Print de matéria publicada no fim de semana pelo jornal O Globo, relatando parte da briga dos irmãos, agora pelo comando estadual do PDT

No Brasil a acusação mais grave que se pode fazer a um político é chamá-lo de “traidor”. Os políticos não execram tanto ao corrupto quanto se afastam daquele que é tido como traíra.

O senador Cid Gomes (PDT) experimenta hoje, sem duvida,  o pior momento de toda a sua  vida pública quando é acusado de traição pelo  irmão, Ciro Gomes, a quem sempre chamou de líder, e também por um dos seus ex-amigos mais próximos, Roberto Cláudio, a quem tecia incomensuráveis elogios e ajudou  elegê-lo presidente da Assembleia Legislativa do Ceará e prefeito de Fortaleza, por duas vezes. Ambos (o irmão Ciro e o ex-amigo Roberto) o chamam de “traidor”.

Os dois guardam mágoas da campanha eleitoral de 2022, quando Cid preferiu ficar ao lado dos petistas Elmano (governador), e Camilo (senador), contra os candidatos do PDT, partido que ainda é vice-presidente do diretório estadual.

É um final melancólico para quem foi um bom gestor municipal, em Sobral, e estadual, ao longo de 16 anos quando foi chefe do Executivo municipal e governador, quando, neste cargo, criou uma situação traumática para o PDT ao escolher um petista para sucede-lo, em detrimento de alguns correligionários que ele mandou a campo em busca de apoio para ser o seu candidato a governador. Eles fizeram papel de bobo (Mauro Filho, Zezinho Albuquerque e Izolda Cela), juntamente com o vice-governador à época, Domingos Filho, também pretenso candidato à sucessão estadual. Camilo, o escolhido para substituir Cid, o registro mais importante que deixou ao longo do seu período como secretário de Cid, foi o chamado “caso dos banheiros”.

Ciro, dizem amigos seus, não queria falar no rompimento com o irmão Cid, mas o fez, agora, dizendo ainda estar sentindo a punhalada pelas costas, que foi o alinhamento de Cid com Camilo, em desprezo às candidaturas majoritárias do seu partido, inclusive a do próprio Ciro, para emprestar solidariedade ao amigo e correligionário André Figueiredo, presidente estadual do partido, com perspectiva de reeleição, em dezembro próximo. Ciro falou para delimitar espaço: no PDT cearense manda André, ele (Ciro), Roberto Cláudio e José Sarto, o prefeito de Fortaleza.

O PDT cearense não conta mais com vários dos deputados estaduais que foram eleitos pela sigla, no ano passado. Todos eles, sobretudo Evandro Leitão, Romeu Aldigueri, Osmar Baquit, Jeová Mota, para citarmos os liderados do ex-governador Camilo Santana. Estes deputados e outros não mais obedecem a liderança de Cid, eles são Camilo, e ainda não se filiaram ao PT por conta da Legislação eleitoral, que impõe a fidelidade partidária.

Recentemente escrevi, neste espaço, que Cid Gomes ao dizer que pretende presidir o PDT cearense, não apenas é um blefe como é uma ação diversionista, também para distrair o ambiente político cearense até o fim do seu mandato. O deputado federal André Figueiredo, enquanto o ministro da Previdência, Carlos Lupi comandar o PDT, será o presidente do partido no Ceará, com o apoio de Ciro Gomes, de quem Cid, para amigos próximos, tem confirmado o distanciamento e falado da dificuldade de um reate nas relações pessoais e políticas. O comando do PDT nos estados, como no nacional, será sempre de um brizolista da origem. Cid não o é.

Ademais, acrescento agora, mesmo que Cid conseguisse o apoio da maioria da direção estadual do PDT para presidi-lo, assim ainda não seria o presidente, pois uma intervenção da direção nacional o impediria de assumir o comando do partido.