Delegado Cavalcante tem sido ferrenho defensor do tratamento precoce. Foto: ALECE.

Pela segunda semana seguida, viu-se na sessão plenária da Assembleia Legislativa do Ceará, deputados discutindo sobre a utilização ou não do tratamento precoce para a Covid-19.

O uso de drogas como cloroquina e ivermectina, não tem comprovação científica de eficácia contra o novo coronavírus.

Na sessão desta quinta-feira (11) os parlamentares discutiam sobre a decretação de estado de calamidade pública no município de Ipaporanga. Assim como na semana passada, o deputado Delegado Cavalcante (PSL) mostrou-se contrário ao decreto, sugerindo o tratamento precoce e afirmando que tomou os medicamentos por mais de 60 dias.

Ele afirmou que, recentemente, o deputado Apóstolo Luiz Henrique (Progressistas) foi tratado dessa forma e se recuperou da Covid-19, motivo pelo qual esteve internado. Cavalcante afirmou ainda, sem citar a fonte, que o tratamento é defendido em diversos trabalhos científicos, publicados “nas melhores revistas científicas do mundo”.

A fala de Cavalcante foi corroborada pelo deputado André Fernandes (Progressistas), que afirmou que muitos municípios vêm tratando pacientes dessa forma, com sucesso.

A deputada Dra. Silvana (PL), que é médica, também afirmou ser contra a calamidade pública em Ipaporanga. “É necessário aprender a lidar com a vida apesar da pandemia”, justificou. Ela se mostrou também favorável à sugestão do tratamento precoce, pedindo que o assunto não seja politizado.

“Eu, falo pessoalmente, sigo tomando a cloroquina. Várias regiões não foram dizimadas pela malária devido à cloroquina, então temos que usar as armas que temos, pois dessa doença ainda sabemos quase nada”, concluiu a parlamentar.

Também médico, Lucílvio Girão (Progressistas) defendeu o uso da ivermectina como forma de conter a proliferação do vírus dentro do organismo. “Eu, o que eu fiz? Vitamina-C, azitromicina e ivermectina”, afirmou.

Fernanda Pessoa (PSDB) sugeriu a criação de um Grupo de Trabalho para estudar o assunto, inclusive com a possibilidade de apresentar um projeto de Lei.

Reação contrária

O deputado Osmar Baquit (PDT) interveio contrariamente à sugestão dos colegas. Para ele, isso se dá porque há milhares de unidades de cloroquina armazenadas pelo país, por causa do Governo Federal, e os governistas querem desovar.

Acrísio Sena sugeriu uma comparação dos dados entre municípios que utilizam e não utilizam o tratamento precoce. Foto: ALECE.

Para Acrísio Sena (PT), é hora de olhar, nos mais de 5 mil municípios brasileiros, quais deles utilizam e quais não utilizam o tratamento precoce, para poder comparar os resultados. Sugeriu Acrísio que a Casa ouça infectologistas cearenses sobre o assunto. Por fim, o petista lembrou que a cloroquina é um “santo remédio” contra a malária, mas não tem comprovação alguma contra a Covid-19.

Pelo decreto

Renato Roseno (PSOL) lembrou que o Brasil teve mais de 1.300 mortos nas últimas 24h. “Isso por si só é justificativa para o pedido de calamidade pública. Prefeituras têm que adquirir rapidamente leitos, contratar pessoal, comprar insumos e medicamentos. A população desses municípios tem que saber bem o que está sendo discutido aqui, quem está a favor da saúde e quem está contra”, avaliou.

Roseno lembrou ainda que o fabricante da cloroquina já informou não haver eficácia contra a Covid-19. “Tratamento precoce é distanciamento social, uso de máscaras e busca de vacina, coisa que o governo Bolsonaro não tem feito”, concluiu.

Por fim, o decreto de calamidade em Ipaporanga acabou aprovado, com votos contrários registrados dos deputados Delegado Cavalcante, André Fernandes e Dra. Silvana.