Quem viaja sozinho pelo mundo, pode escolher seus silêncios. Lembranças de bons momentos, recordações de abraços e beijos, de rastros deixados sobra a areia em movimento de um beira de mar qualquer, saudades de sons de murmúrios ou de sorrisos ou de gargalhadas moleques, tudo cabe dentro do silêncio quando se está sozinho nas lonjuras escolhidas, seja onde for. Posso até ver as cores do mar e das ondas fazendo festa para o caminhar dentro dessa moldura para a silhueta da moça modelo em uma praia afastada do burburinho da cidade. O rosto da mulher do chinês, sorrindo com timidez, posando para as minhas lentes, meio sem jeito, no jardim da pousada onde fiquei, às margens do Mekong, no Laos, descendo feito mel fino por entre vales, até o delta onde se confunde com o mar. Carreguei, sem peso algum, as imagens de cada ente querido, da companheira fiel e preocupada com os perigos contidos nessas distâncias quase anônimas, para satisfazer os caprichos de quem descobriu que, numa certa idade, o medo de morrer é ridículo, por conta de tanta vida vivida, de tantas aventuras irresponsáveis e depois voltar, quase são, aparentemente salvo e mais ousado para refazer caminhos já percorridos e outros, mais atrevidos.

Quem consegue rir dessas loucuras adotadas, tem mais histórias deixadas para a dona Dulce, o Igor, Diego, Leonard, Maria Eduarda, Alexia, Dash, contarem quando eu estiver caminhando entre as descobertas por trás da Lua e de todas as estrelas. E os amigos queridos dos bons vinhos, de quem lembrei quando soltei uma pipa, no mesmo lugar onde o Caçador de Pipas soltou a sua, lá em Cabul, no Afeganistão…O menino caçador não estava por lá, mas outro menino estava e me emprestou a sua por um momento, para a surpresa do afegão que se protegeu do Sol debaixo do seu cavalo.

Nos meus melhores silêncios dessas solidões, em tantos lugares barulhentos e estranhos ou exóticos, consegui ser o mais atrevido viajor, vendo, por eles, dentro da minha loucura, as imagens mais bonitas para depois transformá-las em histórias e contá-las em volta de uma mesa descontraída e especial.

 

Texto e fotos de

A.Capibaribe Neto

Especial para o Blog do Edison Silva