Ilustração da capa do livro de ex-ministro Ciro Gomes (PDT).

Ciro Gomes (PDT) lançou, recentemente, um livro intitulado “Projeto Nacional: O Dever da Esperança”, dizendo ser uma “contribuição pessoal a uma reflexão inadiável sobre o Brasil, as raízes de seus graves problemas e as pistas para sua solução”. A obra do ex-ministro, segundo informações da Editora, imediatamente passou a ser uma das mais vendidas no País, sugerindo, além da curiosidade sobre as ideais do autor, ser um instrumento a motivar o debate necessário à produção de um documento que norteie o futuro do Brasil.

Na edição desta sexta-feira (10) do jornal O Estado de S. Paulo, o ex-comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, escreve um artigo, com destaque na capa daquele periódico, intitulado “Carecemos de um projeto nacional”. Abstraindo-se de algum saudosismo implícito no texto, o autor destaca a polarização da sociedade brasileira, “inicialmente por interesses alheios travestidos de ideologias e, quando elas fracassaram, permitimos que esquemas mentais alheios a nossa natureza viessem a nos dividir ainda mais, a ponto de o ser humano não mais fosse valorizado como tal, passando a que sua essência, para ser reconhecida, dependesse da militância em prol de um desses grupos onde se abrigam”.

E prossegue Villas Boas: “Caímos num fosso, em cujo interior andamos em círculo, progressivamente nos afundando sem dispor de ferramentas que nos tornem possível dele sair, de maneira a que recuperemos a capacidade de vislumbrar o horizonte e nele identificar indicações dos rumos a seguir com vistas no futuro. Em outras palavras, carecemos de um projeto nacional que nos possibilite ter um olhar em direção ao interesse comum, capaz de nos livrar da prevalência do individualismo, do imediatismo e dos interesses grupais ou corporativos”.

Concluindo, diz ele ser este o momento “de arregaçarmos as mangas e, cada um, considerando as capacidades e disponibilidades, participar desse grande mutirão”. Estamos, de fato, muito atrasados na discussão de um Projeto Nacional. Ela, evidente, deveria ter nascido imediatamente após a promulgação da Constituição de 1988, quando o sentimento de mudanças no País era pujante, a sociedade estava mobilizada, embora um tanto quanto frustrada com a morte de Tancredo Neves, um dos líderes do movimento “Diretas Já”, que seria o primeiro presidente da República civil, embora eleito de forma indireta, após o duradouro período da Revolução de 1964.

A prevalência do individualismo, especialmente no campo político, inibe a discussão de um Projeto Nacional. A comunidade acadêmica e as lideranças dos diversos movimentos sociais brasileiros contribuem muito pouco para o debate do tema, e quando manifestam suas posições são estritamente pontuais, sempre relacionadas a interesses segmentados. E por serem temas restritos, suscita pouco interesse ao amplo debate.

O “Projeto Nacional: O Dever da Esperança”, livro do ex-ministro Ciro Gomes, poderia ser o marco do debate para a construção do projeto que o Brasil precisa para nortear o seu futuro. Os partidos e os políticos, com a seriedade que o tema reclama, deveriam criticar a proposta do ex-governador cearense, contrapondo suas posições e oferecendo alternativas, encorajando a academia e outras lideranças a enriquecerem o debate ao agregarem novas ideais.

Sobre o tema veja o comentário do jornalista Edison Silva: