Em fevereiro de 2017 o ex-presidente Lula recebeu a vista de Ciro Gomes e do governador do Ceará, Camilo Santana (PT), no hospital Sírio-Libanês, onde estava internada a ex-primeira-dama, Marisa Letícia, que acabou falecendo. Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula.

Ficou durante muito tempo na capa do UOL, nesta segunda-feira (01), parte de uma entrevista do ex-ministro José Dirceu, um dos expoentes do PT nacional, mesmo após ter sido condenado e cumprido parte da pena pelo seu envolvimento com a Lava Jato, quando ele defende a união de todos os líderes políticos nacionais, inclusive de Lula e Ciro Gomes, contra Bolsonaro, ressalvando, porém, que 2022, quando da disputa presidencial, cada um possa estar com sua candidatura própria, unindo-se, porém, no segundo turno da disputa.

Os argumentos de Dirceu para um trabalho conjunto das principais forças de oposição a Bolsonaro, neste momento em que o País experimenta um dos momentos mais delicados no ambiente político e na saúde pública, são providos de uma certa lógica, mas muito difíceis de serem concretizados. A belicosidade política que assistimos é totalmente inaceitável em qualquer ambiente democrático, por mais divergências possam existir entre as forças políticas que defendem posições opostas nos campos da ideologia e do próprio governar, e reclama entendimento.

Infelizmente, porém, as lideranças políticas nacionais, por razões alheias à Democracia, não são apenas adversárias como deveriam ser na defesa de suas teses e do projeto de poder almejado, são inimigas. Há troca de acusações sérias entre elas. E assim, até mesmo diante de uma situação tão difícil, onde todos precisam dar a sua colaboração na busca da superação dos problemas, a unidade dessas lideranças seria repugnada, pois passaria a ideia de um conluio. Embora na política, repitamos o de sempre, não exista a palavra impossível, unir Ciro e Lula na defesa de uma mesma causa, por mais nobre seja, é muito difícil e inaceitável para muitos brasileiros.

O discurso de Dirceu, no que pese a sua importância no partido, não é o do PT. Os petistas, por ações ou omissões criminosas de algumas das suas principais lideranças, que resultaram em condenações judiciais, ainda acreditam ter o comando das forças políticas mais à esquerda, não aceitam, porém, ser partícipe de movimentos de enfrentamento ao Governo Bolsonaro. Ciro, desde as eleições de 2018, quando foi prejudicado na formação de suas alianças pelo próprio PT, deu um basta na sua relação política com os petistas. E mais, enfatiza sempre o discurso de querer distância do Lula.