Ciro Gomes em material para sua campanha. Ele está na quarta disputa presidencial. Foto: Reprodução.

O presidenciável Ciro Gomes, recentemente, em Recife, ao responder uma indagação sobre cancelamento de evento político seu no Ceará disse: “Apenas não quero ir e confesso a vocês, não tenho nem vontade de comentar. Eu tenho notícias muito tristes do que tem acontecido. É muito duro uma pessoa como eu dar a vida inteira para uma comunidade, preparar líderes importantes e sentir a faca da traição nas minhas costas. Então eu não quero ir lá para não ter tristeza”. Mesmo antes do rompimento da aliança do PDT com o PT, por conta da disputa pela sucessão estadual Ciro já reclamava de traição.

Com a oficialização do rompimento, a “contragosto” do irmão senador Cid Gomes, Ciro tem razões outras para estar constrangido em fazer campanha por aqui. Ele não conseguiu demover o irmão, seu pilar de sustentação na política estadual, de subir, ainda no primeiro turno da campanha estadual, no palanque que ele próprio montou ao apostar no nome do ex-prefeito Roberto Cláudio, como o candidato a governador do Estado. E sem o Cid ao lado, num palanque em qualquer município cearense, Ciro não ficaria contente e, pior, o divórcio político deles ficaria oficializado publicamente, decepcionando a uma boa parte dos liderados.

Ciro, para manter-se na terceira posição na sucessão presidencial, evidente, precisa de votações expressivas fora do Ceará, mas o sufrágio dos cearenses ajuda consideravelmente, e pela sua simbologia, tem um significado único, o de que o candidato é realmente líder e respeitado na sua terra (ele nasceu em São Paulo, mas desde criança mora do Ceará). Nas suas três campanhas presidenciais, já registramos aqui, Ciro foi o mais votado no Ceará. Nesta, também pelas divergências com o irmão quanto à sucessão estadual, provavelmente, pelas sinalizações das pesquisas, perderá para Lula e Bolsonaro. Este, hoje, demonstrando ter um maior volume de campanha no Estado, mesmo não tendo um palanque próprio na sucessão estadual.

Perder no Ceará, para os dois principais concorrentes, tisnará sua vitória pessoal, ao encerrar o ciclo de disputas presidenciais sendo a terceira força política nacional. Quando dissemos isso, recentemente, defendemos a necessidade de ele voltar suas atenções para o eleitorado daqui, para poder continuar dizendo, mesmo não sendo candidato em outros pleitos, que os cearenses sempre foram, eleitoralmente, muito generosos consigo, mas, agora, talvez já seja tarde demais. Cearenses, talvez por terem esperado muito, parecem propensos à prática do chamado “voto útil”, escolher um outro nome, podendo voltar a serem generosos em eleições futuras.

Ciro, na sua primeira disputa presidencial conseguiu 10% dos votos nacionais, e nas duas últimas contabilizou, respectivamente, 12% e 12,47% da votação geral. Uma expressiva votação para um candidato praticamente sem alianças. No Estado do Ceará, em 1998, quando da sua primeira disputa presidencial, concorrendo dentre outros com Fernando Henrique Cardoso, na sua reeleição, e o PSDB cearense era a primeira força política do Estado, Ciro, candidato pelo PPS, venceu no Estado o próprio Fernando Henrique e o Lula. Ciro somou 909.402 votos contra 872.290 do Lula e 804.969 dados a Fernando Henrique. Nacionalmente, ele acabou sendo o 3º candidato mais votado.

Já na eleição de 2002, embora tenha sido o quarto colocado, ele foi novamente o mais votado no Ceará, totalizando 1.529.623 sufrágios contra 1.353.339 votos dados a Lula, sendo José Serra o terceiro colocado com pouco menos de 300 mil votos. Em 2018, Ciro conseguiu 1.998.597 contra 1.616.492 dados a Fernando Haddad e 1.061.075 do presidente Bolsonaro.

Veja o comentário do jornalista Edison Silva: