Adauto Bezerra foi governador do Ceará entre 15 de março de 1975 a 28 de fevereiro de 1978.

Foi-se o último dos coronéis da política cearense. César Cals, Virgílio Távora e Adauto Bezerra governaram o Estado do Ceará, dominaram a política cearense por algumas décadas, e eram coronéis do Exército brasileiro por formação.

José Adauto Bezerra de Menezes (Coronel Adauto), morreu na madrugada deste sábado (03), vitimado por complicações do novo coronavírus (Covid-19). Ele tinha 94 anos e estava hospitalizado em um hospital particular de Fortaleza.

O sepultamento aconteceu no fim desta manhã (03) no cemitério Parque da Paz, após uma cerimônia restrita a poucos familiares na Funerária Ethernus.

Nascido em 3 de julho de 1926, em Juazeiro do Norte (CE), Adauto Bezerra ingressou na Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro (RJ).  Durante sua carreira militar, fez ainda o curso da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (ESAO).

Antes de governar o Estado do Ceará, Adauto foi deputado estadual em várias legislaturas, inclusive chegou a ser presidente da Assembleia Legislativa. O prédio principal do complexo do Legislativo cearense tem o seu nome, pois foi no seu Governo que a edificação foi concluída.

Sua carreira política iniciou-se em 1958, quando foi eleito deputado estadual pela União Democrática Nacional (UDN). Em 1962 foi reeleito ao cargo compondo a “União pelo Ceará”, formada pelas siglas PSD e UDN, sustentada pelo governador da época, Parsifal Barroso, responsável pela primeira eleição de Virgílio Távora ao governo estadual.

Com a instauração do Regime Militar no Brasil (1964-1985) e o bipartidarismo, Adauto Bezerra filiou-se à Aliança Renovadora Nacional (ARENA), juntamente com os dois outros coronéis (César e Virgílio). Em 1966, foi eleito para o terceiro mandato como deputado estadual – nesta legislatura, foi presidente da Assembleia Legislativa do Ceará em 1967. Já em 1970, em mais um mandato como deputado estadual, conseguiu ser, novamente, presidente da Casa entre 1971 e 1972.

Em 1974, foi indicado pelo então presidente da República, Ernesto Geisel, como seu candidato ao Governo do Ceará. Eleito indiretamente, foi conduzido ao posto de governador e empossado em março do ano seguinte. Como governador, liderou a campanha da ARENA nas eleições municipais de 1976, tendo prometido ao presidente Geisel a vitória da sigla governista em 90% dos 141 municípios do Estado à época. O partido conseguiu 55% dos votos em Fortaleza e 84% no interior.

Renunciou, em 1978, o cargo de governador para tentar uma vaga no Senado Federal, transferindo as funções para seu vice, Waldemar Alcântara. Seu projeto sofreu oposição de setores arenistas ligados a Virgílio Távora, que já havia sido indicado pelo poder central para governar o Ceará na eleição vindoura. Esses setores teriam ameaçado boicotar sua candidatura e apoiar Chagas Vasconcelos, candidato do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), oposicionista aos militares no poder.

Desistiu, posteriormente, da candidatura ao Senado e concorreu a uma vaga na Câmara Federal. Foi eleito com quase 118 mil votos, em 1978.

Em novembro de 1982, foi eleito vice-governador do Ceará na chapa encabeçada por Gonzaga Mota (PDS), que derrotou o emedebista Mauro Benevides. A candidatura de vice-governador aconteceu no chamado “acordo dos coronéis”, pois ele queria voltar ao Governo, mas sofreu oposição de César Cals e Virgílio Távora, que acabaram escolhendo Gonzaga Mota para o governo.

Quatro anos depois, em 1986 candidatou-se ao governo pelo Partido da Frente Liberal (PFL), em coligação com o PDS e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), apoiado pelos coronéis César Cals e Virgílio Távora. Ele foi derrotado por Tasso Jereissati (MDB), que tinha propostas de modernização na gestão do executivo cearense.

Com a eleição de Fernando Collor de Mello para presidente do Brasil, em 1989, foi nomeado para presidir a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) em 1990, permanecendo à frente do órgão até abril de 1991. Adauto fez política até os últimos dias de sua vida.

Ele foi um dos apoiadores da candidatura de Cid Gomes, na sua primeira disputa para ser governador do Estado. Adauto queria derrotar o governador Lúcio Alcântara, que na época disputava um segundo mandato. Ele foi apoiador da primeira postulação de Roberto Cláudio à Prefeitura de Fortaleza, assim como do governador Camilo Santana (PT) em suas duas eleições.

Ajudava, inclusive financeiramente, em campanhas eleitorais de vários candidatos, principalmente os seus amigos da Região do Cariri. O deputado estadual Heitor Férrer foi um dos ajudados em várias eleições pelo Coronel Adauto.

Na manhã deste sábado (03), tão logo souberam da sua morte, vários políticos publicaram manifestações de elogio à sua trajetória política, a partir do governador Camilo Santana, que decretou luto oficial de 3 dias no Estado, do senador Cid Gomes e do ex-prefeito Roberto Cláudio.