Candidato à Presidência da República, Geraldo Alckmin (PSDB) em 2018 no comício em Horizonte/CE. Foto: Ascom/PSDB.

Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo, de saída do PSDB, onde está desde a fundação do partido, é, inegavelmente, um dos bons quadros da política nacional. Ele não tem, praticamente, nenhum vínculo com a política cearense, pois os seus correligionários daqui o esnobaram nas eleições de 2018, dando uma insignificante votação (53.157 sufrágios) na disputa pela Presidência da República. Alckmin e Ciro Gomes nasceram na mesma cidade paulista de Pindamonhangaba, e suas mães, nos respectivos partos, foram assistidas pelo mesmo médico. Mas não é por essa razão que o trouxemos para o nosso comentário de hoje.

O ex-governador Alckmin, hoje politicamente vítima do governador João Doria, que ele antes havia praticamente imposto como candidato a prefeito de São Paulo, e posteriormente o ajudou a eleger-se governador do Estado, está sendo levado a momentos de constrangimentos quando o apontam como provável aliado de antigos adversários, não apenas no campo político propriamente dito, mas, pior, no ideológico: da direita e esquerda radicais. Ele ainda não fez qualquer manifestação pública mais incisiva sobre as insinuações, embora esteja determinado, como demonstram suas ações e iniciativas, de deixar o PSDB por conta do comportamento do seu afilhado João Doria, provavelmente o seu adversário maior, dentro e fora do PSDB, pois não o quer candidato à sua sucessão.

Doria, provavelmente trabalha para afasta-lo do PSDB por entender que, sozinho, por ser governador, tem força suficiente para ter o comando do partido naquele importante Estado, mesmo com índices de popularidade negativos. E também pelo fato de Alckmin ter saído muito pequeno, eleitoralmente, da disputa presidencial passada. Doria desconhece, porém, que a força política de Alckmin foi decisiva para elegê-lo prefeito e ajuda-lo a ser governador, embora Doria tenha feito campanha no segundo turno das eleições atrelado ao hoje presidente Jair Bolsonaro.

O jornal Folha de S.Paulo desta sexta-feira (26) dá destaque a uma nota da colunista Mônica Bergamo dando conta de o ministro Tarcísio de Freitas, o nome de Bolsonaro para ser candidato a governador de São Paulo, procurou Alckmin para que ele apoiasse a candidatura de Bolsonaro à reeleição. Tarcísio, nesse caso não disputaria o Governo e apoiaria Alckmin. Antes, já estava no noticiário nacional a efetivação de uma possível aliança dele, Alckmin, se filiado ao PSB, com o PT de Lula, para desse ser o candidato a vice-presidente. Só as insinuações podem ser consideradas um verdadeiro vilipêndio a um homem público, que os próprios políticos deveriam preservar, para que o mundo político sempre tivesse alguns para serem as exceções.

Será muito decepcionante, não apenas para o restante dos políticos fundadores do PSDB, mas, também para tantos quantos ainda acreditam em políticos, se Geraldo Alckmin aliar-se a Lula ou a Bolsonaro, principalmente quando todas as perspectivas o levam a ser eleito novamente governador do Estado. E essa perspectiva, sem dúvida, já bem demonstra a inexistência de outras boas opções para o cargo, pois para ele os paulistanos já votaram em Alckmin em mais de uma oportunidade. O eleitorado de São Paulo que o conhece diferente de Lula e de Bolsonaro, pode rejeitá-lo e, pior, levá-lo a ser considerado como um daqueles que tudo fazem para ter um mandato, até perder o respeito a si próprio, se em 2022 aparecer na campanha ao lado de qualquer dos dois.

A política brasileira tem muitos casos de situações parecidas com o de agora citado envolvendo Alckmin. Aqui mesmo no Ceará já perdemos bons quadros que não guardaram respeito a si no caso de formação de alianças ou em outras permanecerem, pela ganância do poder ou ódio a adversários. Eles perderam, sim, pois não alcançaram seus objetivos, mas a perda maior foi para o próprio Estado, pois ficou menor com o desaparecimento das disputas políticas de pessoas honradas, e algumas delas comprometidas com a causa pública. Os brasileiros, tão carentes de uma boa representação, não podemos perder os poucos políticos que excepcionam a classe. Os que qualificam o noticiário do setor devem merecer a melhor das atenções, sendo exemplos para os que insistem em levar as notícias políticas para o campo policial.

Veja o comentário do jornalista Edison Silva: