Momento em que lideranças do PT de Fortaleza aderem, no segundo turno, à candidatura de Sarto (PDT). Foto: Facebook/PT.

A decisão da direção estadual do PT de sustar os efeitos da resolução do diretório municipal do partido, em Fortaleza, determinando que os seus três vereadores posicionem-se como oposição ao iniciante Governo do prefeito José Sarto, antes de ser desrespeitosa com aqueles filiados, é também inócua, improdutiva e esdrúxula. Os vereadores, como de resto os demais parlamentares, “são invioláveis, civil e penalmente, por qualquer de suas opiniões, palavras e votos”, diz a Carta Federal.

Só em relação ao voto, em determinadas situações, eles podem estar sujeitos a uma determinação partidária, precisamente quando a agremiação adota os procedimentos legais pertinentes para decidir, respeitando os seus estatutos e ideologia, ser contra a uma determinada matéria. Fora isso, o legislador está livre para falar a favor ou contra sobre qualquer tema ligado à administração. Os poderes das instâncias partidárias nos municípios, estados e União, não alcançam a inviolabilidade do parlamentar.

Aqui vale lembrar, por pertinente, a última decisão, desastrosa e vergonhosa, adotada pelas direções estadual e nacional do PT no Ceará. O núcleo petista do Município de Juazeiro do Norte, no ano passado, decidiu inicialmente que a agremiação teria candidato próprio à Prefeitura dali, em 2020. A maioria dos filiados optou pelo nome de Laurivan Cruz, posteriormente acusado de ser aliado do ex-prefeito e candidato derrotado à reeleição, José Arnon (PTB).

E a direção estadual petista foi acionada, dentre outros, por Gabriel Igor Paiva Santana, apresentando-se como verdadeiro opositor de Arnon, portanto, o nome ideal para ser o concorrente deste. O diretório estadual do PT acolheu a tese e defendeu a interferência da direção nacional para defenestrar Laurivan, e garantir a candidatura de Gabriel à Prefeitura de Juazeiro do Norte. Mas o Gabriel não foi candidato a prefeito.

E, mais, não só deixou de ser candidato para, paradoxalmente, aliar-se a José Arnon, sendo o seu vice, o que realmente almejava, mancomunado com alguns aliados da direção estadual desde quando engendrou a farsa para inviabilizar a postulação de Laurivan. O PT de Juazeiro, assim, acabou saindo menor da campanha, além de ser acusado de ter contribuído para a derrota de Arnon. A propósito, a briga pela vice de Arnon deixou sequelas no PT e no PDT. Filiados de ambos queriam o lugar de vice do prefeito derrotado.

É lugar comum, que para qualquer chefe de Executivo municipal, estadual ou federal, é sempre bom um apoio amplo nos legislativos. Nem sempre o é. E aqui vale a lembrança da resposta de um governador cearense ao seu chefe de gabinete, quando este anunciava que alguns “caros deputados” estavam querendo uma audiência. Ato contínuo respondia o governador: “caros não. Caríssimos”. E o governador expressava uma verdade. Caríssimo também são determinados apoios que ajudam pouco e prejudicam muito.

O PT estadual ou nacional não terá como impor aos seus vereadores de Fortaleza, por resolução, apoiar o prefeito Sarto. E este, com o total de aliados que tem na Câmara, não precisará deles para ter seus projetos aprovados. Como PT e PDT têm projetos diferentes no cenário nacional, e no Ceará, fica muito difícil o entendimento. A provável candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República, em 2022, acirra a divergência.

E, além do mais, pelo curso dos entendimentos políticos, a sucessão do governador Camilo Santana, embora ainda seja ele petista, não passará pelo PT, como não passaram sua eleição e reeleição, sabem muito bem disso todos que, medianamente informados, acompanham a política cearense. O PT municipal, liderado pela deputada Luizianne Lins, também derrotada na disputa municipal passada, tem consciência de que os petistas serão apenas coadjuvantes na disputa majoritária de 2022 no Ceará.

Veja o comentário do jornalista Edison Silva sobre decisão do diretório estadual do PT no Ceará de querer impor aos vereadores de Fortaleza fazer parte da base aliada do prefeito Sarto: