A discussão ideológica acaba resultando em agressões verbais. Foto: Miguel Martins.

Sempre foi comum na Câmara Municipal de Fortaleza a votação e aprovação de requerimentos solicitando moção de aplausos ou congratulações para determinado órgão ou personalidade. No entanto, na semana passada, duas dessas solicitações foram derrubadas, principalmente, pelo posicionamento contrário de alguns vereadores. Em comum entre eles, a postura mais conservadora e de apoio à figura do presidente Jair Bolsonaro.

O tom agressivo de alguns desses parlamentares chamou a atenção de seus pares na Casa Legislativa, principalmente com relação aos homenageados. Um dos requerimentos desaprovados pela Câmara, de autoria do vereador Ronivaldo Maia (PT), solicitava aplausos para o jornalista Gleen Greenwald e o outro, da vereadora Larissa Gaspar (PT), comemorava o aniversário do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) do Ceará.

Durante os discursos, vereadores bolsonaristas chegaram a dizer que o MST era ligado às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as Farc. Inspetor Alberto (PROS) chegou a mencionar que atiraria em membros do movimento.

Já Priscila Costa (PSC) chegou a ironizar os posicionamentos de vereadores do PSOL e PT. “O PSOL defendendo liberdade de imprensa, aplaudindo a Venezuela? O PSOL que apoiou a chapa de Haddad, cuja vice foi a Manuela D’Ávila que defende a Coreia do Norte? Ouvir petistas e psolistas falando da liberdade de imprensa é um deboche”, disse.

A agressividade no tom de alguns parlamentares chamou a atenção de outros vereadores. Bruno Mesquita (PROS) chegou a defender que todas as forças políticas se unissem em prol do bem comum dos brasileiros. “Se unissem todo mundo, a gente não estava conversando uma ruma de asneiras, de besteiras que tenho ouvido aqui. Estávamos fazendo como os EUA e Israel. Temos que acabar com o PT, o PSL, o PROS, com Bolsonaro. Precisamos ter um partido único, o partido do Brasil”, desabafou.

Welington Saboia (PMB) também estranhou os novos posicionamentos na Casa e lembrou que requerimentos deste tipo sempre eram aprovados como forma de cordialidade. Ele lembrou que cada um de seus pares quer demarcar espaço, mas salientou a necessidade de se evitar ataques pessoais. “Esta Legislatura tem muitas pessoas capacitadas e podemos deixar um bom legado”, afirmou.

Declarações

“Os papéis estão estranhos nesta Casa, nesta Legislatura. Uma gentileza que os vereadores faziam no passado…”, defendeu Emanuel Acrízio (PP). Léo Couto (PSB) classificou os embates sobre os requerimentos como “uma tempestade em um copo de água”. Guilherme Sampaio (PT) chamou a atenção para a gravidade de algumas declarações que têm sido feitas nas plenárias da Casa.

“Eu já tenho manifestado isso e agora assume um tom de denúncia, porque essas manifestações assumem um caráter muito grave diante do papel institucional da Câmara. Chamo atenção para que os 43 vereadores zelemos e prestemos atenção nesses marcos que devem nortear o nosso debate político”, defendeu.

PDT

Larissa Gaspar (PT) chegou a solicitar que o presidente da Casa, Antônio Henrique (PDT), apurasse as falas de Inspetor Alberto a respeito do MST. “Temos que ter um freio de arrumação. Precisamos de um ponto final. Essas pessoas que chegaram ao poder para difundir ódio, preconceito e violência precisam ser banidas da nossa sociedade. Precisam ser isoladas e pagar por todos os crimes que estão cometendo. Que a gente possa reconstruir uma sociedade onde se prevaleça a justiça social e a democracia”.

Uma semana depois, a mesma Câmara Municipal que negou votos de congratulações ao MST e ao jornalista Glenn Greenwald, aprovou, sem qualquer discussão, requerimento do líder do PDT, Júlio Brizzi, solicitando moção de aplauso em homenagem aos 41 anos do Partido Democrático Trabalhista.