Cientista política Carla Michele destaca a visibilidade que alguns cearenses têm tido nos últimos dias devido a instalação da CPI. Foto: Blog do Edison Silva.

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid pode servir de termômetro para atores políticos do Estado do Ceará para 2022, uma vez que alguns dos nomes colocados para o pleito do próximo ano estão, diretamente, envolvidos com as investigações. Além de dois senadores cearenses membros do colegiado, outros nomes da política local podem ser relacionados como depoentes no Inquérito.

O senador Eduardo Girão (Podemos), apontado como um dos nomes da oposição local para ser candidato ao Governo do Estado no próximo ano, lidera o número de requerimentos de informações apresentados e já solicitou depoimento do ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, que também tem pretensões nas eleições de 2022.

Outros ligados à CPI são o senador Tasso Jereissati (PSDB), membro efetivo no grupo e já sondado como eventual presidenciável do PSDB, e o governador Camilo Santana (PT), que ainda decide qual rumo que deve tomar no pleito que se avizinha.

De acordo com a cientista política Carla Michele, por sua amplitude, a CPI terá um efeito maior na questão da visibilidade dos atores envolvidos do que em sua praticidade. A estudiosa não acredita que grandes figuras da política nacional serão punidas ao fim de todo esse processo, mas que alguns nomes devem ser beneficiados visando o pleito de 2022, enquanto que outros poderão ser prejudicados, principalmente, aqueles que forem apontados como responsáveis por desvio de dinheiro público no combate ao coronavírus.

Ela destaca o papel do senador Eduardo Girão, que tem ocupado os noticiários nacionais diariamente, conquistando visibilidade para segmentos que não o conheciam. Michele ressalta, porém, que tal visibilidade pode ser negativa. “Quando o senador Girão cobra explicações do ex-prefeito Roberto Cláudio, pedindo que ele seja ouvido pela CPI, ele, que estava longe dos holofotes, acaba voltando ao centro da cena política”.

Além de Roberto Cláudio, Girão quer ouvir também o secretário de Saúde do Governo Camilo Santana, Dr. Cabeto. Para Carla Michele, os efeitos da CPI serão mais simbólicos do que práticos. “Não acredito que haverá punição para qualquer agente público”, aponta. O Inquérito, em sua avaliação, pode influenciar no pleito do próximo ano. No entanto, diante do dinamismo da política brasileira, outros eventos podem surgir até as eleições de 2022 que distraiam a população e mudem o foco das pessoas.

“Ninguém sabe como ficará a situação do País com o avanço do programa de imunização até o próximo ano. Se a economia der um sinal de que está se fortalecendo, é provável que a avaliação das pessoas seja voltada para a questão econômica e não da moralidade. Até porque quem acaba decidindo é a situação econômica”, frisou a cientista política.

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Para Michele, o senador Eduardo Girão tem levantado um discurso de imparcialidade, buscando o caminho da neutralidade, o que reforça a ideia de independência. Diante de boa parte do eleitorado, este é um ponto positivo, já que este público é contrário ao discurso de esquerda e de bolsonaristas.

O senador Tasso Jereissati também deve adotar o discurso de independência, de que está em uma situação de busca da verdade. “Mas é claro que tudo isso é para ajudar na imagem para 2022,  que eles estão querendo vender para 2022. Esse é o pensamento”, concluiu.