Dia da Mulher Negra (25 de Julho) é uma iniciativa do Senado e homenageia Tereza de Benguela, líder quilombola na Capitania de Mato Grosso (atual estado de Mato Grosso) no século 18. Foto: Wikimédia Commons.

Neste sábado (25) comemora-se no o Dia da Mulher Negra. A data foi estabelecida (Lei 12.987, de 2014) para coincidir com o Dia Internacional de Luta da Mulher Negra da América Latina e do Caribe.

A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) é uma das 11 mulheres na atual legislatura do Senado (13% da Casa) e a única que lidera uma bancada partidária. Para ela, a data é uma oportunidade para que o país discuta meios de superar “injustiças históricas” contra as mulheres negras. Citando estatísticas oficiais, ela lamenta o atual panorama.

“Essa data é de extrema importância. Neste dia 25 de julho há pouco o que se comemorar e muito para se refletir e agir contra essa imensa injustiça social que vivemos no Brasil”, destaca.

Apesar de perfazerem 55% da população feminina do país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres pretas e pardas são 66% das vítimas de homicídio. Os dados são do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Estudo da organização mostra que a taxa de homicídios de mulheres negras cresceu 30% entre 2007 e 2017, índice mais de seis vezes superior ao registrado entre mulheres brancas.

uma pesquisa do IBGE sobre desigualdades econômicas no país indica que mulheres pretas e pardas têm rendimentos equivalentes, em média, a 59% dos rendimentos das mulheres brancas. Já a razão entre os rendimentos de mulheres negras e de homens brancos é a mais desigual registrada na pesquisa: menos de 45%.

Nas redes sociais, a deputada federal e ex-senadora Benedita da Silva (PT-RJ) — uma das primeiras mulheres negras eleitas para uma cadeira do Senado na história do Brasil — afirmou que o mês de julho deve ser usado para “dar voz” às brasileiras pretas, pardas e indígenas, grupo que “movimenta o país”.

“Mesmo sendo a maioria, essas mulheres enfrentam violências cotidianas que estão entranhadas e naturalizadas na nossa sociedade. O espírito de luta está presente em cada guerreira contra o racismo e pela igualdade de gênero”, afirmou ela em postagem.

O prédio do Congresso Nacional homenageia a data projetando sobre a cúpula da Câmara dos Deputados imagens de mulheres negras brasileiras.

Mostra virtual apresenta 27 mulheres que lutaram contra a desigualdade no País Arte: Agência Senado.

Exposição virtual

O Comitê Permanente pela Promoção da Igualdade de Gênero e Raça do Senado lançou a exposição virtual Heroínas Negras e Indígenas do Brasil, em alusão ao dia 25 de julho.

A mostra faz uma homenagem à memória das mulheres negras e indígenas que contribuíram para a construção da história brasileira, de acordo com os organizadores, e faz parte da campanha “Racismo em Pauta”, lançada dia 20/07 pelo Senado.

A exposição apresenta 27 mulheres divididas em três grupos: Mulheres Negras e Indígenas citadas no Livro dos heróis e heroínas da PátriaMulheres Negras no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria — Projetos em tramitação no Congresso Nacional; e Heroínas Negras e Indígenas Populares — Visibilizando outras Mulheres de Luta.

De acordo com os organizadores, parte da seleção das personalidades para a exposição foi pautada no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, também conhecido como Livro de Aço, depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, na Praça dos Três Poderes, em Brasília.

No contexto internacional, comemora-se em 25 de julho o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, fruto do primeiro encontro organizado por elas na República Dominicana em 1992.

História

A primeira senadora negra da história do Brasil foi a médica Laélia de Alcântara (1923-2005), representando o estado do Acre. Baiana de nascimento, ela trabalhou como obstetra, pediatra e professora em Rio Branco (AC) e presidiu o Conselho Regional de Medicina.

Em 1974, Laélia compôs a chapa vencedora da eleição para o Senado com Adalberto Sena, ambos pelo PMDB, e assumiu o mandato em março de 1982, com o falecimento do titular. Ela foi a segunda mulher a ocupar uma cadeira de senadora na história republicana do país. Depois do mandato, foi secretária estadual de Saúde.

O ano de 1994 viu a eleição das duas primeiras senadoras negras que encabeçaram as suas chapas: no Rio de Janeiro, Benedita da Silva, e no Acre, Marina Silva, ambas do PT.

Benedita exerceu quatro anos de mandato e saiu para ser vice-governadora do estado — em 2002, com a renúncia de Anthony Garotinho, se tornou a primeira mulher negra a governar um estado brasileiro.

Marina conquistou uma reeleição em 2002, foi ministra do Meio Ambiente e foi a primeira mulher negra a disputar a Presidência da República, angariando mais de 42 milhões de votos em três campanhas.

A  Lei 12.987/ 2014 que celebra o Dia da Mulher Negra foi uma iniciativa do Senado, assinada pela ex-senadora Serys Slhessarenko (MT). O texto homenageia Tereza de Benguela, líder quilombola na Capitania de Mato Grosso (atual estado de Mato Grosso) no século 18.

Ela era esposa de José Piolho, líder do Quilombo do Quariterê, localizado nas proximidades da capital colonial de Vila Nova da Santíssima Trindade (próxima à fronteira com a Bolívia). Em 1750, com a morte do marido, Tereza assumiu o comando do quilombo e manteve-o independente por 20 anos, até a sua morte, tornado-se ícone da resistência e luta antiescravista.

Fonte: Agência Senado.