O governador Camilo Santana, sem a ocorrência de uma catástrofe até o fim do processo de homologação das candidaturas majoritárias, em agosto próximo, indicará o nome do candidato a vice-prefeito do pedetista escolhido para disputar a sucessão do prefeito Roberto Cláudio, por algumas razões, dentre elas a de justificar o seu envolvimento direto na defesa do nome apresentado pelo PDT para a disputa, em posição adversa de boa parte dos petistas cearenses, quiçá nacionais, por conta do discurso de Ciro Gomes contra Lula. Camilo tem reiterado o seu compromisso com o projeto político liderado por Cid e Ciro Gomes, pelo qual saiu governador e pode ser eleito senador em 2022.

O nome da preferência de Camilo para ser candidato a vice-prefeito, embora publicamente nunca o tenha explicitado, é o do ex-chefe da Casa Civil do seu Governo, Élcio Batista, que também foi chefe de Gabinete ao longo dos quatros anos do primeiro mandato, pessoa com quem mais proximamente conviveu, nos últimos cinco anos, sem ocultar as pretensões de disputar o pleito municipal na Capital cearense. Mas Camilo também exonerou o petista Nelson Martins que, como o Élcio, o acompanha no Governo desde o início do seu primeiro mandato. Esta exoneração tem finalidade diferente da do Élcio, até pelo fato de Martins não ter o mínimo interesse em voltar a disputar mandato. Ele desistiu de uma reeleição de deputado estadual ou de ser candidato a deputado federal, com o apoio de Cid Gomes, de quem foi líder, na Assembleia.

Nelson Martins será espécie de um curinga até o próximo mês de agosto, quando todas as candidaturas aos cargos de vereador, vice-prefeito e prefeito terão que estar homologadas. Se efetivado o projeto dos petistas aliados de Camilo, já exposto neste espaço no dia 29 de janeiro passado, Nelson Martins tanto poderá ser candidato do PT à Prefeitura de Fortaleza, quanto a vice-prefeito, na chapa encabeçada pelo PDT. Uma situação paradoxal. Sim, mas está sendo tentada pelo grupo de Camilo; e ele próprio, desde quando disse para Cid Gomes, ainda no ano passado, que o PT de Fortaleza poderia apoiar o nome apresentado pelo PDT à sucessão de Roberto Cláudio. Depois disso, já neste ano, o seu partido apresentou o nome da deputada Luizianne Lins como candidata à Prefeitura da Capital cearense.

A ideia de demover o PT/Fortaleza de ter candidato próprio, sendo adversário do PDT, consiste em o governador cobrar dos deputados federais José Guimarães e José Airton, a reciprocidade do apoio que eles recebem do Governo do Estado para satisfação das suas pretensões políticas. Os votos que eles têm no diretório municipal, somados aos dos aliados do governador no mesmo colegiado, seriam suficientes para aprovar uma aliança com o PDT, ou, manter a candidatura própria com um nome que não seja o da Luizianne. Nelson Martins, como foi colocado, pode atender a qualquer das duas situações.

Nelson será o candidato a vice-prefeito de um pedetista, no caso da coligação, ou disputará a Prefeitura de Fortaleza, na outra opção, sem causar, no curso da campanha, constrangimentos ao governador e muito menos aos pedetistas. Além disso, tendo o PT como candidato a prefeito o ex-deputado Nelson Martins, nada obsta de Élcio Batista ser o postulante a vice-prefeito na coligação do PSB, a quem está filiado, com o PDT, a chapa governista arquitetada neste momento.

Os dois deputados federais (José Guimarães e José Airton) devem muito ao governador, mas suas vinculações ao comando central do partido, sobretudo a de Guimarães, podem impedir que eles participem dessa articulação, ficando como está a posição do PT de Fortaleza. Talvez Nelson Martins esteja torcendo para assim continuar. Ele sofreria muito figurar como candidato a prefeito sabendo ter sido escolhido apenas para evitar que o seu partido tivesse espaço para fazer oposição a aliados do governador, ficando, além do mais, exposto à execração por parte de correligionários. Na condição de vice, evidente, as adversidades seriam infinitamente menores.

O jornalista Edison Silva comenta sobre o assunto. Veja: