo Ribeiro (Solidariedade/RJ), questionou o ministro sobre o comportamento do governo. “E todas as vezes, ministro, que eu vejo o presidente da República com a sua segurança, eles estão sem a máscara. Por que tem que dormir em quarto separado se eles estão sem a máscara no dia a dia de convívio?”

Outro autor do requerimento de audiência, deputado Leo de Brito (PT/AC), disse que a viagem não deveria ter sido realizada por uma questão de emergência sanitária. “Essa pandemia já matou mais do que todas as guerras que o Brasil já participou. Eu queria fazer uma pergunta para o ministro como capitão do Exército. O senhor acha que capitão do Exército no meio de uma guerra, ele tem direito a sair de férias, ele sai do front?”

Gastos das Forças Armadas

Alguns deputados questionaram também o que a CGU iria fazer em relação a outros gastos como o das Forças Armadas com cerveja de marca específica e carnes a R$ 80 o quilo. Wagner Rosário disse que as Forças Armadas fazem alguns eventos especiais.

O presidente Aureo Ribeiro disse que o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, poderá ser ouvido sobre o assunto pela comissão nos próximos dias. Segundo Aureo Ribeiro, Braga Netto se colocou à disposição para ir à comissão no dia 28 de abril. Mas existe um impasse sobre a validade de uma convocação do titular do cargo votada no final de março na comissão.

Outros requerimentos em tramitação na comissão pedem a vinda do ministro da Defesa para explicar também supostas vagas ociosas de UTI em hospitais das Forças Armadas.

Fonte: Câmara dos Deputados.